O ex-futebolista internacional brasileiro Cafu admite que prefere um compatriota para substituir Tite no comando da seleção do Brasil após o Mundial2022, mesmo sabendo do lastro deixado pelos treinadores portugueses no país.

«Para ser sincero, acho que um técnico português não assumiria esse cargo. Não porque não queiram ou fossem capazes, mas penso que temos de deixá-lo para um treinador brasileiro. Fomos pentacampeões mundiais com cinco treinadores brasileiros e somos a equipa a ser batida. Temos conquistado títulos e somos vistos como uma das melhores seleções no mundo», sublinhou o ex-defesa, de 51 anos, em entrevista à agência Lusa.

Tite admitiu em fevereiro que vai deixar o cargo após o Campeonato do Mundo, prova em que o Brasil é totalista em presenças, vai para a 22.ª, e hegemónico em títulos (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002), e Cafu defende que o sucessor deve ser brasileiro, como sempre aconteceu até agora.

«Se os portugueses são grandes treinadores? São. Acho que precisam também de fazer história na seleção do seu país. Portugal ainda não foi campeão mundial. Está aí uma oportunidade para dois grandes treinadores como Abel Ferreira e Jorge Jesus fazerem história na seleção portuguesa», considerou Cafu, bicampeão em 1994 e 2002.

Seduzidos pelo sucesso de Jorge Jesus no Flamengo (2019-2020), os clubes brasileiros elevaram a aposta em treinadores lusos, sendo que Abel Ferreira comanda há cerca de um ano e meio o Palmeiras, emblema que o ex-lateral direito representou.

«O futebol é aberto a todo o mundo. O Jorge Jesus fez um trabalho fantástico e levou o Flamengo a ganhar o campeonato e a Taça dos Libertadores e a chegar ao Mundial de clubes. Deixou a sua marca como grande treinador no Brasil, ganhou cinco títulos e tudo isso fez com que outros técnicos também viessem para cá», recorda.

Jesualdo Ferreira (Santos, 2020) e António Oliveira (Athletico Paranaense, 2021) já deixaram o Brasileirão, enquanto Paulo Sousa, Vítor Pereira e Luís Castro encaram a temporada de estreia ao serviço de Flamengo, Corinthians e Botafogo, respetivamente.

«Acho boa essa interação de trazer treinadores para trabalhar em clubes no Brasil, tal como os treinadores brasileiros também foram para clubes fora do seu país. O mundo modernizou-se bastante e os brasileiros foram à procura dos melhores. Esses dois treinadores [Abel Ferreira e Jorge Jesus] fizeram a diferença no Brasil», admite Cafu.

Sobre Abel, que conquistou duas Taças dos Libertadores (2020 e 2021), uma Taça do Brasil (2020) e uma Supertaça sul-americana (2022) pelo ‘verdão’, o ex-internacional brasileiro só tem palavras elogiosas.

«Não me surpreendeu o sucesso dele. Quando chegou ao Brasil, conversámos bastante no centro de treinos do Palmeiras. Disse-me que tem um quadro meu gigante em casa e eu era uma das suas referências. É uma pessoa muito estudiosa e tudo o que lhe está a acontecer não é por acaso. Existe um grupo por detrás disso para fazer com que chegue ao êxito da maneira que chegou», finalizou.

Marcos Evangelista de Morais, conhecido no mundo do futebol por Cafu, é recordista de internacionalizações pela seleção do Brasil, ao serviço da qual fez 142 partidas e cinco golos, bem como o único jogador a disputar três finais de Mundiais (1994, 1998 e 2002).

O ex-defesa brilhou no São Paulo (1990-1994) e nos italianos da Roma (1997-2003) e do AC Milan (2003-2008), acumulando no palmarés duas Taças dos Libertadores (1992 e 1993), duas Taças Intercontinentais (1992 e 1993) e uma Liga dos Campeões (2006/07).