A lesão e as imagens do momento da fratura com desvio no tornozelo direito sofrida pelo jogador português André Gomes no Everton-Tottenham de domingo, para a Premier League inglesa, marcaram o fim de semana desportivo. Momento horrível para qualquer atleta. Arrepiante para quem viu.

Após a falta sofrida num lance com o sul-coreano Son, André Gomes foi de imediato assistido pelo corpo médico em Goodison Park e já foi operado esta segunda-feira. Nos momentos de aflição vividos, o internacional português conseguiu atenuar um pouco as dores ainda em pleno relvado.

O antigo jogador do Benfica e do Barcelona, formado no Boavista e FC Porto, autoadministrou-se com metoxiflurano, fornecido pelos médicos do clube. Trata-se de um anestésico inalado que alivia de forma quase instantânea o sofrimento resultante de um problema físico crítico em competição.

Nas imagens captadas, é possível ver André Gomes com uma espécie de apito verde junto à boca - dispositivo conhecido como Green Whistle desde a pioneira utilização no desporto australiano - enquanto saia do terreno de jogo, de maca. O jogador de 26 anos inalava, então, um composto que permitia uma atuação com «mais ou menos um pico de ação de três minutos» para aligeirar a dor.

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A explicação é dada ao Maisfutebol por Alexandre Marques, especialista em medicina desportiva, ex-membro do departamento clínico do Gil Vicente.

«Podemos utilizar, neste tipo de dor, opióides fracos ou fortes. Contudo, carecem de um acesso venoso e de supervisão médica, pelo que havia sempre alguma carência neste tipo de abordagem, que o metoxiflurano inalado vem colmatar. Estamos a falar de um gás anestésico que atualmente é utilizado em doses baixas, como analgésico. É administrado através de inalação e está indicado para tratar dor moderada a intensa em doentes adultos conscientes e com traumatismo agudo, que foi o caso do André Gomes. O André estava na maca e já tinha o inalador», afirma.

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O composto, tomado pela boca, começou a ser regularmente utilizado, sobretudo na Austrália, a partir dos anos 70. O râguebi é, nos dias de hoje, uma das modalidades que mais faz uso do procedimento. Em Portugal, já é utilizado na seleção nacional. Quanto ao futebol, a Premier League é um dos campeonatos na Europa que já adotou o anestésico. Chegou ao Velho Continente há cerca de cinco anos e, em Portugal, clubes como o FC Porto, o Boavista e o Gil Vicente já dele dispõem.

«Quando avaliamos um atleta em campo e percebemos que tem dor significativa, moderada a severa e necessita de um analgésico que possa ser utilizado de forma rápida para aliviar essa dor, recorremo-nos do metoxiflurano. Rapidamente, como foi possível ver no caso do André Gomes, é administrado e condiciona um alívio sintomático marcado», explica António Ferreira, médico da Federação Portuguesa de Râguebi, ao Maisfutebol.

Nos últimos anos - e mesmo atualmente - a solução, amiúde, é o sacrifício dos atletas na gestão da dor, até aos primeiros cuidados aprofundados na ambulância que os encaminha para a unidade hospitalar. António recorda-o, quanto ao râguebi. «Por norma, até chegar à ambulância, tínhamos pouco para oferecer», constata.

Como quase todos os fármacos, existem contraindicações, enumeradas e alertadas por Alexandre para doentes com «insuficiência hepática grave, insuficiência renal grave, hipertermia maligna confirmada ou hipersensibilidade aos gases anestésicos». Na Europa, ao contrário da Oceânia, só é permitido o uso do composto, através do dispositivo idêntico a um «apito verde», para casos de trauma como o vivido por André Gomes.