Antes de tudo, a festa. O Brasil-Panamá desta tarde soalheira foi uma celebração para os 39 410 espectadores que acorreram ao Dragão.

Camisolas de dezenas de clubes brasileiros – com o Flamengo em vantagem –, música, bombos, mascotes, fotos, muitas fotos, lives para o Facebook, «olas mexicanas», o hino cantado em uníssono, uma emoção só: «Ouviram do Ipiranga as margens plácidas…»

Para ajudar à festa, Alex Telles estreou-se em absoluto a titular pelo Brasil e teve a companhia no quarteto defensivo do seu companheiro no FC Porto Éder Militão durante os 90 minutos.

Casemiro voltou a um estádio que também conhece e fez igualmente toda a partida, com a responsabilidade acrescida de envergar a braçadeira de capitão, com Neymar a assistir na tribuna.

A estrela estava fora e o Brasil brilhou pouco no tapete de um dragão vestido de verde e amarelo.

A canarinha apresentou-se em 4-3-3, com Coutinho e Richarlison sobre as alas a fazerem companhia a Firmino mais fixo no eixo do ataque – o avançado do Liverpool regressa ao Dragão já em abril para os quartos de final da Liga dos Campeões. Do outro lado, Dely Valdés – esse mesmo goleador que representou Cagliari, PSG, Málaga e Oviedo – apresentou um 5-4-1 que se desdobrava num 3-4-3 no contra-ataque. E a verdade é que resultou.

O Panamá não andou aos papéis, como no último Mundial. Foi uma equipa organizada e acabou por merecer o prémio de empatar diante de um adversário de outra galáxia.

Na véspera, Tite havia avisado que seria essencial trabalhar o entrosamento de jogadores que (boa parte deles) nunca jogaram juntos. Mas, se a conferência de imprensa de antevisão do Professor, foi uma aula para quem gosta de futebol, em campo o Brasil não deu nenhuma lição ao Panamá.

Brasil-Panamá: filme e ficha do jogo

Voltando aos «portugueses»: Telles teve uma boa estreia. O lateral portista não combinou com Paquetá, primeiro, e Coutinho, depois, como o faz com Brahimi, por exemplo, mas fez uma série de bons cruzamentos e esteve solícito no apoio à manobra ofensiva.

Militão, por sua vez, fez uma exibição em crescendo. Muito seguro, o jovem central portista, que está a caminho do Real Madrid, jogou no eixo mas sobre a direita (no FC Porto joga a central do lado esquerdo, quando não é desviado para a lateral) e mostrou que é um jogador de «longo prazo» no escrete, tal como Casemiro havia antecipado na véspera. Aos 90’, esteve até perto do golo da vitória canarinha, num cabeceamento, após canto, que não saiu longe do poste.

Apesar de perro, o Brasil esteve por cima, naturalmente. Paquetá abriu o marcador aos 32’, com o guarda-redes Mejía a ajudar, mas Machado haveria de demorar quatro minutos apenas a aparecer solto de cabeça a fazer o empate, sem hipóteses para o ex-benfiquista Ederson.

Ao domínio brasileiro, o Panamá resistia e tentava retaliar, tendo estado mesmo perto do lance do golo no último lance, num remate de Omar, com Ederson aparentemente batido.

Arthur e Casemiro estiveram em bom nível no meio campo. E, no segundo tempo, Coutinho recuou para pegar no jogo, sem grandes efeitos práticos. Por outro lado, foi Richarlison que mais mostrou inconformismo e com os seus dribles quase encontrou um canal para perfurar o muro do Panamá.

Ainda assim, Neymar terá certamente bocejado na tribuna do Dragão. Esteve muito longe de encantar este Brasil – os ex-portistas Danilo e Alex Sandro não saíram do banco.

Para resumir tudo, bem podemos recorrer à letra de Ary Barroso e «dar uma adaptada»: «Isso aqui, ô, ô, é (só mesmo) um pouquinho de Brasil, iá, iá.»

O escrete segue agora para a República Checa, onde na terça-feira volta a jogar tendo em vista a preparação para a Copa América, que o Brasil organiza entre junho e julho.

Se há nota positiva do jogo do Dragão, é mesmo essa: Telles e Militão cumpriram e não hipotecaram as hipóteses de lá estar.