Sete meses após a queda do terceiro andar de um hotel, o até então futebolista do Albacete, Pelayo Novo, é hoje um homem diferente. Consciente das mazelas que o infortúnio, a 31 de março deste ano, lhe causou. E que o arredam do futebol profissional.

Era dia de jogo com o Huesca, para a II Liga espanhola. A equipa do Albacete estava no hotel ABBA, concentrada antes de mais um duelo do campeonato. Era uma manhã normal, até à fatídica queda, que ditou várias fraturas no corpo de Pelayo Novo.

De acordo com o vice-presidente do Albacete, Víctor Varela, o episódio teria sido precipitado quando Pelayo «estava a falar ao telefone apoiado num corrimão no patamar das escadas».

Pelayo ficou hospitalizado 51 dias no Hospital Clínico Universitário Lozano Belsa, em Saragoça, de 31 de março a 21 de maio. Aí, a perceção própria do adeus aos relvados começava a aparecer mais cedo que o esperado.

«Em Saragoça, estava pouco consciente do que se tinha passado. Não há muita informação e, às vezes, nem sequer queremos saber. Às vezes, tão iludido pela ignorância, eu dizia: “Bem, se recuperar da perna, talvez possa jogar de novo”», contou Pelayo, em entrevista à agência EFE.

Contudo, Pelayo sentiria maior evolução e perceção meses e dias mais tarde, em Toledo, no Hospital de Paraplégicos local. A dura realidade brotava.

«Quando vim para Toledo, entrei numa fase em que disse: “Aqui está a recuperação”. Porque em Saragoça não havia reabilitação. Era mais o estar na cama e receber visitas. Mas aqui há uma reabilitação a seguir. Exige de ti. E foi onde assimilei e entendi que o futebol tinha acabado para mim. É complicado assimilar, mas há vida depois disto», atirou.

«É a minha segunda oportunidade de viver»

Hoje, de Toledo para o mundo, a recuperar clinicamente, Pelayo Novo olha para o futebol com ar de graça. Guarda o que de bom fica. Apesar de não poder escrever a história por si, lá dentro de campo.

«Dei conta de que deixei o futebol e deixo o futebol. Mas deixo-o, vendo o seu lado amável. Muitos colegas que mal me conheciam, foram visitar-me ao hospital. Disse e transmiti-lhes que é a minha segunda oportunidade de viver», contou.

Dia a dia, pouco a pouco, o médio espanhol de 29 anos, com carreira feita em Real Oviedo, Elche, Córdoba, Lugo e Albacete, vai da «nostalgia» à felicidade.

«Os primeiros momentos são difíceis. Veio-me à cabeça nostalgia. Vivi muitos momentos felizes. Desfrutei, vivi subidas, também coisas complicadas, mas guardo as bonitas. Fico com a cara mais amável deste desporto, que é a união entre companheiros, a essência no futebol. Os interesses pessoais devem ser postos de lado. Importa a equipa, é a essência», relatou.

Que história.