O selecionador ucraniano, Oleksandr Petrakov, recusou deixar a Kiev após a invasão russa, contrariando as indicações que recebeu. Aos 64 anos, o treinador revelou que tentou alistar-se no exército para defender o seu país, mas a idade acabou por ser um entrave.

«A minha família disse-me para ir para o oeste da Ucrânia, mas recusei. Disse-lhes: 'Sou de Kiev, não posso sair'. Não posso correr, mas achei que não seria correto para as pessoas que têm de defender o país. Pensei que se os russos viessem para Kiev, iria pegar numa arma e defender a minha cidade», começou por dizer, em entrevista ao «The Guardian». 

«Tenho 64 anos, mas sinto que é normal fazer isto. Acho que podia matar dois ou três inimigos», acrescentou ainda. 

Imbuído no espírito de luta e resistência, Petrakov tentou alistar-se no exército ucraniano. «Disseram-me que tinha de assinar um contrato e que alguém me iria comandar. Ele [membro do governo ucraniano] disse-me: 'Seria muito duro. Não tens de fazer isto, tu és outro tipo de pessoa'. Eu tenho 64 anos, percebes?», relatou.

O selecionador da Ucrânia frisou que o povo do seu país tem ódio por Vladimir Putin e pelos invasores e acrescentou que não quer encontrar a Rússia num campo de futebol tão cedo.

«Não quero que isso [um jogo entre Ucrânia e Rússia] aconteça enquanto for vivo. Não quero apertar a mão a esses rapazes. Temos que construir um grande muro e fazer o que for possível para que possamos estar separados deles», sublinhou. 

Com o play-off de acesso ao Mundial 2022 com a Escócia por disputar, Petrakov partilhou ainda as conversas que manteve com os seus jogadores desde que a guerra eclodiu. 

«Falam comigo, dizem para eu me colocar a salvo, que não podem suportar a minha morte. A maioria dos pais dos jogadores continua na Ucrânia. Os jogadores estão preocupados», referiu.

O técnico colocou como hipótese preparar o embate com a seleção escocesa em Wembley. «Podíamos jogar em Wembley contra um clube de Londres. Seria um bom jogo de exibição e uma boa preparação para a Escócia. Sem jogos de preparação, será muito difícil conseguir jogar contra a Escócia», adiantou. 

Até lá, Petrakov vai permanecer no seu aparamento em Kiev na companhia da esposa, Irina, de 66 anos.

«Ela não suporto os bombardeamentos e as explosões. Por volta das 20h00, a minha mulher vai para o abrigo com o cão. Eu fico no apartamento. Seria melhor lutar com alguém se pudesse», concluiu.