Vários dirigentes da federação do Afeganistão estão a procurar obter asilo na Índia, com medo de represálias dos talibã por, nos últimos sete anos, terem dado incentivos ao desenvolvimento do futebol feminino no país.

A história é contada pelo Outlook on Sunday da Índia que falou com Shaji Prabhakaran, presidente da federação de Deli e antigo dirigente da FIFA, que deu conta do contato com os dirigentes afegãos que preferiram não identificar-se. Segundo Shaji Prabhakaran, os dirigentes, que fugiram do país com as respetivas famílias, temem represálias do brutal regime talibã por terem apoiado o futebol feminino.

«Os talibã já controlam Cabul e a situação está muito sinistra. O aeroporto ainda é um local seguro, mas os talibã vão bloquear tudo mais cedo ou mais tarde», contou o dirigente que tem estado em contato com os homólogos afegãos.

Shaji Prabhakaran já contatou o Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano à procura de ajuda, mas até ao momento ainda não obteve resposta. A Federação de Futebol da Índia também anunciou, entretanto, que ainda não recebeu qualquer pedido de ajuda.

O futebol feminino no Afeganistão passou por tempos conturbados, mesmo fora da jurisdição dos talibã. Em 2018, Khalida Popat, antiga capitã da seleção do Afeganistão, procurou denunciar, junto da imprensa inglesa, o assédio sexual a jogadoras promovidos por dois antigos presidentes da federação.

Em 2019, A FIFA baniu Keramuudin Karim da presidência da federação do Afeganisão, cargo que desempenhava desde 2004, por abusos sexuais.

Khalida e um grupo de amigas formaram a primeira seleção feminina no Afeganistão em 2007, mas em 2012 a antiga internacional teve de pedir asilo na Dinamarca, como refugiada, depois de ter sido alvo de muitas ameaças de morte.

«A vida tornou-se difícil. Recebi ameaças de morte e fui impedida de viajar e de falar aos jornais. Tiraram-me o respeito. Não podia fazer nada, não tive outra possibilidade a não ser deixar o meu país», conta.

Khalida ainda viveu sob regime talibã antes de fugir para a Dinamarca. «As mulheres não tinham direito de ir à escola, ao médio ou trabalhar. Ficavam confinadas em suas casas. Então começámos a jogar futebol, que era algo novo na nossa cultura porque o desporto não era visto como algo apropriado para as mulheres», contou.

Mesmo depois de ter fugido para a Dinamarca, Khalida continuou em contato com antigas jogadoras e denunciou vários abusos sexuais e violações da parte de dirigentes e treinadores quando as jogadoras tinham apenas 15 ou 16 anos.

«O presidente usava o seu poder para construir um reino pessoal dentro da federação. Ele era um antigo senhor da guerra e instigava uma cultura de abusos. Ele era protegido por homens armados. Dentro do escritório pessoal tinha uma cama. Obrigava as jogadoras a irem a esse escritório onde abusava delas e as agredia», contou ainda Khalida.