Crawley Town-MK Dons, 24ª jornada da League One. Brian Jensen, guarda-redes da equipa da casa, lesiona-se gravemente. No banco, Dean Saunders, antigo avançado do Benfica, não tem mais nenhuma opção para a baliza. E agora?

«Chamaram logo por mim. És grande, tens de ser tu a calçar as luvas!».

Matt Harrold, avançado de 30 anos, começa a escrever a tarde mais louca da carreira por culpa desses 187 centímetros de altura.

Faltam 50 minutos para o fim, tanto tempo. O Crawley está a vencer por 1-0. O MK Dons começa a bombardear a área adversária com cruzamentos atrás de cruzamentos. É só mais um domingo qualquer no aguerrido terceiro escalão do futebol britânico.

Harrold, ainda por cima, não tem qualquer experiência na exigente função. «Nunca tinha sido guarda-redes. Nem nos treinos. É um bocado embaraçoso toda esta atenção. Tive de ser guarda-redes para receber um prémio de Melhor em Campo».

Vídeo: o Crawley joga de vermelho, Harrold é o guarda-redes de preto



É isso mesmo. O atacante faz grandes defesas, algumas impossíveis, e adia até ao limite a reação do MK Dons. A 15 minutos do fim, o Crawley vence por 2-0.

«Entrei nervoso e comecei a ganhar confiança. No segundo tempo senti-me confortável e agarrei muitas bolas altas. O pior veio no fim. Foi quase como jogar com dez porque a equipa quis proteger-me e recuou».

A tarde de heroísmo é abalada pelos dois golos do MK Dons. O segundo já seis minutos depois dos 90. Matthew Harrold nada por fazer, a não ser lamentar. Atrás de si, até ao apito final, está sempre Brian Jensen, o guarda-redes lesionado.

«Ficámos devastados mas, sejamos sinceros. Quando eu fui para a baliza, se nos oferecessem um ponto, e o empate, nós aceitávamos logo».

Dean Saunders, treinador interino do Crawley Town e jogador do Benfica na época 1998/99 (19 jogos e cinco golos), apresenta outras queixas: «O árbitro deu cinco minutos de descontos e jogaram-se seis. Estava tanta gente na área que uma das bolas acabou por entrar».

Saunders considera «inacreditável» que o clube só tenha um guarda-redes. Continuará Matthew Harrold a sacrificar-se na baliza? O próprio responde através do twitter.
  Em Portugal, o exemplo do antigo atacante de Wycombe, Shrewsbury e Bristol Rovers encontra paralelo numa noite inesquecível de Paulo Sousa. O atual treinador do FC Basileia, na altura a jogar no Benfica, é obrigado a assumir o posto de keeper.

10 de abril de 1993, minuto 73 do Boavista-Benfica, Nélson Bertolazzi isola-se e é derrubado por Neno. Cartão vermelho para o número um do Benfica, substituições esgotadas e Paulo Sousa vai defender as redes.

Sofre o golo de penálti, apontado por Artur, mas depois segura a vantagem do Benfica até ao fim: 2-3 no Bessa.

 

Já na presente temporada, outro nome se destaca em Paços de Ferreira. Giovani Rosa, avançado do Vitória Setúbal (entretanto já não está no Bonfim), vê Ricardo Batista a ser expulso e diz de imediato a Domingos Paciência que quer assumir o risco. 

31 minutos entre os postes e três golos sofridos. Domingos faz a terceira substituição aos 52 minutos, pouco antes de Ricardo Batista ver, de forma muito injusta, o cartão vermelho.

Para terminar, mais três histórias, noticiadas pelo Maisfutebol em tempo devido:
. Diego, do Palmeiras B, já tinha feito dois golos e marcou mais um quando já estava na baliza. Uma recordação incrível!
. Tom Huddlestone, do Hull City, esteve alguns minutos a defender o ataque do Crystal Palace e não sofreu golos.
. Finalmente, o truculento Felipe Melo: no Galatasaray, o médio até defendeu um penálti!

Quem não gosta de histórias assim?