Patrice Evra foi uma estrela do futebol mundial, mas os primeiros anos de vida do ex-jogador foram bastante difíceis.

«Vou ser sincero. Tive uma infância muito dura, porque éramos tantos irmãos e irmãs que não era fácil viver nas ruas. Estava em Paris, mas a viver na rua e às vezes não conseguia ter comida. Lembro-me de que o meu irmão Dominique trabalhava no McDonalds. Eu ia lá na pausa de almoço e ele dava-me da comida dele», contou o francês em entrevista ao podcast do Manchester United.

«Não tenho medo de dizer que pedi nas ruas em frente a lojas. As pessoas passavam e eu pedia-lhes se me podiam dar alguma coisa. Alguns davam, outros não, mas pedia só porque queria comprar uma sanduiche», disse ainda Evra.

«Foram tempos difíceis, mas felizes. Estava sempre feliz e senti-me sempre sortudo. Não mudava nada, porque foi assim que me tornei o homem que sou agora», frisou.

«Normalmente as pessoas só observam o resultado final, a superestrela na televisão, mas foi nas ruas que aprendi a ser forte. Especialmente depois do Mundial, onde fui capitão, já que muitos me culparam. Mas mantive-me forte, porque sei que nas ruas tinha passado por momentos bem mais difíceis do que ter a imprensa a falar de mim», apontou o francês, garantindo:

«Não sou uma vítima. Não me sinto triste por isso. Não quero que as pessoas sejam simpáticas comigo porque estou a dizer isto. Estou apenas a contar a minha verdadeira história. Quero apenas motivar os mais jovens para nunca desistirem aconteça o que acontecer. Se acreditas que podes ser alguém, se lutares por isso, vais conseguir.»

Evra falou ainda sobre o tempo em que jogou no Manchester United e sobre a importância de Alex Ferguson.

«Eu sempre disse que o Didier Deschamps me ensinou que ganhar é importante, mas o Sir Alex ensinou-me que ganhar era normal. Lembro-me que depois de grandes vitórias sobre o Liverpool ele só dizia ‘bom jogo, miúdo’. Nunca ficava eufórico, exceto quando vencemos a Liga dos Campeões.»

«Para nós, ganhar o campeonato era simplesmente normal», frisou.

«Quando vencemos o terceiro, quarto, quinto título, já não festejamos da mesma coisa. Festejávamos por causa das câmaras, mas não era a mesma coisa. O Ferguson ensinou-nos a todos a sermos robots. Não creio que um ser humano pudesse jogar no Manchester United», disse ainda Evra.

«Cada vez que vestia a camisola do Manchester United só pensava em respeitar este clube e a filosofia, não queria desiludir os adeptos», conta o ex-jogador francês.

«Posso dar um exemplo. Uma vez, numa pré-época, estávamos todos cansados e havia uma fila de adeptos à nossa espera ao pé do autocarro. Combinámos que ninguém ia dar autógrafos. Fomos diretos para o autocarro. Olhei pela janela e vi o Sir Alex a assinar todos os papéis, garanto que esteve naquilo durante 45 minutos, a dar autógrafos pelos jogadores. Disse aos meus colegas que quando o boss chegasse estávamos feitos. Ele veio e deu-nos uma valente descompostura. ‘Quem raio vocês pensam que são? São estas pessoas que vos pagam o salário. Saiam daqui e vão dar todos os autógrafos!’. É esta a mentalidade», explicou Evra.