O treinador português José Mourinho considera que a guerra na Ucrânia, motivada pela invasão russa no final de fevereiro, é primeiro um «fracasso humano» do que político e que «é difícil de explicar».

«Creio que a guerra na Ucrânia é um fracasso humano antes de o ser político. É um fracasso brutal, é a perda de princípios ou o não desenvolvimento dos mesmos, é a evolução do pensamento na direção errada. É algo difícil de explicar. É um fracasso a todos os níveis da humanidade: é o nosso fracasso», disse o técnico dos italianos da Roma, em declarações ao jornal L’Osservatore Romano, numa conversa com o cardeal português José Tolentino de Mendonça, em que se falou em mais do que futebol e em que Mourinho abordou, ainda, o lado «cruel» do mundo da bola.

«Pagas pelos teus erros. Se eu cometo um erro, pago-o com o despedimento. Se um jogador comete um erro, paga deixando de jogar. Há algo cruel nisso, mas não podemos deixar que a natureza do nosso trabalho se sobreponha ao que somos como pessoas. Tento ajudar os outros e a mim próprio a sermos melhores. Uma coisa que me custa aceitar é o desperdício de talento - mesmo depois de 30 anos de futebol, custa-me aceitar isso. Há algo de cruel no desporto de alto rendimento, especialmente no futebol, que é o desporto mais industrializado a todos os níveis», disse, ainda.

A propósito do rendimento de alta competição, o português acredita que não passa só pela tática e pela preparação, que há que colocar algo mais e que ele mesmo liga à «espiritualidade».

«Penso que na preparação de uma competição ao mais alto nível, que implica uma pressão e uma responsabilidade, tens de pôr algo mais e creio que esse algo mais está muito ligado à tua espiritualidade. Esse algo extra pode ser pensar na gente que quer que ganhemos hoje. O aspeto tático, técnico, físico e mental não é suficiente, é preciso algo mais», explicou.

O treinador da Roma destacou ainda que o Papa Francisco é uma figura «inspiradora». «Falo com Deus e sempre acabo a dizer: a minha família é mais importante do que isto. Dá-me uma mão, se tens tempo... Mas se a escolha tiver de ser entre o futebol e o bem-estar da gente a quem quero, não penso duas vezes. O Papa inspira-me porque posso olhar para ele e, sem ter a honra de o conhecer, ouço-o e não me canso. Vejo a sensatez e parece-me capaz de criar empatia com pessoas de crenças diferenças da nossa», finalizou Mourinho, confessando que na vida privada o último de que se fala é futebol.

«É o último de que falo, é o último de que penso, o último que peço. Tentar ser um bom pai, um bom marido, filho, amigo, esta procura é a maior motivação que uma pessoa pode ter na vida», apontou.