Luis Suárez voltou a casa ao fim de 16 anos. Três meses, 16 jogos e oito golos depois, festejou o título de campeão do Uruguai com o Nacional. Haverá regresso mais feliz ao ponto de partida? A festa aconteceu frente ao Liverpool, o de Montevideu, depois de uma vitória por 4-1 em que o avançado de 35 anos marcou o primeiro golo no Estádio Centenário e depois bisou, já no prolongamento, a lançar a vitória do Nacional. «Foi uma noite perfeita», disse no final, enquanto celebrava a decisão que tomou no verão passado de regressar ao lugar onde tudo começou. «Festejar com a nossa gente e a nossa família não tem preço.»

Foi em maio de 2005 que Suárez se estreou pelo Nacional, num jogo da Taça Libertadores. Tinha 18 anos e só ficou mais uma temporada no Uruguai, o tempo suficiente para festejar um primeiro título de campeão com o Nacional e de o seu talento ser detetado por olheiros do Groningen. Rapidamente deu o salto para o Ajax, a primeira grande etapa de uma carreira longa e recheada de golos e títulos de um dos maiores avançados do mundo na última década e meia. Também com muita polémica pelo meio. Desde logo na saída para o Ajax, que só aconteceu depois de uma disputa legal com o Groningen.

Em três épocas e meia no Ajax marcou mais de 100 golos, foi campeão dos Países Baixos e consolidou a afirmação na seleção do Uruguai, onde se estreou em 2007, ainda como jogador do Groningen. E onde foi notícia pela primeira vez por morder um adversário. A primeira vítima foi Bakkal, do PSV. Quando saiu para o Liverpool em janeiro de 2011, Suárez ainda estava suspenso nos Países Baixos por causa dessa mordidela. Que viria a repetir em Inglaterra, quando fez o mesmo a Ivanovic. E, claro, no Mundial 2014, com Chiellini, o incidente que lhe valeu quatro meses de suspensão.

Foi no final da última época em Liverpool que venceu pela primeira vez a Bota de Ouro para o maior goleador da Europa. Depois do Mundial 2014 rumou a Barcelona, onde formou com Messi e Neymar um trio demolidor a que chamaram MSN e que logo na primeira temporada conduziu o clube a uma conquista tripla: Liga dos Campeões, campeonato de Espanha e Taça do Rei. Ao longo de seis temporadas no Camp Nou foi quatro vezes campeão espanhol, marcou 198 golos e voltou a vencer a Bota de Ouro, em 2016.

O percurso no Barcelona chegou ao fim em 2020. O Atlético foi o destino que se seguiu no percurso de Suárez. E a primeira temporada terminou com a conquista do título de campeão espanhol, embalada por 21 golos do avançado uruguaio. No final da época passada, o seu contrato terminou e Luis Suárez viu-se forçado a ponderar opções. Em ano de Mundial, precisava de jogar para poder marcar presença naquele que será o seu quarto Campeonato do Mundo. Esteve perto de rumar ao River Plate, mas optou por voltar ao Uruguai, ao clube onde cresceu.

Idolatrado em cada estádio

Foi o casamento ideal. A chegada de Suárez encantou os adeptos do Nacional, que se acotovelaram nas bancadas do Parque Central na emotiva apresentação do avançado. O campeonato uruguaio ganhou uma estrela planetária, a «sua» estrela. A cada jogo, conta a ESPN, Suárez foi idolatrado em cada estádio, rodeado por adeptos do Nacional e rivais, à procura de um autógrafo ou de uma fotografia com o craque. Ele correspondeu em campo. Marcou logo na estreia, também fez golo na vitória no clássico frente ao Peñarol e terminou com o bis no jogo do título, para sair ovacionado a dois minutos do final.

«Emocionalmente foi o melhor lugar para se preparar» para o Mundial

O plano perfeito para um jogador num momento da carreira como o de Suárez. Como resumiu El Loco Abreu, outro histórico do futebol uruguaio, à ESPN: «Futebolisticamente o Uruguai não é o melhor lugar para preparar um Mundial, mas emocionalmente foi o melhor lugar para se preparar. Tanto para ele como para a família. O que viveram aqui não viveriam em mais lado nenhum.»

A noite da consagração foi também de despedida. Suárez deixou o Nacional, mas ainda não decidiu terminar a carreira. Provavelmente anunciará uma decisão depois do Mundial, quando se fala na MLS como hipótese mais provável.

Suárez é a mais recente estrela a voltar a casa depois de ter atingido a consagração internacional. Muitos o fizeram antes dele, mas poucos com sucesso tão óbvio em tão pouco tempo, como se percebe olhando para as histórias mais emblemáticas dos craques que regressaram ao clube onde começaram para tentarem voltar a ser felizes entre a sua gente. De Rui Costa a Vítor Baía, de Riquelme a Aimar, de Henrik Larsson a Van Persie, histórias que pode recordar aqui.