Luka Modric venceu a Bola de Ouro pela primeira vez. E pela primeira vez em 11 anos não venceram Cristiano Ronaldo nem Lionel Messi. O português foi segundo, o argentino quinto. 2018 quebrou a hegemonia dos dois e ela há-de terminar. Mas por enquanto eles ainda cá andam, ninguém acreditará que isto é o fim da sua história. Basta olhar para o que andam a fazer ainda agora. Esta foi de resto uma Bola de Ouro – ou aliás várias - de estreias. Atribuiu pela primeira vez um prémio à melhor jogadora do mundo, e também ao melhor jogador com menos de 21 anos.

Antes de mais, claro, Modric. O jogador do Real Madrid é o grande vencedor do ano em que foi finalista do Campeonato do Mundo e venceu a Liga dos Campeões. Outra estreia, tornou-se o primeiro croata a vencer a Bola de Ouro. Em 62 anos do troféu atribuído pela «France Football», são 19 as nacionalidades representadas no palmarés daquele que é o mais enraizado prémio individual do ano. E Portugal está lá no topo.

Muito graças a Cristiano Ronaldo, claro, mas não só. As cinco Bolas de Ouro que Cristiano já venceu, juntas com uma de Eusébio e outra de Figo, fazem sete. E nenhum país ganhou mais: Alemanha e Holanda têm igual número, a França tem seis e seguem-se Itália, Inglaterra, Brasil e Argentina com cinco (neste caso, todas de Messi). Contas condicionadas também à natureza do troféu: até 1995 era reservado a jogadores europeus, até 2007 a jogadores a atuar na Europa e só a partir daí passou a abranger todos os jogadores mundiais.

A Bola de Ouro não repetiu o pódio do prémio The Best, da FIFA, ao terceiro ano em que voltam a apresentar-se separados depois de seis anos em conjunto, mas ficou perto. Cristiano Ronaldo foi segundo em ambos, agora o terceiro foi Antoine Griezmann, lugar que ocupou Mo Salah no «The Best». O francês e o egípcio trocaram aliás de posições de um troféu para o outro. O quarto e o quinto lugar foram iguais, respetivamente para Kylian Mbappé e Lionel Messi.

Um troféu anual olha muito para os resultados. Isso é assumido no caso da Bola de Ouro, que parte de uma lista de 30 finalistas escolhidos pela redação e resulta de uma votação de jornalistas de todo o mundo, que foram 180 este ano para o prémio masculino. Os regulamentos hierarquizam mesmo os critérios para a atribuição do prémio. Primeiro as prestações individuais e coletivas, leia-se palmarés, durante o ano. Depois aquilo a que a «France Football» chama «classe do jogador», que avalia «talento e fair play». E depois a carreira do jogador.

Ganhou Modric, Cristiano foi segundo no ano em que trocou o Real Madrid pela Juventus depois de ganhar a Liga dos Campeões, em que caiu do Mundial nos oitavos de final e não jogou pela seleção na segunda metade do ano, e segue em velocidade-cruzeiro aos 33 anos, 11 golos em 18 jogos. Messi ficou fora do pódio pela primeira vez desde 2007, depois de ter ganho a Liga espanhola com o Barcelona, como melhor marcador, e de ter caído também com a Argentina nos oitavos de final do Mundial. Aos 31 anos, e mesmo tendo estado três semanas de fora já esta época por lesão, leva 15 golos em 16 jogos. Os números de ambos em 2018 continuam a ser do outro mundo: Ronaldo leva 45 golos marcados nos 47 jogos de 2018, tantos quanto Messi em 50 jogos. Portanto, eles ainda andam aí.

Mas eles vão acabar um dia. E há muito por onde olhar para o futuro. Foi o que fez a Bola de Ouro a partir deste ano e a primeira escolha foi óbvia. Kylian Mbappé, campeão do mundo com a França aos 19 anos (faz 20 daqui a três semanas), um talento e uma maturidade com o mundo pela frente. Ficou à frente do norte-americano Christian Pulisic, do Borussia Dortmund, e do holandês Justin Kluivert, da Roma. O quarto lugar foi para o brasileiro Rodrygo, jogador do Real Madrid cedido ao Santos, o quinto para o guarda-redes italiano Gianluigi Donnarumma.

A classificação do Troféu Kopa:

1. Kylian Mbappé (França/PSG)

2. Christian Pulisic (EUA/Borussia Dortmund)

3. Justin Kluivert (Holanda/Roma)

4. Rodrygo (Brasil/Santos)

5. Gianluigi Donnarumma (Itália/Milan)

6. Trent Alexander-Arnold (Inglaterra/Liverpool)

7. Patrick Cutrone (Itália/Milan)

8. Houssem Aouar (França/Lyon)

9. Amadou Haïdara (Mali/RB Salzburgo)

9. Ritsu Doan (Japão/Groningen)

A outra estreia da Bola de Ouro 2018 foi a eleição da melhor jogadora feminina. A FIFA já o fazia desde 2001, a «France Football» deu agora esse passo. A vencedora foi a norueguesa Ada Hegerberg, que venceu a Liga dos Campeões com o Lyon. Aqui o vencedor e o pódio diferiram substancialmente dos prémios da FIFA para 2018. A vencedora foi a brasileira Marta, que ficou em quarto lugar para a «France Football». Hegerberg foi terceira nos prémios «The Best» deste ano.

As 10 primeiras da Bola de Ouro feminina:

1. Ada Hegerberg (Noruega/Lyon)

2. Pernille Harder (Dinamarca/Wolfsburgo)

3. Dzsenifer Maroszan (Alemanha/Lyon)

4. Marta (Brasil/Orlando)

5. Sam Kerr (Austrália/Perth)

6. Lucy Bronze (Inglaterra/Lyon)

7. Amandine Henry (França/Lyon

Wendie Renard (FRA / Lyon)

9. Megan Rapinoe (EUA/Seattle)

10. Lindsay Horan (EUA/Portland)

A estreia não passou sem dar que falar. Tudo porque o apresentador da cerimónia, o DJ Martin Solveig, perguntou a Hegerberg se ela sabia dançar Twerk, ouvindo um não em resposta. Acabaram a dar um passo de dança ao som de Sinatra, mas a pergunta foi vista por muitos, nas redes sociais, como sexista. Solveig acabou a ter de se explicar e a admitir que foi «uma má piada».

[artigo originalmente publicado às 23h56, 3-12-2018]