Esta história começa a assim:

Com 144 anos de existência – fundado em março de 1872 – o Glasgow Rangers é um dos dois grandes históricos da Escócia fazendo também parte da História do futebol europeu.

Os seus resultados só são grandiosos a nível interno, mas o nome do Rangers não deixa de ser conhecido de qualquer adepto que não seja escocês.

Até pela rivalidade com o outro histórico da Escócia, o Celtic de Glasgow (clube fundado 15 anos depois) com quem partilha uma rivalidade a vários níveis centenária e de partilha da maioria dos títulos de campeão escocês. Os protestantes Rangers têm 54 títulos; os católicos do Celtic têm 46.

E é pelo meio da História que começou esta história: com os adeptos do Celtic a entoarem cânticos alusivos à insolvência do Rangers, em abril de 2012, faz agora quatro anos.

O Rangers entrou nessa época detendo o título de campeão escocês. A temporada começou da pior forma com o duplo afastamento das competições (Liga dos Campeões e Liga Europa) quando ainda se estava em agosto.

O mote para uma época com um fim trágico, mais do que o desportivo, porém, foi o financeiro com a diminuição das receitas estimadas. O Rangers ainda liderou o campeonato fruto de um arranque com 15 vitórias seguidas, mas não evitou as eliminações das Taças da Liga e da Escócia.

E as finanças do clube acabariam por prejudicar também a prestação no campeonato; antes de se tornarem no seu momento mais negro: com a liquidação. Uma dívida em imposto na ordem dos nove milhões de libras à altura (mais de onze milhões de euros ao câmbio atual) colocou o clube em gestão administrativa.

Estava-se em fevereiro de 2012. As regras da Scotish Premier League impuseram a perda de dez pontos na Liga devido à entrada dos administradores. Seguiu-se a incapacidade de apresentar as contas relativas a 2011 e a perda da licença para jogar as competições europeias 2012/13. O campeonato já tinha começado a ser perdido. Em abril, o total das dívidas foi contabilizado em 134 milhões de libras (mais de 165 milhões de euros).

Várias tentativas de manobras empresariais não tiveram a autorização das Finanças britânicas nem permitiram chegar a acordo com os credores. O Rangers entrou em liquidação. Estava-se em junho de 2012.

Um novo consórcio empresarial comprou o clube falido e os seus bens imóveis, como o Estádio Ibrox, num negócio de 5,5 milhões de libras (quase sete milhões de euros). Um mês depois da liquidação (re)nasceu o The Rangers Football Club Ltd. (Re)nasceu na quarta divisão escocesa, sem a maior parte dos jogadores, que não quiseram transitar para o novo proprietário.

Mas não foi por isso que o Rangers, em 2012/13, não venceu a Third Division. Ganhou e subiu à League One., que também ganhou na época seguinte. O travão nesta ascensão aconteceu em 2014/15. Foram necessárias duas temporadas no segundo escalão nacional para a equipa dos protestantes conseguir o regresso à Premier League da Escócia; ao seu lugar histórico.

Nesta terça-feira, a vitória sobre Dumbarton significou o carimbo no regresso à principal divisão, pronto para voltar à rivalidade histórica com o Celtic. Os cânticos dos católicos de «liquidation, hahaha; liquidation, hahaha» com que começou esta história podem começar a ser finalmente esquecidos. E o Ibrox exultou com o final feliz.

Para a época que vem, o Old Firm (o jogo que opõe os dois rivais) vai ter um sabor ainda mais especial...