O PSG vai receber o Real Madrid para os quartos de final da Youth League na próxima terça-feira e requereu pela primeira vez aos jornalistas que solicitassem acreditação para o jogo. O motivo tem um nome: no Real Madrid vai jogar Enzo. Enzo Fernández como nome de «guerra», o apelido da mãe e não o do pai, de propósito para aliviar o peso do nome Zidane.

Sem grande sucesso. Enzo é o filho mais novo de Zinedine Zidane e tudo o que lhe diz respeito ganha dimensão. Foi assim esta semana em França, quando se estreou numa seleção gaulesa. Era um estágio dos sub-19 sem competição, que incluiu apenas exames médicos e um jogo-treino, mas tornou-se mais que isso por causa da presença do jovem médio de 18 anos, perto de completar 19.

Ele também tem nacionalidade espanhola e podia ter optado por representar a «Roja». Mas escolheu a França, pelo menos para já. Foi o que começou por explicar Willy Sagnol, atual responsável pelas seleções francesas: «O jogador decidiu usar a camisola azul. Ainda pode mudar no futuro, mas o seu desejo atual é jogar pela seleção francesa.»

Zidane fez sempre questão de tentar poupar Enzo ao peso do seu nome. E terá o apoio da estrutura da Federação francesa, onde estão aliás vários dos seus antigos companheiros nos Bleus. A começar pelo selecionador da equipa principal, Didier Deschamps, que esta semana foi questionado sobre a chamada de Enzo a uma seleção gaulesa, e respondeu assim: «Acho que o melhor é deixarem-no em paz. Acho que precisa sobretudo disso. Ele tem um nome, mas não é a história do pai dele. Penso que o Zizou está de acordo comigo. Faz parte de uma seleção de sub-19. Não há que fazer um caso à parte. Deixemo-lo fazer a sua vida. É um jogador entre outros, com um nome mundialmente conhecido. O Zizou fez a sua vida, a sua carreira dele e o Enzo fará a sua. Não é fácil quando se é filho de alguém, sobretudo de Zidane. Mas quanto menos barulho fizermos melhor será para ele.»

Apesar do discurso prudente, a Federação francesa respondeu à curiosidade em torno de Enzo divulgando um resumo desse jogo-treino entre os 20 jogadores convocados para o estágio dos sub-19, na terça-feira. Enzo é o número 6:



O Real Madrid também tem protegido Enzo dos holofotes. O clube promoveu-o esta época ao último escalão da formação, mas sempre sem alimentar expectativas públicas. Como neste comentário de Fernando Morientes, o atual treinador de Enzo, também ele ex-companheiro de Zidane no Real: «Não é por ser filho de uma estrela que é difícil de treinar. Ele não tem pressão do clube. É um rapaz humilde e muito trabalhador.»

Quanto a Zidane, diz que olhou para a presença de Enzo na seleção como mais um pai, babado. «Estou orgulhoso por ele poder usar esta camisola pela primeira vez. Ele também queria muito. Acho que merecia. Não porque se chame Zidane, mas porque faz coisas bonitas em campo», disse Zizou à RMC: «Por isso estou contente por ele, porque ele estava encantado por ter sido convocado. Estou orgulhoso, como o meu pai estava por mim, quando tive a minha primeira chamada à seleção. Falo como pai.»

Tudo o que diz respeito a Zidane e, por arrastamento, à sua família, mexe com muita gente. Este vídeo de 2007, em que o pai Zizou jogava futebol no quintal com os três filhos mais velhos, tem mais de dois milhões de visualizações:



Por falar neles, estão todos no Real Madrid, a cumprir a formação para se tornarem jogadores de futebol. Os quatro filhos de Zidane e Verónique. Além de Enzo, também Luca, Theo e Eliaz. A seguir pode ver a página de cada um deles no site oficial do Real Madrid. Todos os jogadores das camadas jovens têm uma. Descreve como jogam, tem uma auto-definição. No caso da família Zidane, refere sempre que cada um deles tem três irmãos a jogar no clube, sem nunca dizer de quem são filhos.

Primeiro Enzo, claro



A seguir, Luca.  

Tem 15 anos e joga a guarda-redes nos Cadetes A do Real Madrid. Foi uma questão de hierarquias, contou uma vez Zidane ao jogador argelino «Le Buteur»: «Em casa, quando jogávamos com o Enzo, o Luca ia para a baliza. O mais velho escolhe, por isso o Luca ia para a baliza. E um dia ele disse-me que gostava, que queria ser guarda-redes.»



Veja também um vídeo de Luca em ação



Depois há Theo, 11 anos, médio criativo que tem como ídolo Cristiano Ronaldo



E, desde o verão passado, Eliaz, 8 anos, a apresentar-se com uma frase que podia ter sido dita pelo pai:



Se Enzo já está na fase final da formação e tem revelado talento, bem como regularidade - fez cinco partidas esta época -, ainda é cedo para perceber onde chegará. Mais ainda onde chegarão os seus irmãos mais novos. Mas qualquer um deles já deve ter percebido que não é fácil ser filho de uma mega-estrela e querer ser jogador de futebol. 

Que o digam Jordi ou Edinho.

O filho de Johan Cruijjf, que também evitou sempre usar o apelido na camisola, fez uma carreira completa que passou pelo Barcelona, pelo Manchester United, por vários clubes espanhóis e acabou em Malta, mas nunca chegou nem perto do talento do pai. Hoje diretor do Maccabi Telavive, o clube treinado pelo português Paulo Sousa, Jordi resumiu tudo um dia com esta ideia: há 99 por cento de mortais, onde ele se incluia, e 1 por cento de lendas, como Johan.

Ou Pelé. O filho mais velho do «Rei», Edinho, também quis ser jogador. Foi guarda-redes mediano, andou em más companhias, viu-se envolvidos em vários casos de polícia. Hoje faz parte do quadro de treinadores de guarda-redes do Santos. Pelé tem outro filho, de uma fase tardia da sua vida. Chama-se Joshua, tem 17 anos e também quer ser jogador, está nas camadas jovens do Santos. Também ele é notícia, para já, apenas por causa do apelido.