A montanha-russa que tem sido a época para Liverpool e Manchester United redundou em algo nunca visto em 130 anos de rivalidade entre os dois clubes. Sete-zero, a maior goleada da história do clássico do futebol inglês, um recorde negativo para o United, a mais pesada derrota dos «Red Devils» desde que a Premier League é Premier League. O dia 5 de março de 2023 entra direitinho para a galeria dos maiores choques de sempre. Apesar de todos os grandes do futebol inglês terem a sua conta de derrotas copiosas ao longo da história. Vamos a elas.

Antes disso, o 7-0 deste domingo. Ele iguala em absoluto as maiores derrotas de sempre do Manchester United em qualquer competição. Foram três, todas há perto de 100 anos: em 1926 frente ao Blackburn, em 1930 frente ao Aston Villa e um ano mais tarde, na segunda divisão, com o Wolverhampton. 

Há ainda uma vitória do Liverpool por seis golos nesta história, essa com 128 anos: em outubro de 1985, um triunfo por 7-1 quando o United ainda se chamava Newton Heath – só assumiu a designação atual no início do século XX. 

Na era Premier League, as piores derrotas do United antes deste domingo eram dois desaires por 1-6 - um frente ao Manchester City, em 2011, e outro frente ao Tottenham, em 2020. 

Liverpool, um recorde depois de outro no clássico

Esta é a segunda época consecutiva em que o Liverpool consegue uma vitória de recorde no clássico com o United. O 5-0 em Old Trafford em outubro de 2021, com Bruno Fernandes, Cristiano Ronaldo e depois também Dalot em campo nos «red devils», num jogo em que Salah apontou um hat-trick e Diogo Jota também marcou para o Liverpool, representou a derrota mais pesada de sempre do United em casa frente ao arqui-rival. Na segunda volta, o clássico em Anfield terminou com nova goleada. Ainda na luta pelo título nesse duelo de março de 2022, o Liverpool venceu por 4-0. E Salah voltou a deixar marca, com mais dois golos.

O egípcio, que brilhou e fez história agora na goleada ao United, tornando-se o maior marcador de sempre do Liverpool na Premier League, apontou 12 golos em 12 confrontos com o Manchester United, oito deles nas duas últimas épocas.

Para a troca, nesta contagem de vitórias recorde, o United tem dois triunfos por cinco golos de diferença no clássico com o Liverpool, ambos também muito antigos: um 6-1 em 1928 e um 5-0 em setembro de 1946. Na era Premier League, a maior vitória do United foi um 4-0 em abril de 2003. Van Nistelrooy bisou e Giggs e Solskjaer apontaram os restantes golos, na caminhada dos «red devils» para a conquista do título nessa época.

9-0, o segundo marco histórico da época para os «Reds»

Curiosamente, apesar de estar a fazer a época mais irregular desde que Jurgen Klopp chegou, o Liverpool já tinha igualado esta temporada outro recorde goleador, o da maior vitória na era da Premier League. A 27 de agosto de 2022, por sinal cinco dias depois de terem perdido em Old Trafford (2-1), os «reds» conseguiram a primeira vitória da temporada na Premier League à 4ª jornada, com uma goleada ao Bournemouth por 9-0 em que até o português Fábio Carvalho marcou.

O Liverpool igualou então um resultado que aconteceu por quatro vezes em 30 anos de Premier League, três delas aliás nas últimas cinco épocas. O Manchester United conseguiu-o por duas vezes.

A primeira foi em março de 1995 frente ao Ipswich, na caminhada do United para o título, num jogo que ficou famoso também pelos cinco golos apontados por Andy Cole. Esse resultado de 9-0 voltou a acontecer em outubro de 2019, quando o Leicester, com Ricardo Pereira no onze, foi ao Estádio St Mary’s vencer o Southampton com dois hat-tricks, um de Jamie Vardy e outro de Ayoze Pérez. Essa é até hoje a maior vitória fora da história da Premier League.

O Southampton voltou a sofrer uma goleada pelo mesmo resultado na época seguinte, agora aplicada pelo Manchester United. Nesse 9-0 de 2 de fevereiro de 2021 apenas Martial bisou. Os golos foram divididos por oito jogadores, entre eles Bruno Fernandes, que aliás seria eleito homem do jogo.

