Guglielmo Vicario realizou uma das melhores defesas da sua vida. Não valeu pontos, mas salvou vidas.

O guarda-redes do Empoli e os seus pais acolheram uma mãe ucraniana e o seu filho, dois refugiados da guerra da Ucrânia. 

«Há dez dias a minha mãe ligou-me e disse-me que havia a possibilidade de acolhermos uma família ucraniana. Não demorámos nem um segundo a decidir. Aliás, nem foi uma decisão. Tudo surgiu de forma natural. Os meus pais tiveram uma primeira reunião na sexta-feira passada e na segunda, Hanna e Milan chegaram a Udine», contou, à «Gazzetta dello Sport». 

«O primeiro encontro foi difícil. Tentas identificar-te com as pessoas, mas não podes. O Milan [o menino de oito anos] não transmitiu medo. Pelo contrário, transmitiu-me força. É uma criança educada e amável», acrescentou o guardião. 

Juntamente com a mãe, Milan escapou à artilharia russa, ao contrário do seu pai que ficou na Ucrânia para lutar.

«Conversámos com o pai numa chamada de vídeo e ele disse que estava à espera de informações. Ele está em Dnipro, uma cidade a 200 quilómetros de Mariupol. Espero que ele encontre alguma esperança por saber que a sua família está a salvo», explicou ainda Vicario.

O jogador do Empoli, de 25 anos, revelou ainda que a criança de oito anos quer jogar futebol. «Quando ele descobriu a minha profissão, ficou envergonhado. Nunca tinha visto um jogador. Mostrei-lhe vídeos dos meus jogos e ofereci-lhe uma camisola. Os seus olhos brilharam e ele vestiu-a logo. Ele gostava de jogar futebol. Não podia fazê-lo na Ucrânia, mas já lhe prometi que ia procurar uma escola de futebol para ele se divertir. Levá-lo ao estádio? O Udinese-Empoli joga-se a 16 de abril. Nesse dia ele vai estar na bancada», referiu. 

Até lá a mãe e o filho ucranianos vão ficar a viver com a família de Vicario. 

«A Hanna e o Milan vivem na parte da casa que estava reservada para a minha avó. Eles têm a sua privacidade, mas se precisarem de alguma coisa, os meus pais estão por perto. E eu também sempre que for possível. Vou tentar ajudar o Milan a crescer. Era nisso que estava a pensar quando fiz a viagem de Udine para Empoli na segunda-feira depois do jantar. Não fazemos assim tanta diferença de idades. O meu desejo é construir uma forte relação com ele e fazê-lo sentir-se amado. Para já, tornaram-se parte da minha família e vamos tentar que se integrem rapidamente. Acredito que vão viver connosco por um largo período. Não pensámos duas vezes quando fizemos esta escolha e decidimos fazer a nossa parte para ajudar quem vive um período difícil da sua vida», concluiu. 

Refira-se que a família de Vicario vive em Udine enquanto o guarda-redes joga no Empoli. O guardião está a quatro horas de carro de Hanna e Milan, os novos membros da sua família.