Na homenagem da Madeira ao filho pródigo Cristiano Ronaldo, o regresso da seleção portuguesa ao Funchal, 16 anos depois da última visita, valeu, pela primeira vez, uma derrota. Nos jogos realizados antes nos Barreiros (ainda na versão antiga), Portugal contava duas vitórias, sobre Suíça e Andorra, e um empate com Malta, há 30 anos.

Antes da deceção houve a festa para Ronaldo, e o capitão juntou-se-lhe, marcando o primeiro golo, no seu primeiro jogo internacional na ilha. Um golo que confirmou o seu melhor momento de sempre na seleção: são cinco jogos consecutivos a marcar, para um total de dez golos, desde que regressou da lesão sofrida na final do Euro. Atingindo os 71 na seleção, o capitão de Portugal iguala o histórico Miroslav Klose (Alemanha) na lista dos melhores de sempre e, na Europa, tem apenas os húngaros Kocsis (75) e Puskas (84) à sua frente.

Mas essa foi a parte boa, o pior veio depois. O desfecho, mais precisamente a forma como se consumou, trouxe também uma novidade: foi a primeira vez, na era Fernando Santos, que a seleção perdeu um jogo depois de estar em vantagem. Aliás, foi apenas a segunda vez, em 33 jogos com este selecionador, que o facto de marcar primeiro não foi sinónimo de vitória – a outra foi o empate com a Islândia, no arranque do Euro 2016.

Mais invulgar ainda, o facto de uma vantagem de dois golos se ter transformado em derrota. Em 96 anos de história e 586 jogos da seleção principal, apenas uma vez isso tinha acontecido: em 1985, num particular diante da Roménia, em Alvalade, que assinalou o primeiro golo de Paulo Futre com a camisola das quinas.

De certa forma, pode falar-se em retribuição do karma nesta vitória da Suécia: a reviravolta sueca imita, na perfeição, uma conseguida pela seleção portuguesa há 15 anos. Foi num particular em outubro de 2002, no estádio Ullevi, em Gotemburgo. Sob o comando de Agostinho Oliveira – Scolari chegaria no final desse ano – Portugal esteve a perder por 2-0, dando a volta com golos de Sérgio Conceição, Romeu e Rui Costa. E o terceiro golo chegou sobre a hora, como aconteceu esta noite.

Sete derrotas em particulares, apenas uma em jogos «a doer»

A derrota confirmou a tendência para as duas faces da seleção na era Fernando Santos, consoante os jogos são particulares ou competitivos. Desde que assumiu o cargo, em outubro de 2014, Fernando Santos orientou a equipa em 14 jogos de preparação, somando sete derrotas e sete vitórias. Já no que se refere a jogos competitivos, o saldo é o melhor de sempre: entre Campeonato da Europa e Mundial, foram 19 partidas, com 14 vitórias, 4 empates e apenas uma derrota (com a Suíça, no arranque desta qualificação).

E enquanto a tendência for esta, e não a contrária, não haverá grandes problemas – embora se compreenda a irritação demonstrada por Fernando Santos no final da partida, em especial pela falta de coesão defensiva demonstrada, uma autêntica traição aos seus princípios de jogo.

O jogo ficou ainda marcado pela estreia de Marafona, que se tornou o 24º internacional lançado por Fernando Santos em 33 jogos. A média impressiona: com 0,7 novos internacionais por jogo, o atual selecionador é o técnico mais renovador dos últimos 40 anos. E com o total de 24 novos nomes em dois anos e meio, já não está longe de atingir o número total de batismos promovidos por Luiz Felipe Scolari, que lançou 30 internacionais em 75 jogos, ao longo de seis anos. Marafona tornou-se também o 56º guarda-redes a vestir a camisola das quinas desde 1921 e o segundo lançado por Fernando Santos, depois de Anthony Lopes.

Quando o vídeoárbitro dá «show»

Mas nem só do jogo de Portugal se fez a animação desta jornada de seleções: em Saint-Denis, no particular de maior cartaz, a Espanha – invicta sob o comando de Julen Lopetegui, com seis vitórias e dois empates -venceu a França (2-0) num jogo em que a grande estrela, ofuscando mesmo a estreia a titular do jovem Mbappé foi… o vídeo árbitro. Nem de propósito: depois de ter sido anunciado com grande pompa, antes do jogo, o recurso à tecnologia evitou duas decisões erradas da equipa de arbitragem que teriam prejudicado a Espanha.

A primeira, num golo de Griezmann aos 49 minutos que o auxiliar validou, mas as imagens mostraram ter sido obtido em fora de jogo, levando o árbitro a reverter a decisão. A segunda, de sentido inverso, aconteceu aos 77 minutos, com o golo de Deulofeu a ser inicialmente invalidado, para depois ser considerado válido com recurso às imagens.

O processo nem levou tanto tempo como poderia pensar-se, e não prejudicou especialmente a fluidez de jogo, uma das grandes reservas em relação ao recurso a este meio. Assim, à luz das declarações recentes dos responsáveis pelo futebol internacional, tanto na FIFA na UEFA, este poderá ter sido o episódio que acabou com as dúvidas: o VAR, que já será utilizado nos jogos da próxima Taça das Confederações, veio mesmo para ficar.

Confira os particulares de seleções desta terça-feira

Em outro particular de primeiro plano, a Itália foi a Amesterdão acentuar a crise de uma Holanda recém-saída de chicotada psicológica. Já sem Danny Blind, com o interino Fred Grim nos comandos, a laranja não utilizou Bas Dost, e desperdiçou uma vantagem madrugadora, consentindo a reviravolta italiana (1-2) ainda antes do intervalo.

Em Sochi, na inauguração de um dos palcos do Mundial, a Rússia, adversária de Portugal na Taça das Confederações, empatou com a Bélgica (3-3), evitando uma segunda derrota consecutiva, três dias depois de ter sido batida pela Costa do Marfim. Mas precisou de uma «ajudinha» importante do guarda-redes belga Mignolet nos descontos:

Argentina: a altitude juntou-se ao fator Messi

Na ronda dos jogos de qualificação para o Mundial, o Irão, de Carlos Queiroz, bateu a China e está só a uma vitória dos festejos, que podem chegar já em junho, no embate com o Uzbequistão.

Na zona sul-americana, com o renovado Brasil a ser a primeira seleção a selar o apuramento, juntando-se à Rússia, e com a Colômbia a cumprir as expetativas na visita ao Equador (2-0), a notícia do dia chegou antes de a bola começar a rolar: a suspensão de quatro jogos aplicada pela FIFA a Lionel Messi lança uma sombra pesada sobre a campanha de qualificação da alviceleste. Quanto mais não seja por isto, que já se sabia antes do jogo com a Bolívia: nestas eliminatórias, com Messi, a Argentina tinha cinco vitórias em seis jogos. Sem Messi, tinha uma vitória em sete.

A tendência confirmou-se em La Paz, com a altitude a dar o empurrãozinho que faltava para os argentinos marcarem passo e sofrerem uma derrota embaraçosa. A quarta desta campanha e que, para já, os deixa fora da qualificação direta. E como será nos próximos três jogos?