O futebolista internacional neerlandês Quincy Promes foi apanhado em escutas telefónicas a confessar o esfaqueamento a um primo e está a ser de novo investigado, já depois de ter sido detido em dezembro de 2020, num caso em que o próprio já tinha negado responsabilidades.

Só que na terça-feira, o programa Nieuwsuur, da estação televisiva neerlandesa NOS, divulgou as conversas que foram intercetadas pela polícia, na noite imediatamente seguinte ao esfaqueamento, que aconteceu a 25 de julho de 2020, depois de uma festa na cidade de Abcoude. Promes confessa, em conversas com o pai, a mãe e uma tia, que poderia ter esfaqueado o primo até à morte.

De acordo com a NOS, Promes ligou para o pai pouco depois da uma da manhã. «Porque é que te puseste à frente dele? Salvaste-lhe a vida», disse Promes, de acordo com as escutas intercetadas. O pai responde-lhe: «Quincy, não quero que tenhas problemas». E o futebolista riposta: «Eu tê-lo-ia morto, não entendes?», num diálogo ao qual se seguiu outra chamada, cerca de dez minutos depois, para a mãe e para a tia.

Nessa conversa, a mãe de Promes diz-lhe que o sobrinho foi levado para o hospital e o atleta pergunta-lhe onde é que o primo foi atingido. «Na perna», respondeu a mãe. «Teve sorte», respondeu Promes, que na mesma conversa se mostrou ainda mais defensor da família, com agressividade para esse seu primo.

«Ninguém vai roubar-nos. Ele é ousado. Não consegui evitar. Desculpe tia, perdoe-me», referiu Promes, que voltou a falar com o pai a seguir. «A minha lealdade é para com a minha tia. Eu mato quem a roubar. Ponto final. Eu mato quem roubar a minha mãe. Há certas pessoas na família pelas quais eu mato. Ponto final. Tem sorte de eu não andar com uma arma de fogo, caso contrário teria sido mais feio». Ainda pelas conversas telefónicas com o pai, Promes parece ter esperado para atacar o primo no final da festa. «Pode dizer que foi pelo álcool, porque se eu estivesse assim bêbedo, tinha-o feito no início da festa. Esperei bem».

Face às escutas, e citado pela NOS, o advogado do primo de Promes, Yehudi Moszkowicz, não tem dúvidas sobre o culpado do crime. «São confissões de Promes, sem que ele saiba que está a ser escutado. Ele conta ao pai, à mãe e a uma tia. Até está indignado por o pai se ter colocado entre ele e o primo», referiu.

Já o advogado do futebolista do Spartak Moscovo, Gerard Spong, não comentou inicialmente o conteúdo das escutas, mas acabou por referir mesmo, ao programa Niewsuur, que está «convencido de que Quincy será absolvido».

O Ministério Público não quis «entrar» em detalhes sobre o facto de o telefone de Promes ter sido alvo de rastreamento das chamadas telefónicas, sendo que o atleta é suspeito de tentativa de homicídio culposo e agressão agravada. «95 por cento disso [ndr: de escutas] é sobre armas, drogas e liquidações», afirmou Sven Brinkhoff, professor de direito penal e processual penal, à NOS.

«Este processo criminal sobre o esfaqueamento não se encaixa na imagem que o TCI [ndr: equipa de inteligência criminal neerlandesa] recolhe. Portanto, é atípico que este caso comece com informações do TCI. Mas Promes está, de alguma forma, envolvido numa investigação sobre crime organizado. Como e qual o seu papel exato, ainda não sabemos», acrescentou.