Tornou-se uma das figuras do Athletic Bilbao, bandeira do País Basco, mas o peso da camisola e a falta de confiança fizeram com que esse privilégio fosse dominado pelo medo.

Em entrevista ao «Relevo», Ibai Gómez revela que, a dada altura, tornou-se um sacrifício sair de casa.

«Até me custa contar. Há vários meses que estava a perder protagonismo, e de repente chega a oportunidade. Passava a noite toda sem dormir por saber que ia jogar no dia seguinte. Tinha medo. Estava na ala e termia por todos os lados cada vez que recebia a bola. Imagina jogar um encontro da Liga espanhola depois de ter dormido apenas uma hora e meia, sem exagero. Isto por ter passado a noite a chorar», revela, referindo-se à temporada 2015/16.

Ibai Gómez teve uma carreira muito marcada por lesões, o que contribuiu para a falta de confiança. O jogo de estreia na equipa principal do Athletic, em outubro de 2010, frente ao Saragoça, foi um prenúncio.

«O delegado disse para eu desfrutar de cada minuto. E dois minutos e 38 segundos depois sofri uma luxação da rótula. Ao cair vejo a rótula deslocada. Mais do que a dor, foi a impressão. O Fernando Llorente, assim que se aproximou, levou as mãos à cabeça», recorda.

Ibai foi capaz de colocar o foco na recuperação, e tornou-se depois uma das principais figuras do Athletic. Em 2012 até marcou e assistiu frente ao Sporting, na meia-final da Liga Europa. Mas em 2014 surgiu nova lesão: «A rotura muscular foi tal que o Ander Herrera, que estava no meio-campo, pensava que eu tinha levado um pontapé. Mas não, o barulho era o músculo a rasgar. Dei cabo do bíceps femoral, nem podia andar.»

Começou aí um calvário de problemas físicos, mas também de barreiras mentais.

«Começas a pensar que é um problema mental e entras num círculo complicado. Perdes protagonismo, perdem confiança em ti… e quando perdes a autoconfianças estás morto», afirma, relativamente à tal temporada 2015/16.

Ibai Gómez saiu depois para o Alavés, onde recuperou a alegria de jogar. A ponto de regressar ao Athletic dois anos e meio depois.

O extremo ainda fez mais 48 jogos pelo emblema de Bilbau, entre o início de 2019 e o verão de 2021, mas jamais regressou ao pico de protagonismo que chegou a ter.

«Cometi um erro, que foi não falar com o Gaizka Garitano, que era o treinador. Falei com o diretor desportivo, o Rafael Alkorta. Sentia confiança, mas percebi logo que era uma contratação da direção desportiva, e não do treinador», explica.

«É o clube da minha vida, uma religião lá em casa. E eu não queria ir para Lezama [ndr. Centro de treinos]. Metia-me no carro, de manhã, e já estava a pensar no regresso. Inconscientemente já me tinha dado por vencido. Tinha a cabeça destruída, mas não estava consciente disso. Só quando tomei a decisão de rescindir. Tirei um peso de cima. Estava num círculo de stress, de confiança nula, a transmitir negatividade a toda a gente em meu redor», recorda.