Entrevistado pela «Marca», em jeito de balanço da carreira, Pablo Aimar deixou um rasgado elogio a Jorge Jesus, que referenciou como um dos técnicos que mais o marcou.

«A ideia de Bielsa era a melhor. Não convence os jogadores com o discurso, mas sim com gestos. Com a sua maneira de explicar, de viver. É um exemplo para muitos treinadores jovens. Também aprendi muito com Pekerman, mas aqueles que mais me marcaram foram Bielsa e Jorge Jesus», afirmou o argentino

Aimar falou da passagem do Benfica como uma das melhores etapas da carreira, falando de um «clube enorme, que nem sequer pode empatar, onde tudo faz pensar em ganhar».

O antigo internacional argentino recordou ainda o momento em que decidiu assinar pelo Benfica, quando estava em vias de comprometer-se com o Newcastle: «Ia para Inglaterra mas chega alguém como o Rui Costa a tua casa e diz que vai retirar-se e que quer que fiques com a camisola dele. É impossível ignorar um gesto assim. Agradeci-lhe depois, pois adorei. Joguei numa equipa enorme, com colegas gigantes como Di María, David Luiz, Coentrão, Garay. Jogadores que acabaram nos grandes clubes europeus.»

Aimar falou também das lesões, que condicionaram grande parte da carreira, sobretudo nos últimos anos. «É como teres comida excelente à tua frente e doer-te a boca. Os melhores momentos não são tanto os títulos, mas estares numa equipa que sabe como joga. E antes do jogo saberes que vais ganhar. Por teres colegas tão bons que te tornam melhor a ti», defendeu.

O argentino recordou a tristeza de não ter conseguido ajudar o Saragoça a evitar a despromoção, mas diz que o pior momento da carreira foi outro: «Se tivesse de escolher uma tristeza muito grande, essa foi o Mundial da Coreia e do Japão. Por tudo....pelo grupo...pelo treinador. Os argentinos jogam desde pequenos com a bola da seleção, com a camisola albiceleste. Não sair do Mundial com o troféu é uma frustração enorme. Depois vem alguém que diz “sim, mas estiveste lá»...Mas quem vai lá só pensa em ganhar! A única coisa que te preenche é o êxito total, tudo o resto é tristeza.»

Aimar falou também de Messi, claro, destacando a capacidade do compatriota para «pensar e executar ao mesmo tempo». «Disfruta enormemente. Não se cansa de ir para o campo. Quarta-feira....domingo...é Messi a cada três dias, o melhor a cada três dias. Isso é incrível, é o número um indiscutível. O Cristiano [Ronaldo] faz cinquenta golo por ano e tanto ele como Messi são fenómenos. São extraterrestres. Os outros jogam futebol e eles jogam a ver quem marca mais golos. Isso faz bem a ambos, querem superar-se constantemente.»

«Não há muito a dizer a quem discute Messi. Não tem sentido explicar. Um dia estava a ver um jogo do Barcelona com um elemento da segurança do Benfica e ele disse-me que o Messi tinha sorte, porque ganhava todos os ressaltos. Não podes dizer nada perante isto. Não precisa de vencer o Mundial para ser o melhor, mas ainda bem que existe esse debate. Se não acabam as conversas nos cafés, nos jornais, nos táxis. Basta vê-lo jogar a marcar ou assistir a uma quarta-feira e depois a marcar três golos ao domingo. E na terça-feira deixa um penálti para outro craque do Barcelona», acrescentou.

Questionado se o futuro passa por uma carreira de treinador, Aimar respondeu que o problema é que vê isso como um trabalho 24 horas por dia. «É algo absolutamente exigente. Não sei se tenho capacidade para dizer que sou isto e não outra coisa. Gostaria de ser um técnico totalmente exigente. Pelo menos os que admiro e que são os melhores são obsessivos: Guardiola, Sampaoli, Bielsa, Simeone...»