Esse resultado de 9-0 representa um recorde na era Premier League, portanto desde 1992/93. Se olharmos para todo o histórico da primeira divisão inglesa, o resultado mais dilatado é 12-0 e aconteceu por duas vezes, já lá vai mais de um século: numa vitória do West Bromwich Albion sobre o Darwen em 1892 e noutra do Nottingham Forest sobre o Leicester, que ainda se chamava na altura Leicester Fosse, em 1909.

Os embaraços históricos do Liverpool

A propósito do descalabro do United, olhemos para os outros grandes de Inglaterra. O Liverpool sofreu a maior goleada da sua história em 1954, na segunda divisão, um 1-9 frente ao Birmingham City. Na era Premier League, sofreu por três vezes derrotas por cinco golos de diferença. Uma delas deu-se no último jogo antes da chegada de Jurgen Klopp: a 24 de maio de 2015, Brendan Rodgers despediu-se do banco com um embaraçoso 1-6 na visita ao Stoke City, a selar o sexto lugar dos «reds» nesse campeonato.

Em setembro de 2017, o terceiro confronto em Inglaterra entre Jurgen Klopp e Pep Guardiola terminou com aquela que foi a primeira vitória do treinador catalão, em modo épico: o Manchester City venceu os «reds» por 5-0, numa época em que terminaria campeão.

Mais louco ainda foi o 7-2 de outubro de 2020 com que o Aston Villa, então a fazer um grande arranque de temporada, brindou o Liverpool. Ollie Watkins fez um hat-trick, Salah apontou os dois golos dos «reds», mas um bis de Jack Grealish fechou a goleada dos Villains.

8-2 em Old Trafford, marco negro do Arsenal

Vejamos agora o Arsenal, o atual líder da Premier League. Os «Gunners» contabilizam quatro derrotas por 7-0 noutros tempos, todas nas primeiras três décadas do século XX, frente a Blackburn, West Bromwich, Newcastle e West Ham. Mas têm outros marcos negros na era Premier League. Entre todos, o 8-2 em Old Trafford, em agosto de 2011.

Já não se vivia a era de ouro da grande rivalidade entre Arsenal e Manchester United, com os «Gunners» há várias épocas longe dos títulos, mas ainda estavam nos bancos os históricos treinadores das duas equipas, Arsène Wenger e Alex Ferguson. E nada fazia antever a loucura daquele jogo com dez golos e uma vitória esmagadora do United. Nesse duelo da 3ª jornada da Premier League, Rooney apontou um hat-trick e Nani também fez o seu golo. No fim quem riu foi o Manchester City, campeão nessa temporada.

Três épocas mais tarde, o Arsenal voltou a perder um jogo por seis golos de diferença: 6-0 frente ao Chelsea, que tinha então de novo José Mourinho no banco.

Um 6-0 do City ao Chelsea…

Vamos então ao Chelsea. Em absoluto, a pior derrota de sempre dos Blues aconteceu em 1953, numa visita ao Wolverhampton, que venceu por 8-1. Na era Premier League, o resultado mais pesado é recente e aconteceu frente ao Manchester City. Em fevereiro de 2019, um «hat-trick» de Aguero embalou os Citizens para uma vitória por 6-0 frente ao Chelsea, que tinha então Maurizio Sarri no banco. Nessa altura o City ainda perseguia o Liverpool, na época em que acabaria mesmo por revalidar o título.

…um 6-0 ao contrário e os Citizens num oito

E por fim o Manchester City. Durante muitos anos, os azuis de Manchester não se batiam com as potências do futebol britânico. E desses anos trazem um longo lastro de derrotas copiosas, que vão de um 2-10 em 1893 frente ao Small Heath – o predecessor do Birmingham – a um 1-9 com o Everton, em 1906. E depois, avançando muito para a frente, para os tempos da Premier League, há uma época particularmente penosa nesse aspeto. Foi aliás a última antes da chegada dos petrodólares e ficou marcada por duas derrotas históricas.

Em outubro de 2007, o City de Sven-Goran Eriksson foi a Stamford Bridge e saiu de lá com uma derrota por 0-6 frente ao Chelsea de Avram Grant, que tinha substituído José Mourinho semanas antes. Mas a época não terminou sem uma humilhação ainda maior: na última jornada, o City perdeu no terreno do Middlesbrough por 1-8, a pior derrota na era Premier League, a selar o nono lugar no último jogo de Eriksson no banco.