Gary Neville foi apresentado como treinador do Valencia, esta quarta-feira, sucedendo a Nuno Espírito Santo no comando técnico. Em conferência de imprensa, que demorou mais de uma hora, o antigo defesa do Manchester United prometeu «muito trabalho» para alcançar «êxitos» e anunciou que Miguel Angulo, ex-médio do Sporting e lenda do clube che, será adjunto, a par de Phil Neville.

«Durante a minha carreira tentei ganhar cada partida que joguei. Sei que há uma grande expetativa no clube e na afición e sei que a realidade pode dizer outra coisa, mas o objetivo é, no mínimo, tentar ganhar jogo a jogo e no final do campeonato ver como ficamos», disse o inglês, que terá a sua primeira experiência como treinador principal.

O antigo lateral direito referiu ter «muita confiança em si próprio» e estar «motivado para motivar todos os jogadores». Na primeira aparição como técnico oficial dos valencianos, indicou qual o problema dos últimos jogos: «Vi muitas partidas e vi uma crise de confiança e isso advém dos resultados que não são tão positivos. Do que vi acho que há muita qualidade e motivação. Estou motivado para dar-lhes confiança, confio muito no grupo e vou dar oportunidades a todos. Começam todos do zero!».

À procura de um professor de espanhol... para as seis da manhã

Os jornalistas presentes questionaram várias vezes o novo treinador sobre o facto de não falar espanhol e Gary Neville compreendeu a questão e disse que também duvidaria de um treinador espanhol que chegasse a Inglaterra sem falar a língua inglesa: «Neste ambiente francamente eu o questionaria, do ponto de vista neutral, de comentador desportivo. Teria dúvidas e pensaria que o treinador teria de provar o que podia fazer. Mas para mim isso é igual, tenho vontade de dissipar as dúvidas que tenham com o trabalho duro.» E lançou um desafio: «Tenho uma oferta para quem quiser dar aulas às 6 horas da manhã, estou no mercado à procura de um professor. Não sei se alguém quer. Em conversa com o meu irmão, vi o progresso que ele fez. É possível aprender.»

O treinador salientou ainda que fará o máximo para se integrar na cultura do clube e da cidade: «Creio que em vez de falar do contrato é mais importante falar do compromisso. Quero acrescentar que vou trazer a minha família, a minha mulher e, dentro de duas semanas, as minhas filhas vêm para aqui. Quando era jogador o que eu queria dos meus companheiros estrangeiros era o compromisso de ter a cultura do país de se esforçarem nesse sentido.»

«Não sou ditador».

«Falei com o Phil e ele falou-me muito bem dos jogadores, que se aplicam, que são muito trabalhadores e muito dedicados, com muita confiança. Referiu que têm muitas qualidades, muito talento e são muito habilidosos. Mas o mais importante para mim é que sejam trabalhadores. Em conjunto com o Angulo e o Phil, que são a parte chave do grupo de técnicos, tomaremos decisões. Vou ouvir os seus conselhos. Não vou ser nenhum ditador», salientou.

E porquê aceitar o Valencia agora?: «Há que dizer que nos últimos anos recebi várias ofertas mas nunca foi o bom momento. Pensei que era um processo de estudar o jogo, no domingo recebi a proposta de um clube tão grande e tão histórico, um desafio que não podia recusar. Depois de um par de ano de falar nos estúdios, a explicar as táticas, é tempo de ser eu a provar o que digo. Estou orgulhoso e é o momento adequado para aceitar.»

Outras declarações:

[sobre o estilo de jogo a utilizar] «Em vez de precisar um estilo exato ou quem vai jogar é importante que avaliemos o plantel que temos e há que escolher a tática por partida, conforme o adversário.»

[sobre a relação com Peter Lim e a sua falta de experiência] «A relação com o Peter Lim não interfere. Quanto à falta de experiência não há receita especial para ter sucesso. Cada treinador teve sempre o seu primeiro dia, é sempre assim. É importante para mim trabalhar para convencer aqueles que têm dúvidas, mas não é um problema para mim isso.»

[sobre o Mestalla e o ambiente] «Estou incrivelmente entusiasmado por estar aqui, com muita vontade de ter êxito. Estou consciente da responsabilidade que tenho, estou consciente do ambiente porque joguei aqui duas vezes no passado e sei do ambiente criado aqui no estádio, a paixão e intimidação dos fãs. Quero recriar esse ambiente. Disseram-me que estes adeptos são muito exigentes e há que ser exigente porque o clube merece títulos.»

[sobre o facto de não estar no banco no jogo com o Barcelona] «Domingo pela tarde recebi o primeiro contacto com a oferta e tinha 24 horas para pensar, falar com a família e tomar a decisão. Depois na segunda concentramo-nos no contrato e com as pessoas com quem iria trabalhar e isso demorou até quarta. Só me deixava uma sessão de treinos com a equipa e não era justo nem profissional escutarem uma nova voz pouco antes do jogo. Para um jogo importantíssimo era preciso uma maior preparação. Acho que é melhor para os jogadores assim.»

[conciliar com a seleção Inglesa onde é treinador-adjunto] «Quanto ao cargo na seleção e combinar os dois papéis, a primeira vez que disse ao Roy Hodson ele apoiou-me a cem por cento. Só há dois jogos em março e nesse sentido, noventa e cinco por cento do meu horário será para o Valencia, que é a minha prioridade. À parte destes dois amigáveis antes do Euro, posso manter conversações telefónicas e só se trata de um par de dias nessa pausa e normalmente os jogadores também estão nas suas seleções e não há treinos completos.»

[ser treinador do Manchester United ou de Inglaterra no futuro] «Creio que não vale a pensar cinco anos à frente. A minha prioridade é o primeiro treino no domingo, não penso nos próximos anos.»

O novo treinador do Valencia falou ainda sobre Alex Ferguson e referiu que este já o aconselhou e que «seria tonto» se não utilizasse muito do que aprendeu consigo e com outros treinadores: «Seria muito tonto não aceitar o conselho dele e de outros treinadores que treinaram aqui em Espanha. O Roy Hodson não treinou, mas também me vai dar e é importante aceitar conselhos de gente experimentada. É importante sublinhar que tenho uma mentalidade forte e confiança em mim mesmo.»

No final da conferência, um jornalista ainda perguntou sobre a especulação de José Mourinho ser o treinador do Valencia na próxima temporada, mas a presidente Layhoon Chan interrompeu e considerou «uma falta de respeito» para com Gary Neville falar de outros treinadores na sua apresentação.