A invasão de campo dos adeptos do Zenit durante o encontro com o Dínamo Moscovo veio acentuar o grande problema que André Villas Boas tem para resolver. A derrota significa que, com apenas uma jornada para o fim da liga russa, a equipa dos também portugueses Danny e Neto perdeu o primeiro lugar e está dependente do resultado do agora líder CSKA. 

O jogo deste domingo até começou bem, com Danny a marcar logo aos 6 minutos, mas uma segunda parte desastrosa deixou o resultado em 2-4. Foi, aliás, quando Kerzhakov reduziu o marcador, já nos minutos finais, que uma multidão em fúria invadiu a pista de tartan do Estádio Petrovsky. Os adeptos do Zenit começaram por saltar e cantar atrás da baliza do Dínamo mas, quando o árbitro decidiu interromper a partida por falta de condições de segurança, ninguém os segurou.



Pelas imagens, não se percebe o que terá acontecido com Rondon, que tentava libertar-se das mãos de Danny depois de instalada a confusão. Alguns meios de comunicação social russos referem que o jogador foi agredido, reacendendo a polémica sobre o racismo de uma fação da claque do Zenit. O avançado venezuelano acabou por ser arrastado pelo português e um segurança para os balneários e o clube não reagiu a esta parte do incidente.

Bem percetível é, no entanto, a agressão de um adepto ao capitão do Dínamo Moscovo, Vladimir Granat.



Granat foi transportado para uma clínica e, segundo o diretor desportivo do Dínamo, Guram Adzhoev, sofreu uma pequena concussão. Entretanto, um porta-voz da polícia de São Petersburgo garantiu à agência de notícias ITAR-TASS que já foi aberta uma investigação e que o agressor está a ser identificado.

Isso mesmo foi exigido pelo próprio Zenit. O facto de Vladimir Granat ser jogador da seleção russa, e de provavelmente vir a ser um dos eleitos de Fabio Capello para o Mundial, terá influenciado o clube de Villas Boas a reagir de forma veemente através de um comunicado e a prometer consequências para os grupos radicais de adeptos:

«O Zenit expressa um profundo lamento pelo que aconteceu no jogo de hoje. A atitude dos adeptos foi absolutamente inaceitável. A polícia e o clube encontram-se já a investigar o sucedido e o nosso desejo é que se faça justiça. Pedimos desculpa aos adeptos, aos treinadores e aos adeptos pelo que se passou. Lamentamos o que se passou com Vladimir Granat e repetimos que tal comportamento dos adeptos é completamente inaceitável.»

O jogo, aliás, já tinha sido interrompido, aos 73 minutos, quando o quarto golo do Dínamo motivou os adeptos a acenderem tantas tochas e tantos potes de fumo que a visibilidade no Estádio Petrovsky foi bastante afetada.

Depois da confusão por volta do minuto 86, árbitros, clubes e representantes da liga russa decidiram não continuar com o jogo. Na quarta-feira, haverá uma reunião do comité disciplinar para decidir se será decretada a derrota pelo resultado de 2-4 ou 0-3. O estádio do Zenit deverá ainda ficar interdito, sendo de esperar que a equipa treinada por André Villas Boas tenha de jogar entre um a cinco jogos noutro campo.

De qualquer das maneiras, o castigo irá transitar de época, uma vez que já só falta uma jornada para o fim do campeonato e o Zenit vai deslocar-se ao terreno do Kuban Krasnodar, do ex-benfiquista Melgarejo e do ex-sportinguista Xandão. Com a derrota deste domingo e a vitória do CSKA sobre o Tomsk, a equipa de Villas Boas, Danny e Neto foi ultrapassada no primeiro lugar e até acabou por beneficiar da também derrota do Lokomotiv frente ao Rostov. A tabela classificativa encontra-se agora desta forma:

1º CSKA – 61 pontos
2º Zenit - 60 pontos
3º Lokomotiv – 59 pontos


Quer isto dizer que resta ao Zenit esperar que o CSKA tropece à beira da meta. O atual campeão russo recebe o terceiro classificado na última jornada e, se ganhar, não dará hipóteses a Villas Boas. Se o CSKA empatar e o Zenit vencer, será o segundo a tornar-se campeão. Se o primeiro perder, bastará ao Zenit empatar, uma vez que tem vantagem no confronto direto, já que ganhou 2-0 em casa e perdeu 1-0 em Moscovo.

Também o Lokomotiv tem ainda uma possibilidade de chegar ao título: tem de ganhar em casa do CSKA e esperar que o Zenit não vença. Os jogos estão marcados para a próxima quinta-feira, às 15.30. Tal como o Maisfutebol tinha notado, são as equipas da capital russa a definir o sucesso ou insucesso de Villas Boas.

Pelo menos quatro adeptos do Zenit foram entretanto detidos pela invasão do relvado. As imagens, que têm corrido o mundo, não são assim tão raras num país que daqui a quatro anos vai receber um Mundial.

Em 2012, um adepto do Zenit atirou uma tocha contra o guarda-redes do Dínamo, Anton Shunin. O jogo foi interrompido e foi decretada a derrota à equipa da casa por 0-3. O clube foi multado em 1,3 milhões de rublos e teve dois jogos à porta fechada.



Já em outubro de 2013, adeptos do Spartak envolveram-se em confrontos com a polícia enquanto mostravam símbolos nazis. Dezenas de pessoas foram detidas.



Também o CSKA foi castigado pela UEFA por comportamentos racistas dos adeptos na Liga dos Campeões e vai jogar à porta fechada no próximo encontro das competições europeias.

Para tentar evitar a sucessão destes incidentes, a liga russa avançou recentemente com uma lei que possibilita que os adeptos mais problemáticos possam ser banidos dos estádios por um período máximo de sete anos. Se o adepto que agrediu  Granat for identificado, é isto que pode acontecer-lhe.