A ordem dos fatores não será aqui evidenciada na medida em que todos estão a contribuir para o mesmo: enumerar por que é que o Leicester não deveria ter sido o campeão inglês 2015/16.

Por esta enumeração de várias razões, que pela vitória dos «foxes» são contraditadas, acabamos por (não ficar apenas no plano da negação do improvável, mas também) explicar por que é que tanto se tem falado de um sonho, de um conto de fadas.

Por que é que, então, o Leicester não devia ter sido campeão de Inglaterra?

O pé frio de Claudio Ranieri

O currículo do treinador italiano é prestigiante no que respeita às equipas que comandou. Ranieri orientou Nápoles, Fiorentina, Valencia, At. Madrid, Chelsea, Juventus, Roma, Inter, Monaco. Mas nunca tinha conseguido ser campeão nacional. Os troféus ganhos com equipas de primeiro escalão tinham sido uma Taça e uma Supertaça de Itália (Fiorentina) e uma Taça de Espanha e um Supertaça Europeia (pelo Valencia). Antes do Leicester tinha orientado a seleção da Grécia de onde foi despedido numa campanha humilhante que deixou os helénicos fora do Euro 2016. A figura de perdedor charmoso ganha forma de vencedor improvável.

Ter Vardy como figura improvável da liga

Começou a marcar golos e foi fundamental no arranque com toda a força do Leicester. Saltou para a ribalta (se não antes) ao mesmo tempo que a equipa que se ia mantendo no topo da Premier League sendo notícia por isso. Vardy desatou a marcar golos ainda no final de agosto de forma consecutiva, só interrompendo essa série de concretização em novembro, tornando-se recordista da Premier League com onze jogos seguidos a faturar. Depois daquele que veio a ser agora eleito pelos jornalistas como o melhor do campeonato, vieram mais...

Uma equipa com desconhecidos e veteranos

O plantel com que Ranieri trabalhou para este título misturou uma quantidade de nomes pouco falados em absoluto (como Vardy) com nomes já não tão falados como em outras alturas. O Leicester apresentou-se à Premier League não só sem estrelas invejadas por outros emblemas como juntando àqueles mais desconhecidos outros já sem lugar em clubes de maior nomeada. Trintões como Robert Huth, Christian Fuchs ou Shinji Okazaki juntaram-se a jogadores como Danny Drinkwater, Riyad Mahrez ou Jamie Vardy. A mistura entre estes veteranos e desconhecidos não era a mais atrativa para as esperanças em bons resultados...

O futebol direto que não quer a bola

Parece estar um pouco em contra-corrente em comparação com aquelas equipas que são consideradas como (d)as melhores da Europa (e do mundo) como o Barcelona ou o Bayern Munique, que fazem da posse de bola e do domínio territorial que vão impondo a sua força, deixando pouco espaço para os seus adversários respirarem. O Leicester sempre gostou que fosse (tantas vezes) assim. O futebol direto apoiado na posse de bola do adversário foi por regra uma estratégia assumida por Ranieiri e que deu frutos quando este futebol parece estar entre as exceções para os vencedores. [Como o At. Madrid voltou a vincar nesta terça-feira depois eliminar da Liga dos Campeões o favorito Bayern depois de já ter eliminado o favorito Barcelona.] Fazê-lo, porém, num campeonato inteiro, é uma outra história...

Nos últimos dos mais valiosos

Quando se fala da riqueza ou do poder financeiro do Leicester, estes têm de ser sempre enquadrados dentro da Premier League, ou seja, os valores financeiros do Leicester comparados com clubes de outras ligas não ficam a perder como e comparação com os adversários do mesmo campeonato. Na Liga inglesa, os «foxes» estão nos últimos lugares de uma tabela construída pelo «Sportingntelligence». No 18º lugar entre os clubes da principal divisão, o clube Leicester vale 133 milhões de libras (cerca de 168 milhões de euros. O menos valioso é o (20º) Bournemouth: 104 milhões de libras (cerca de 131,5 milhões de euros). Por aí a cima, os valores vão subido com o Liverpool a já passar os 500 milhões de valor. O Arsenal é o segundo a passar os mil milhões; no topo da tabela dos clubes mais valiosos está o Manchester United: 1,848 milhões de libras (cerca de 2,3 mil milhões de euros.

