E agora para algo diferente, mais uma competição. Wembley recebe nesta quarta-feira um Itália-Argentina que lança, ou volta a lançar, outro troféu intercontinental de seleções. Finalíssima é o novo nome do encontro que resulta de uma parceria entre a UEFA e a Conmebol e põe frente a frente o campeão europeu e o campeão sul-americano. É a primeira de três edições previstas e pretende recuperar um troféu em formato de jogo único que se jogou pela primeira vez há 37 anos, não durou muito e teve como vencedores a França de Platini e a Argentina ainda de Maradona.

É com dois protagonistas de peso, embora em conjunturas bem diferentes, que se apresenta a nova edição, marcada para esta quarta-feira, às 19h45. De um lado a Itália, que regressa a Wembley menos de um ano depois da conquista do Euro 2020, ainda a digerir o enorme fiasco que foi o apuramento falhado para o Mundial 2022. Vai ser o último jogo de Giorgio Chiellini com a «azzurra» e representa também o fechar do ciclo dos campeões europeus, disse o selecionador Roberto Mancini, assumindo que a partir daqui vai trazer novas caras para a equipa.

Do outro lado a Argentina, liderada por Lionel Messi, que tem o benfiquista Otamendi entre as opções e que chega aqui depois de uma campanha forte na qualificação para o Mundial e a poder superar o seu recorde histórico de 31 jogos sem derrotas: a última vez que perdeu um jogo foi há quase três anos, na meia-final da Copa América de 2019 com o Brasil. Mas ao longo desse período a Albiceleste também não defrontou adversários europeus, pelo que este será um teste importante rumo ao Qatar.

O confronto direto entre as duas seleções tem sido favorável à Argentina. A última vitória da Itália foi há 35 anos e desde então houve três vitórias argentinas e dois empates. Um deles a meia-final do Mundial 1990, quando os «azzurri» caíram em casa nas grandes penalidades.

O primeiro passo da aliança entre UEFA e Conmebol

A Finalíssima é para já a face mais visível da aproximação entre a UEFA e a Conmebol, traduzida num acordo assinado em dezembro passado, com validade até 2028 e que passa por vários outros planos, incluindo a hipótese de a Liga das Nações vir a incluir a partir de 2024 seleções sul-americanas. Isto quando a FIFA alimenta a ideia de um Mundial a cada dois anos, a que UEFA e Conmebol se opõem abertamente. A aproximação formal das duas confederações mais fortes, que incluiu também a abertura de um escritório da Conmebol em Londres, é mais um passo no jogo de força político entre as organizações que tutelam o futebol, ainda que o presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, vá garantindo que esta «não é uma aliança contra ninguém».

A tentação de criar competições intercontinentais adicionais foi recorrente ao longo dos tempos. E, já se vê, continua bem viva, mesmo com o calendário cada vez mais sobrecarregado. Esta Finalíssima tem raízes nos anos 80, quando foi lançado aquele que se chamou troféu Artemio Franchi, em homenagem ao antigo presidente da UEFA falecido em 1983 num acidente de automóvel. Era também um jogo único, a opor os campeões da Europa e América do Sul. Teve duas edições apenas.

Depois de se jogar em 1985, com um França-Uruguai, o Artemio Franchi falhou logo na edição seguinte, sem que se conseguisse encontrar uma data para o encontro entre a campeã europeia Holanda e o campeão sul-americano Uruguai. Oficialmente, só aconteceu uma segunda vez, em 1993, com um Argentina-Dinamarca. E ficou por aí. Num período em que a Copa América se realizava de dois em dois anos, até houve em dezembro de 1989 um encontro entre a Holanda e o Brasil, o campeão sul-americano desse ano, mas teve estatuto de jogo particular. Aconteceu o mesmo em 1998, com Brasil frente a Alemanha, novo encontro entre os dois campeões continentais, mas sem uma taça em jogo.

França e Argentina, as duas campeãs

A nível de clubes, a Taça Intercontinental também começou por ser um confronto entre os campeões europeu e sul-americano antes de dar lugar ao Mundial de clubes, alargado aos vários continentes e sob alçada da FIFA. Aconteceu o mesmo com o troféu Artemio Franchi, mas este nunca teve a implantação da sua homóloga de clubes e teve uma vida muito mais curta. O troféu promovido pela UEFA e pela Conmebol ainda conviveu com a Taça Rei Fahd, que em 1992 juntou a Arábia Saudita e mais três campeões continentais e voltaria a ter uma edição três anos mais tarde. Mas acabaria por desaparecer, sendo esse espaço ocupado oficialmente a partir de 1997 pelo Taça das Confederações, que se extinguiu depois da edição de 2017, quando Portugal esteve presente depois da conquista do Euro 2016.

No meio dos problemas de calendário levantados pelo Mundial no Qatar, a FIFA decidiu abolir a Taça das Confederações, ao mesmo tempo que lançava o projeto de um Mundial de clubes alargado a realizar-se de quatro em quatro anos. Foi neste contexto que a UEFA e a Conmebol se posicionaram, repescando a «sua» ideia dos anos 80. Com um troféu inspirado no anterior mas renovado, o terceiro capítulo está marcado para esta noite em Wembley.

Recorde as duas edições anteriores do confronto entre os campeões europeu e sul-americano:

21 agosto 1985

França-Uruguai, 2-0

Parque dos Príncipes, em Paris

Não estavam mais de 20 mil adeptos no Parque dos Príncipes, o palco onde pouco mais de um ano antes a França se sagrara campeã da Europa, depois de eliminar Portugal na meia-final e de vencer a Espanha na decisão. Do outro lado estava o Uruguai, vencedor da Copa América de 1983 numa final a duas mãos com o Brasil, que tinha como grande referência Enzo Francescoli e chegava a Paris com a qualificação para o Mundial 86 já no bolso.

Com novo selecionador, depois de Henri Michel substituir Michel Hidalgo, a França entrou em campo com boa parte dos campeões europeus, apesar das ausências por lesão de Tigana e Amoros. Os «Bleus» vinham de uma derrota embaraçosa com a Bulgária e ainda não tinham o apuramento para o Mundial 86 garantido, mas naquela noite fizeram um bom jogo no Parque dos Príncipes, adornado por dois belos golos. O primeiro foi marcado por Rocheteau logo aos quatro minutos, depois de uma assistência primorosa de Platini, e o segundo resultou de uma bonita combinação do ataque gaulês, com Giresse a assistir José Touré, aos 56 minutos.  

24 de fevereiro de 1993

Argentina-Dinamarca, 1-1 (5-4 gp)

Estádio José Maria Minella, em Mar del Plata

Aos 32 anos, Diego Maradona estava de regresso à seleção após dois anos de ausência. Mesmo sem autorização do Sevilha. El Pibe, que não tinha participado da conquista da Copa América de 1991, a primeira da Argentina em 30 anos, fez questão de voltar a casa naquele mês de fevereiro e, depois de um jogo com o Brasil, esteve em campo para aquela que seria a segunda e última edição do Troféu Artemio Franchi, frente à Dinamarca de Schmeichel e Laudrup, a incrível campeã da Europa de 1992.

A Dinamarca viu-se em vantagem pouco depois dos dez minutos de jogo, num autogolo de Craviotto. Claudio Caniggia empatou à meia hora, a encostar depois de um cruzamento-remate de Batistuta, mas não houve mais golos e o troféu decidiu-se nos penáltis. Aí foi herói Goycochea, o guarda-redes argentino, que defendeu duas grandes penalidades. No final, Maradona festejava aquele que seria o seu último título com a Argentina.