Foi uma carreira de sonho até ao dia em que se lesionou. O espanhol José Enrique anunciou o final da carreira aos 31 anos, depois de passagens pelo Celta, Villarreal e a chegada à Premier League em 2007/2008, com 20 anos, na qual jogou até 2015/2016 pelo Newcastle e pelo Liverpool.
 
O lateral esquerdo regressou a Espanha na época passada e tinha mais um ano de contrato com o Zaragoza, mas decidiu arrumar as botas ao fim de vários anos de problemas físicos e até mentais. A razão para esta decisão é simples e comovente. 
 
«Quero conseguir andar quando tiver 45/50 anos. Quero ser um velho que consiga andar e não um inválido», disse em entrevista ao jornal Marca.
 
Na ocasião, José Enrique recordou a carreira e os maus momentos que passou depois de uma lesão no joelho direito. Foi num jogo contra o Manchester United que tudo aconteceu e depois de se prever uma paragem de três meses o calvário durou dois anos.
 
Nenhum dos cinco médicos que consultou em Inglaterra percebeu qual o problema, e já se pensava que o problema era mental. «Não podia jogar, nem sequer treinar, sem estar medicado. Foi duro, desesperante, e às vezes ficava maldisposto de tantos medicamentos. Depois de cada jogo o joelho inchava como uma bola e ficava três dias quase sem andar.»
 
«A mim doía-me, mas, como me disseram tantas vezes que era um problema psicológico, cheguei a acreditar que era algo mental», confessou, contanto que frente ao Crystal Palace, em Anfield, quando Brendan apostou nele, e sem tomar medicamentos durante uma semana, se arrastou em campo.
 
«Joguei quinze minutos e só conseguia andar em linha reta, não me conseguia mexer», contou, dizendo que depois disso procurou outro médico: «Fui a Espanha ao doutor Cota. Sabia que não estava bem e que tinha de procurar outros médicos. Estava desesperado.»
 
Depois disso foi operado, mas nunca mais voltou a ter força na perna direita: «Nunca mais fui o mesmo, foi frustrante. Tinha estado três meses a jogar com o menisco roto.» 
 
«Tive de fugir para Espanha, porque nem andar conseguia. Não podia jogar e comecei a bater mal. Fiquei muito afetado porque queria e não conseguia. Nos treinos até tinha ataques de ansiedade», disse.
 
O último ano no Liverpool, com Jurgen Kloop, foi horrível, mas não pelo treinador: «Sabia que se estivesse bem, ele me punha a jogar, mas ele foi sincero comigo. Treinava com a equipa principal e jogava na B. Perguntava-me ‘o que faço aqui com miúdos de 20 anos?’. Foi um ano terrível, apenas com um rebuçado [um jogo].»
 
«Ele ainda me deixou ser capitão na minha despedida, uma honra que lhe agradecerei sempre», disse.
 
Foi depois para o Zaragoza, ainda fez 27 jogos - quase todos como central - e marcou um golo na última época. Foi bom, mas decidiu terminar a carreira agora para não ser um inválido no futuro. Não deixará o futebol, devendo ficar ligado ao agenciamento de jogadores ao lado do irmão Salvador.