Os melhores marcadores da Serie A são vizinhos. Um deles joga na Juventus e não precisa de ser apresentado: é Carlos Tevez. O outro é bem mais improvável: Ciro Immobile, do Torino. Ciro assinou neste fim de semana frente ao Livorno o primeiro «hat-trick» da sua carreira, que não é muito longa, e passou a somar 16 golos em 29 jogos. Em março o avançado que há ano e meio jogava na Série B entrou na órbita da seleção, agora reforça a candidatura a um lugar entre os 23 «Azzurri» para o Mundial 2014.

Pode ser a grande novidade da Itália, que gosta destas surpresas. Uma revelação à Toto Schillaci, o avançado siciliano que até pouco antes do Mundial 1990 era um perfeito desconhecido, mesmo no seu país, e que uma época de sonho na Serie B, com o Messina, catapultou para a Juventus. Aproveitou a lesão de Casiraghi, seu companheiro de ataque na Juve, para ser chamado à última hora pelo selecionador. 

Chegou à fase final do Mundial sem ter feito um único jogo pela seleção. Saiu do banco no primeiro jogo do Mundial, marcou e fez um campeonato de sonho, que acabou com o título de melhor marcador do Itália 90. Toto já falou ao Maisfutebol sobre esse seu verão de sonho. 

Como Toto, Immobile brilhou na Serie B. Mas a sua notoriedade chegou um pouco mais cedo. Nasceu há 24 anos em Torre Anunziata, uma cidade na região de Nápoles, aos pés do Vesuvio, numa família muito numerosa. Muito mesmo. Ele já vai mostrá-la, lá à frente. 

Ciro começou a jogar perto de casa e foi nas camadas jovens do Sorrento, ainda na região napolitana, que que fez a formação. Foi lá que a Juventus o descobriu. Com 18 anos ruma a Turim, onde ganha apenas algumas chamadas esporádicas à primeira equipa do gigante italiano. 

Segue-se um empréstimo ao Siena, onde também não se afirma e, no meio dessa época 2010/11, nova mudança, para o Grossetto, também na Serie B. Aí consegue jogar com mais regularidade, mas não consegue ganhar ainda a confiança da Juventus.

A época que muda a sua carreira vem a seguir. Em 2011/12 ruma ao Pescara, marca na primeira jornada e só para aos 28 golos, batendo o recorde do clube de golos marcados numa época, e com a promoção à Serie A assegurada. 

O treinador do Pescara era, curiosamente, Zdenek Zeman, o italo-checo que estava no Messina na tal temporada que descobriu Toto Schilacci. E ao lado de Immobile no plantel estavam outras promessas do futebol italiano: o extremo Lorenzo Insigne, que já era do Nápoles, e o médio Marco Verratti, agora no PSG. 

Todos eles deram o salto depois dessa temporada no Pescara. Mas para Immobile as coisas não funcionaram logo. Em janeiro de 2012, quando ainda estava no Pescara, a Juventus vendeu metade do seu passe ao Génova, por quatro milhões de euros. Foi lá que jogou a temporada 2012/13, mas não confirmou as expectativas: fez 34 jogos, mas ficou-se pelos cinco golos.

A Juve recuperou a totalidade do seu passe no verão passado, mas ainda não foi desta que apostou nele. Fez novo negócio, agora incluiu-o no negócio da contratação de Angelo Ogbonna e passou a dividir o passe com o vizinho de Turim, que pagou cerca de dois milhões de euros.

No verão de 2013 jogou com a Itália o Europeu sub-21, marcou um golo na final perdida com a Espanha.
Começou bem a época no Torino, que foi construindo uma boa temporada ao ritmo dos seus golos e da sua combinação com Alessio Cerci, outra jovem promessa da equipa. Chama a atenção de Cesare Prandelli, mas apenas na reta final da época que desembocará no Campeonato do Mundo. 

Em março estreou-se em convocatórias, chamado para o particular com a Espanha, numa altura em que não havia Balotelli nem Rossi. Saiu do banco aos 68 minutos no encontro que a «Roja» venceu por 1-0. 
 
O Torino é uma das boas surpresas da época em Itália. Agora vinha de uma série de maus resultados, que coincidiu com confrontos frente a Inter, Nápoles e Juventus. Voltou às vitórias frente ao Livorno, numa história que se escreve com um só nome, o de Ciro Immobile.

Marcou o primeiro golo, de cabeça, aos 24 minutos. De caminho fez história, foi o golo 3000 do «Toro» na Série A. Apontou mais dois em sete minutos na segunda parte, com o hat-trick passou a somar 16 golos na Serie A e passou Carlos Tevez na lista dos melhores marcadores. Desde 1976/77 que nenhum jogador do Torino leva o título de «capocanniere» da Serie A.

Saiu aos 77 minutos, para a ovação do Olímpico. «Foi fantástico. Nunca tinha marcado um hat-trick, nem no Pescara», disse no final, levando a bola para casa, debaixo do braço: «Fico com esta bola por todos os sacrifícios que fiz este ano, junto com.o mister e a equipa.»

Dedicou a noite de glória à sua família, aos pais, aos dez irmãos e a todos os que se juntam à mesa. Muitos mesmo. No Natal passado, Ciro partilhou numa rede social esta foto da consoada em família:

Ciro quer mais. «Este ano quero mostrar de que massa sou feito, depois de uma época como a do ano passado», disse, ele que tem o futuro em aberto para a próxima época. A Juventus diz que está atenta à sua evolução, também já foi dado como alvo de alguns dos grandes da Europa, a começar pelo Borussia Dortmund. Immobile, que em tempos se confessou adepto do Nápoles, espera. Para já, tem o olhar fixo no Campeonato do Mundo, daqui por três meses: «O selecionador conhece-me e sabe quanto me dedico todos os dias e em cada treino.»