No verão de 2014, Eliaquim Mangala esteve no Mundial do Brasil com a França e a seguir trocou o FC Porto pelo Manchester City, numa transferência que viria a ser considerada a mais cara de um central até então. Mas à rápida ascensão seguiu-se um percurso irregular, longe de uma história de sucesso. Fez pouco mais de meia centena de jogos pelos Citizens, passou por vários empréstimos e uma lesão grave, pelo meio esteve perto de voltar ao FC Porto, jogou apenas metade da temporada passada e agora, aos 31 anos, está uma vez mais sem clube. Mas diz que não desistiu.

Mangala aterrou no Porto em agosto de 2011, na companhia de Steven Defour. Os «dragões» pagaram 6.5 milhões pela contratação daquele que era aos 20 anos um central promissor, internacional sub-21 pela França. De ascendência congolesa, Mangala cresceu na Bélgica, para onde se mudou aos quatro anos, e destacou-se no Standard Liège, orientado na última temporada por Sérgio Conceição, então adjunto do clube. Depois de uma primeira época de adaptação ao FC Porto, tornou-se primeira opção na segunda temporada, uma das referências da equipa que foi bicampeã nacional sob o comando de Vítor Pereira. Chegou no verão de 2013 à seleção francesa e no final da temporada seguinte, depois de uma primeira tentativa em janeiro, o Manchester City contratou-o mesmo.

«O valor foi enorme e com isso vieram expectativas»

O valor total da transferência não foi oficializado, mas é estimado em 53.8 milhões de euros, tendo em conta a forma como estava dividido o passe do jogador. Na altura, o FC Porto anunciou a transferência por 30.5 milhões de euros, correspondentes a 57.67 por cento do passe. O clube tinha cedido entretanto parcelas do passe a duas entidades: a Doyen e a Robi Plus. As suspeitas de envolvimento de terceiras partes na transferência levou a uma investigação da FIFA, que multou o FC Porto. Parte do contrato de Mangala com o City foi entretanto tornado público no âmbito do Football Leaks, confirmando que no negócio estavam envolvidas as três entidades que partilhavam o passe.

Olhando para trás, Mangala admite que o valor da transferência lhe trouxe pressão adicional. «Toda a gente lida com isso de forma diferente. Muito antes de ir para o Manchester City percebi que há múltiplos aspetos no jogo. Há o que acontece em campo e há o lado do negócio, que evoluiu ao longo do tempo. É verdade que o valor foi enorme e com isso vieram expectativas. Há um lado subconsciente que tem influência. Tentei equilibrar essa influência, dizendo a mim próprio para me concentrar no que tinha de fazer», disse agora Mangala, numa entrevista ao site Get French Football News.

Quarta opção para Guardiola

Nas primeiras duas épocas no City, com Manuel Pellegrini no banco, Mangala não foi indiscutível, mas jogou com alguma regularidade. Ainda esteve com a França no Euro 2016 e jogou vinte minutos na partida dos quartos de final com a Islândia, naquela que foi a última de oito internacionalizações pelos «Bleus». Mas, com a chegada de Pep Guardiola ao City nesse verão, Mangala perdeu espaço no clube. Em 2016 passou pelo primeiro empréstimo, para uma temporada no Valência. A seguir voltou a Manchester e, sem solução para o futuro quando fechou a janela de transferências, ficou meia época no clube. Mangala conta que teve uma conversa franca com o treinador catalão e que este lhe disse que era a sua quarta opção para o centro da defesa, atrás de Kompany, Stones e Otamendi: «Ele disse: ‘Não encontrámos uma solução e estás aqui. Tens um perfil muito específico, que não é o que procuro para o meu estilo de jogo. Falou comigo muito honestamente.»

Nessa primeira metade da temporada 2017/18, Mangala fez 15 jogos pelo City. Em janeiro saiu por empréstimo para o Everton. Foi então que uma lesão grave no joelho logo ao segundo jogo o forçou a uma longa paragem. Foi operado e passou quase época e meia longe dos relvados. Em 2018/19, fez apenas uma mão cheia de jogos pela equipa de reservas do Manchester City. Foi no final dessa época que esteve perto de voltar ao FC Porto, mas o problema no joelho invalidou o regresso.

Terminada uma ligação de cinco anos ao Manchester City, o futuro de Mangala passou pelo Valencia, também um regresso. Mas com pouca expressão em campo. Em março de 2020, foi um dos primeiros jogadores a contrair Covid, depois do encontro de Liga dos Campeões entre a Atalanta e o Valencia que antecedeu o confinamento e a interrupção de todas as competições, mas foram várias lesões a condicionar a sua passagem pelo clube. Quando saiu, em maio de 2021, tinha apenas 21 jogos somados em duas temporadas.

Depois, ficou parado até janeiro deste ano, quando rumou pela primeira vez à Liga francesa, para jogar no Saint-Etiénne. Em quatro anos, esse foi o período em que jogou com maior regularidade, um total de 15 jogos. Mas a época terminou com o Saint-Etiènne a descer de divisão, e Mangala voltou a ficar sem clube.

«Posso jogar até aos 40 anos»

Não encontrou solução no verão e tem-se entretanto dedicado a projetos sociais, como representante da organização Peace and Sports, sedeada no Mónaco.

Mas não desistiu de continuar a jogar. Enquanto procura manter-se em forma, trabalhando com um preparador físico, acredita que pode voltar ao topo e garante que está pronto para jogar «até aos 40 anos». Foi o que disse noutra entrevista recente, ao jornal L´Équipe. «Estou no mercado, não estou de forma nenhuma em fim de carreira», afirmou, inspirando-se no exemplo de Benzema: «Aos 31 anos, somos uns miúdos. O Karim ganhou a Bola de Ouro aos 34 anos, depois de ter sido considerado o inimigo público. Hoje, acho que posso jogar até aos 40 anos, sem problema. Tive uma lesão grave, mas ultrapassei-a. A vida não é linear. Posso voltar ao mais alto nível. Isto vale para todos. O percurso do Karim é uma mensagem.»