Arrigo Sacchi, ex-selecionador de Itália e histórico treinador do grande Milan das décadas de 80 e 90, deu uma extensa entrevista entrevista à Gazzetta dello Sport, na qual passou em revista várias etapas do percurso ligado ao futebol.

Sacchi, que parou de treinar definitivamente no início de 2001, com 54 anos, explicou o motivo que o levou a dar por terminada a carreira quando estava há três semanas no comando técnico de uma equipa do Parma com jogadores como Buffon, Canavaro, Thuram e Sérgio Conceição. «No primeiro dia no Parma disse aos jogadores: 'Hoje não treinamos. Sentem-se no relvado e cada um de vocês vai explicar-me porque é que tantos jogadores bons não conseguem ganhar'. Depois empatámos em San Siro com o Inter, em Lecce com um erro do Buffon e depois ganhámos em Verona. E foi aí que me assustei: não senti nenhuma alegria. Foi como beber um copo de água. Estava vazio e tinha chegado o meu momento. Liguei à minha mulher e disse-lhe: 'Vou para casa. Vou-me retirar'», recordou, ele que em 1999 anunciara o fim da carreira de treinador.

Recorde-se que na altura a imprensa italiana noticiou que Sacchi tinha sido aconselhado a parar devido a dores no peito e stress em excesso.

Mais tarde, Sacchi regressou ao futebol, mas para assumir funções de diretor-desportivo no Real Madrid em 2004/05, época na qual os merengues perderam o campeonato para o Barcelona de Frank Rijkaard, que havia sido jogador dele no Milan entre 1988 e 1993. Sobre esse período, trouxe à luz um episódio caricato. «Lembro-me de o ver muito tenso a fumar no túnel a poucos minutos do clássico. Disse-lhe: 'Tem calma, vais ganhar facilmente, nós não somos competitivos'. O Florentino [Pérez] estava a ouvir-me e disse-me: 'Vocês está connosco ou com eles?' O Barça ganhou 3-0.»

O ex-treinador, que completa 75 anos nesta quinta-feira, 1 de abril, falou ainda das equipas da atualidade que mais prazer lhe dão ver jogar. «Gosto do Bayern Munique e do Manchester City desde que voltou a ser pressionante.» E revelou uma conversa que teve com Guardiola. «Em novembro, no seu período mais crítico, o Pep telefonou-me e eu disse-lhe: 'Já não estás a pressionar'. Ele é um treinador que melhora as ligas onde treina. Transmite valentia e ideias, como eu fazia no meu Milan», comparou.

Sacchi garantiu que já não volta ao futebol. Nem mesmo para reeditar uma eventual parceria de sucesso dos tempos do Milan com Silvio Berlusconi, atual proprietário do Monza, equipa que está a lutar pela subida à Serie A. «Ele prometeu uma casa e um mordomo se eu aceitasse ser o diretor-técnico do Monza. Respondi-lhe: 'Não, obrigado. Já é tarde'.»