O discurso prende o olhar, a emoção na voz capta a atenção. O diretor desportivo do Leeds United, Victor Orta, marcou presença na quinta edição do World Scouting Congress para debater o tema «Visão para uma gestão estratégica no futebol» juntamente com Joel Pinho (Arouca) e com Gustavo Grossi (Internacional).

Ao longo das suas intervenções, o espanhol partilhou várias histórias que viveu ao longo da carreira, construída em clubes como Sevilha, Elche, Zenit e Middlesbrough. Foi após uma questão colocada por um membro da plateia acerca da forma como se poderia minimizar o risco psicológico da contratação de um atleta que Orta lembrou um episódio que viveu no Sevilha e que envolveu Arouna Koné, avançado da Costa do Marfim.

«Contratámos o Koné, um avançado que na altura foi a transferência mais cara da história do Sevilha. O Juande Ramos já tinha o Luís Fabiano e o Kanouté e queria um avançado mais móvel. Fizemos toda a análise, falámos com pessoas e decidimos que era o Koné que queríamos. Ele chegou e nessa altura, morreu o Puerta. O clube entrou num momento trágico. Ainda assim, ele marcou na estreia na Liga e na Champions. Depois teve quatro anos no Sevilha e mais tarde emprestado em que quase não marcou golos», começou por contar.

«Fizemos tudo o que podíamos para o apoiar. Trouxemos três dos seus inúmeros irmãos para as equipas inferiores do Sevilha, oferecemos-lhe terapia, aulas de espanhol, enfim tudo. A dois dias de fechar o mercado, o Levante ofereceu pagar 25 por cento do seu salário. O Monchi disse que deveríamos incluir uma cláusula no contrato: se ele marcasse 15 golos, renovaria automaticamente contrato com o Sevilha. Marcou 14 golos, um deles contra o Sevilha que deixou a equipa fora das provas europeias. Liguei a um jogador do Levante e perguntei o que é que se tinha passado com o Koné, ele disse-me não tinha acontecido nada. 'Não fala muito bem espanhol, mas metemos-lhe a bola e ele marca golos'. O que é que o Sevilha fez de mal? São pessoas que têm sentimentos e cujas vidas podem mudar num segundo. Os clubes não vão estar 24 horas com os jogadores. Tentámos minimizar o risco psicológico, mas ele existe sempre. E temos de o aceitar», acrescentou. 

Ben White, defesa que atualmente joga no Arsenal, foi outro dos jogadores referidos por Victor Orta. «Falam-me muitas vezes da situação do Ben White. Foi uma das melhores situações que vivi. Ele só tinha jogado na League Two e na League One. Na primeira ação que ele teve no Leeds, deu um toque na bola e esteve fugiu-lhe. O avançado do Bristol prepara-se para chegar à bola e um segundo antes, o White consegue mudar de flanco e a jogada quase dava golo. Cinco mil adeptos levantaram-se e ele ganhou confiança. Se ele acertava no jogador adversário e era expulso, se calhar não estava onde agora está. Foi o melhor jogador dessa época. A questão é: é possível antecipar as coisas quando há circunstâncias que não somos capazes de prever? O importante é ter método, o resto...», concluiu.