Carlos Queiroz deu esta quinta-feira uma entrevista ao Maisfutebol e à TVI, que vai poder ler na íntegra na Maisfutebol Total, a partir da meia noite, e ver no Desporto24, da TVI, a partir das 21.30 horas. Para já, e para aperitivo, fica a revelação de que Carlos Queiroz perdeu «uma fortuna» na divisão do BES entre banco bom e banco mau.

Financeiramente foi importante para si continuar no Irão?
Sim, sem dúvida. Estou satisfeito e é uma proposta aliciante aquela que a Federação do Irão me apresentou.

Mas já que fala nisso, houve uma situação que mudou a sua vida em termos financeiros...
Infelizmente, estando a residir na zona de Teerão, e do Dubai, vi a minha vida violentada pelas indignidades e as leviandades que muitas pessoas foram vítimas. Foi um abuso e uma fraude do Banco Espírito Santo, neste caso do ES Bankers, do Grupo Espírito Santo no Dubai.

Penso que teve a ver com a Rioforte, não é?
Sim, a história é simples: numa armadilha, responsáveis do banco mandam-me uma comunicação a dizer que havia relevantes riscos na aplicação de dinheiro na Rioforte e garantiram-me que não tomavam mais nenhuma decisão de fazer aplicações se não for eu, Carlos Queiroz, a tomar essa iniciativa.

E não foi isso que aconteceu...
Uns dias depois, debaixo de uma pressão enorme de Lisboa, como me disseram que havia telefonemas e pressões enormes, um diretor comercial do ES Bankers foi à minha conta, tirou uma fortuna, tirou mais de metade da minha vida de trabalho, e mandou para os senhores da Rioforte. Pôs os meus fundos - fundos que tinha guardado exclusivamente para apoiar a minha reforma -, na Rioforte de uma forma fraudulenta e abusiva.

Sem a sua autorização...?
Eles entraram, roubaram o dinheiro e trouxeram-no para o Rioforte, para capitalizar a empresa. Depois houve esta decisão, que é fácil para quem está em determinadas cadeiras, de determinar que agora há umas coisas boas e umas coisas más. E a vida das pessoas é assim expoliada.

Estamos a falar de que valor?
Gostava de reservar isso para a minha intimidade, mas seguramente, pelos padrões de vida que eu tenho, são mais de quinze anos da minha reforma que desapareceram de um dia para o outro.

Espera reavê-los?
Não tenho nenhuma expetativa. Este é um país de impunidade, que assobia para o lado. É preciso é ter saúde e recomeçar a vida de novo. Infelizmente fui uma das vítimas: um autêntico roubo, um escândalo, uma vergonha. As pessoas não têm ideia da tragédia que está por detrás de centenas e milhares de pessoas que entregaram ao BES anos e anos do seu trabalho. Espero que de uma vez por todas a Justiça portuguesa possa julgar e condenar essas pessoas.

Acredita que isso vai acontecer?
Depois de se ter passado em Portugal o caso BPN, como é possível que meia dúzia de anos depois possa acontecer isto com o BES? Com a envolvência de altos responsáveis... E mais uma vez a impunidade é total. Começo a achar que a única coisa que é crime neste país é um treinador à sete da manhã dizer dois ou três palavrões a alguém...