Alípio chegou a ser um fenómeno. Foi contratado pelo Rio Ave muito cedo e transferiu-se para o Real Madrid quando tinha 16 anos. Em Espanha dizem que o clube madrileno o preferiu em vez de Philippe Coutinho.

No entanto e a partir daí, a vida de Alípio tornou-se um calvário. Foi o próprio quem o revelou em entrevista à Marca.

«Quando o Real Madrid me contratou, eu sabia que tinha uma tendinite em fase inicial no joelho direito. Em Madrid não me trataram, deixaram-me sozinho. Fui eu fiz que fiz o meu tratamento, usei antiinflamatórios que eu comprava», contou.

«Não podia jogar como se esperava e então apareceu o Benfica, que se ofereceu para me ajudar com a lesão. Tentei recuperar-me no clube e recuperar sem ter de passar por uma cirurgia. Mas a tendinite tinha-se desenvolvido e decidimos operar-me ao joelho direito. Dois meses depois lesionei-me no ligamento cruzado do outro joelho. Fui operado.»

As lesões marcaram a passagem de Alípio pelo Benfica e o avançado acabou por ser emprestado a um clube do Chipre.

«Após a segunda operação eu queria parar de jogar. Estava desapontado com muitas pessoas. Mas esta oportunidade do Chipre surgiu e eu fui. Tive problemas com o treinador e fui para a Grécia. Na Grécia tive muitas dificuldades de adaptação por causa da língua, entrei em depressão, fui a um psicólogo e decidi deixar o futebol», acrescentou.

«Vim para Brasília para estudar e trabalhar, mas uma pessoa conhecida que tinha contactos convenceu-me a ir para um clube pequeno, o Luverdense. Aí voltei a jogar. Então transferi-me para o Vitória da Bahia, em 2016, e em 2017 fui para o Atlético Goianiense, da primeira divisão. Joguei na primeira metada da época e depois fui para o Vila Nova, da Série B. Aí estive bem e depois transferi-me para o Fortaleza.»

Para Alípio, grande parte do problema foi não ter tido apoio familiar, ou de amigos que compensassem essa ausência, numa altura em que ainda era muito novo: tinha apenas 16 anos.

«Estava num bom momento, tinha mostrado que podia jogar a um nível alto, mas com a lesão impediu-me de me desenvolver fisicamente. Estava sempre um passo atrás. Isso gerou frustração. Eu sou órfão de pai e de mãe. A minha mãe morreu quando tinha 10 anos e não conheci meu pai. Acho que se eu tivesse um pai ou uma mãe para me dizer o que era melhor,  para pressionar o Real Madrid para me ajudar no tratamento, tudo poderia ter sido diferente», revelou

«Tanto o clube quanto os empresários sempre me forçaram a jogar lesionado. Por isso, e depois do que aconteceu comigo, sou contra as transferências de jogadores numa idade tão jovem. Em Espanha, o meu mundo era apeans o futebol. Não tinha família nem amigos. Vivi para o futebol e o futebol não me fez feliz. Uma equipa não pode comprar um jogador e esperar que ele se adapte sozinho, é preciso ajudá-lo fora do campo.»

Apesar de tudo, Alípio diz que não guarda mágoa nenhuma ao empresário Jorge Mendes, que o descobriu adolescente no Brasil, o trouxe para Portugal, o levou para o Real Madrid e depois para o Benfica.

«Não o culpo de nada. Fui para Portugal porque ele é um bom empresário. Naquela altura tinha muitas propostas de bons clubes do Brasil. Ele estava interessado em trabalhar comigo porque via potencial e talento em mim. Não o responsabilizo por nada. O papel de um pai ou de uma mãe não pode ser colocado nas costas deles. Acabámos a nossa ligação de bem um com o outro. Não lhe guardo rancor e não o culpo por nada.»

Uma coisa nesta altura é certa: Alípio dificilmente volta à Europa para jogar futebol.

«Só se for por algo que possa mudar a minha vida. Não deixo o Brasil por algo semelhante ao que posso ter aqui. Na Europa perdi parte da minha paixão pelo futebol. Mas entretanto as coisas mudaram. O facto de ter casado e de voltar a jogar no meu país ajudou-me. Hoje gosto novamente do futebol.»