Atlético de Madrid e Chelsea defrontam-se esta terça-feira nos oitavos de final da Liga dos Campeões. Filipe Luís, jogador que representou os dois emblemas, recordou a experiência falhada em Londres com José Mourinho e do período que viveu na capital espanhola.

«Logo no primeiro jogo bati à porta do Mourinho e perguntei se podíamos falar. 'Por que razão me trouxeste para o Chelsea? Tiraste-me de um lugar onde era feliz e onde jogava todas as semanas.' Fui contratado para jogar e no primeiro jogo fiquei no banco. Ele disse-me que não estava a jogar bem e que o Azpilicueta estava- Não sentiu confiança em mim, tinha de lutar pelo meu lugar e não esperar ser titular pela minha reputação», começou por dizer, em entrevista ao «The Guardian». 

O lateral-esquerdo deixou ainda grandes elogios a Eden Hazard, o melhor futebolistas com quem jogou a par de Neymar. «O Mourinho foi rodando a equipa e acabei por jogar, mas nunca fui titular nos jogos importantes. Tínhamos grandes jogadores como o Eden Hazard, Fàbregas, Diego Costa. Juntamente com o Neymar, o Eden é o melhor com quem joguei. Está ao nível do Messi. Ele não corria para defender, não treinava bem e cinco minutos antes dos jogos estava a jogar Mario Kart no balneário. Depois chegava ao relvado e ninguém era capaz de lhe tirar a bola, driblava três ou quatro jogadores», referiu. 
 
Durante o ano em que representou o Chelsea, o internacional canarinho confessou sentir-se traído por Mourinho pela falta de oportunidades nos jogos decisivos.

«O meu melhor momento foi entre dezembro e janeiro. Estava adaptado e a jogar tão bem. Eliminámos o Liverpool da Taça da Liga, mas não joguei a final. Decidi que queria sair. Joguei todos os jogos contra as equipas pequenas, joguei duas meias-finais e depois fiquei de fora da final, senti-me... Traído à falta de uma palavra melhor», assumiu.

Apesar da «traição», Filipe Luís diz que a razão estava do lado de Mourinho. «Penso que deveria ter jogado mais, mas a verdade é que a equipa que ele escolheu ganhou. Não tenho o direito de dizer nada nem ele me tem de dizer nada. O Mourinho é tremendamente competitivo, que é o que o torna um dos melhores. Ele nunca me abandonou: sempre enviou o Rui Faria para falar comigo e nunca estive dez jogos sem jogar. Admiro-o, no fundo. Ganhámos a Liga com ele, mas ele não tirou o melhor de mim assim como não tirou do Salah», atirou, antes de falar sobre o egípcio. 

«Sofrei com o Salah nos treinos. Quando ele foi para a Fiorentina perguntei-lhe: 'Momo, o que estás a fazer? Isto é o Chelsea'. Ele disse-me que precisava de jogar. Pensei: 'Este miúdo é bom'. Ele nunca foi atrás do dinheiro ou para ganhar mais. Ele só queria jogar. Nos treinos o Salah era como o Messi. Perguntem a quem quiserem.»

Após a experiência falhada nos blues, Filipe Luís voltou ao Atlético de Madrid apesar das ofertas de PSG e Juventus.

«No final da época enviei uma mensagem à Marina [Granovskaia] a pedir desculpa por não ter mostrado o meu melhor e a agradecer por ter acreditado em mim. Não queria trabalhar com o Mourinho mais um ano. Mas digo-te: não foi só culpa do Mourinho. Sabia que com o Cholo seria o velho Filipe Luís. Mais tarde Simeone disse-me que eu tinha voltado para jogar bem e que só jogava bem com ele. E é verdade. Ele conhece cada centímetro do meu cérebro. Não tive dúvidas em voltar», disse. 

Apesar de ter jogado ao seu melhor com o técnico argentino, o defesa admite que não é fácil tê-lo como treinador.

«Acreditam na minha palavra: não é fácil jogar para o Cholo. Ele não tem sentimentos. Ele nunca pensa: 'Ó, que pena, pobre rapaz'. Ele decide o que precisa para ganhar. Este ano o Atlético tinha o Suárez e o Diego Costa - que marcou 120 golos para Simeone - sentado no banco. Acabou por sair. Não tem coração. Simeone retirou o melhor de cada um nestes nove anos», concluiu.