Numa extensa entrevista ao diário Olé, Lionel Messi abriu o livro acerca de todas as emoções que viveu no Mundial do Qatar. A competição até começou com um deslize diante da Arábia Saudita, visto pelo astro do Paris Saint-Germain como um momento que serviu de alerta, que depois viria a ter resposta diante do México.

«Havia muita confiança porque vínhamos de dois títulos. Até o golpe com a Arábia nos fez bem, porque tínhamos um excesso de confiança de que sabíamos que íamos jogar cara a cara contra quem quer que fosse e que poderíamos vencer qualquer um. Mas deixou-nos mais alertas e fez-nos perceber o que estávamos a jogar, que um Mundial não é tão simples quanto parece e que qualquer seleção nos pode complicar. Hoje, depois de tudo e vendo como correu, o golpe com a Arábia foi bom para nós», reconheceu.

Messi considerou ainda injustas as críticas aos jogadores argentinos devido aos festejos efusivos.

«Parece-me injusto que esta mensagem se tenha instalado porque não é verdadeira. Porque ninguém nos deu nada de graça e sempre nos comportámos de maneira exemplar, dentro e fora do campo. E acho que falam pelo que aconteceu com os Países Baixos, que tudo começa aí. Mas ninguém analisa e fala nada sobre o que aconteceu antes do jogo com as declarações deles, o que aconteceu durante o jogo e o que aconteceu nos penáltis também. O que eles provocaram e quem não teve nenhum tipo de fair-play. Foram eles, quando repreenderam e quiseram apressar os nossos jogadores quando íamos cobrar os penáltis», vincou.

«Todos falam do que a Argentina fez depois da vitória mas ninguém fala disso, parece-me que devemos assistir ao filme com atenção e ver o que aconteceu para depois comentar e constatar que não soubemos vencer», acrescentou, assumindo que ainda não sabe porque é que tanta gente o queria ver a erguer o troféu.

«Pensando um pouco no porquê disso, acho que é porque as pessoas viram tudo o que lutei para tentar alcançar aquele objetivo. Acho que o que vivi com a seleção argentina pareceu injusto para muitas pessoas. Não a nível de resultados, mas a nível de muita crítica, de muitos jornalistas a 'matarem-me'. Acho que as pessoas que me amam e me querem ver bem sempre gostaram do que tentei dar.»

O internacional argentino fez questão de sublinhar que não ganhou nada sozinho e «houve jogadores fundamentais», como os jovens Enzo Fernández, Alexis Mac Allister e Julián Álvarez.

Messi revelou ainda como foi tirada a fotografia em que surge na cama, na manhã seguinte após à conquista, agarrado ao troféu.

«Chegámos de madrugada à Argentina e dormimos muito pouco. Com o fuso horário acredito que só dormimos uma ou duas horas no máximo. Eram seis da manhã e eu tinha ligado a televisão. O meu quarto estava colado ao do Rodrigo [De Paul] e ao do Otamendi, que estavam logo do outro lado. Ouve-se bem do outro lado da parede e eles devem ter-me ouvido a ir à casa de banho, a levantar-me e a ligar a televisão», contou.

«Não sei porque é que o troféu acabou no meu quarto nessa noite, deixaram-no comigo. Tinha-o ao meu lado e foi aí que De Paul apareceu. Eu coloquei-me naquela posição e ele disse-me: 'Eu tiro-te uma fotografia’», disse ainda.

Agora no PSG, Messi já falou com Kylian Mbappé sobre «o jogo, as festas e como viviam as pessoas na Argentina naqueles dias», mas assume que a final não é um tema de conversa recorrente com o francês.

«Nenhum de nós quer falar e trazer o assunto da final à baila. Eu também estive do outro lado [n.d.r em 2014], tinha perdido uma final também e não queria saber nada disso, do que tinha acontecido. Por isso também não quero falar. Mas a verdade é que não há nenhum problema com o Kylian, muito pelo contrário», reforçou.

Quanto a uma eventual presença no Mundial 2026, a porta ficou entreaberta.

«Não sei, sempre disse que pela idade acho que é muito difícil chegar lá. Adoro jogar futebol, adoro o que faço e enquanto estiver bem e me sentir em forma e continuar a gostar, vou fazê-lo. Mas parece muito até ao próximo Mundial. Mas depende de como a minha carreira continuar. Vou fazer 36 anos, vou ver para onde vai a minha carreira, o que vou fazer e depende de muitas coisas», concluiu.