Nos últimos dos investimentos

O dinheiro investido em contratações no arranque para esta época também deixa o Leicester nos últimos lugares da Premier League. O clube do tailandês Vichai Srivaddhanaprabha gastou apenas 73 milhões de euros à a data de 2 de setembro do ano passado quando em Inglaterra fechou a janela de transferências do verão – o apenas respeita, frisa-se de novo, à realidade inglesa. No topo dos investimentos em contratações no último defeso, segundo o CIES – Observatório do futebol, as equipas de Manchester foram quem investiu mais: o City gastou 560 milhões de euros, o United gastou 533.

Nos últimos dos mais lucrativos

Esta análise respeita aos lucros da época 2014/15 que transitam para os orçamentos da presente temporada em que o Leicester se sagrou campeão. E, também aqui, o clube da região central de Inglaterra está no baixo da classificação. Mas, também novamente, no que respeita ao seu campeonato. Pois, por exemplo, em relação a França, os «foxes» (como a maioria dos ingleses) só perdem para o PSG, cujos lucros foram na ordem dos 480 milhões de euros. Nas tabelas apresentadas no «Football Money League» da Deloitte para este ano, o Leicester teve na última época 137, 3 milhões de euros de receitas. E é o 24º de uma lista de 30 a nível europeu, mas é apenas o 12º contando só com os ingleses, que incluem 17 emblemas nestas três dezenas de clubes referidos.

O peso da história na prova

Desde que há Premier League (1992/93), só o Blackburn Rovers tinha conseguido intrometer-se entre os títulos de Manchester United, Chelsea, Arsenal e Manchester City. O Leicester fê-lo agora à segunda época na principal divisão inglesa depois de mais um longo período pelo segundo escalão (e com uma época no terceiro pelo meio, inclusive). Na época passada, os «foxes» tinham sido o 14º classificado que lutou para não voltar a descer da Premier League. Nesta temporada foram campeões pela primeira vez. O Leicester já tinha conseguido ser vice-campeão uma vez: mas isso foi em 1928/29 (em 1927/28 foi terceiro). Em 1962/62 foi quarto classificado no principal campeonato. A melhor classificação nas oito presenças anteriores na Premier League tinha sido um nono lugar.

Tantos e tão bons adversários

Além dos mais habituados a serem campeões na história mais recente como os dois clubes de Manchester, o Arsenal ou o Chelsea, haveria mais clubes na lista de favoritos como o Liverpool ou a não tão grande surpresa Tottenham (como o Leicester foi) que poderiam estar na luta pelos primeiros lugares e esperar-se que ficassem à frente do 14º do último campeonato. E fala-se só de candidatos históricos (dos últimos anos) ao título de campeão, pois emblemas como o Southampton, o Everton ou o Newcastle, por exemplo, só para citar mais alguns, têm também pergaminhos (mesmo que de numa atual segunda linha) na competição. Pois bem, contra tantos históricos, o Leicester, até agora, perdeu três jogos na liga inglesa: os dois com o Arsenal e em casa do Liverpool – nas duas jornadas que faltam ainda resta uma visita a casa do Chelsea.

Era mais provável Bono ser Papa

No mundo imenso que são as apostas em Inglaterra, as probabilidades de o Leicester ser campeão eram ínfimas ao ponto de uma libra (1,2 euros) apostada valer 5.000 caso os «foxes» ganhassem mesmo a liga. Estas odds de 5000/1 da casa de apostas Ladbrokes foi publicitada a tal ponto não só pelas fortunas que algumas pessoas irão agora receber como pelo inesperado para quem fez a odd. Pois, no início da temporada, havia outras improbabilidades que custavam bem menos à casa de apostas. A 2500/1 estavam as hipóteses de David Cameron substituir Tim Sherwood no Aston Villa ou Piers Morgam ocupar o lugar de Arsène Wenger no Arsenal. Para outras casas de apostas era mais fácil o vocalista do U2 Bono ser eleito Papa ou Kim Kardashian tornar-se presidente dos Estados Unidos, pois pagavam 2000/1...