Este já era o Europeu mais britânico de sempre, mas, com a confirmação do apuramento da República da Irlanda, torna-se também a fase final de uma grande competição com mais equipas das ilhas britânicas desde o Mundial de 1958, na Suécia.

Tal como naquela altura, quatro países irão representar aquela região geográfica no torneio, com a diferença que, desta feita, o número de vagas era bem maior: 23 (só a França estava garantida na prova), contra 9 destinadas às equipas europeias para aquele Mundial.

Na altura, os apurados foram Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e Gales. A qualificação galesa, a única para uma fase final antes desta, foi conseguida com repescagem. Israel integrava a qualificação asiática, mas, devido à crise do Suez, tanto Turquia, como Indonésia recusaram jogar em Israel e desistiram da participação. Os africanos do Sudão foram a última equipa a recusar o duelo, o que daria, automaticamente, uma vaga no torneio aos israelitas. Contudo, a FIFA não concordava que um país chegasse ao Mundial sem fazer, pelo menos, um jogo de qualificação. Por isso, sorteou um dos segundos classificados da zona europeia para um playoff. A honra coube a Gales que, assim, garantiu a quarta vaga para as ilhas britânicas no torneio.

Foi a primeira e única vez que todo o Reino Unido esteve numa fase final.

Agora, embora se iguale o número de países das ilhas, a Irlanda substitui a Escócia (ficaram no mesmo grupo, ambas atrás de Alemanha e Polónia), o que perfaz um três mais um: irlandeses e três países do Reino Unido.

No que a Campeonatos da Europa diz respeito, nunca mais de dois países das ilhas britânicas tinham marcado presença na fase final. A última vez foi, precisamente, em 2012, quando Inglaterra e República da Irlanda jogaram o Europeu da Polónia-Ucrânia. Antes, também em 1992 e 1996 (Inglaterra e Escócia) e 1988 (Inglaterra e Irlanda), dois países representaram aquela região.

No Mundial, além do histórico Suécia 58, por três vezes três países das ilhas britânicas estiveram na fase final: Inglaterra, Escócia e Irlanda do Norte no Espanha 82 e México 86; e Inglaterra, Escócia e Irlanda no Itália 90.

Um norte-irlandês no banco e um «inglês» herói

A liderar a seleção da República da Irlanda está…um norte-irlandês. Nascido na pequena cidade de Kilrea, Martin O’Neill é um dos mais conceituados técnicos britânicos da atualidade e um velho conhecido dos portugueses. Era ele o treinador do Celtic de Glasgow que perdeu a final de Sevilha para o FC Porto em 2003.

Na altura, no banco estavam dois dos mais promissores técnicos do futebol europeu. O’Neill também treinaria em Inglaterra (já antes por lá tinha passado), como Mourinho, mas sem o sucesso do português.

Como futebolista, O’Neill fez parte da equipa do Nottingham Forrest que foi bicampeã europeia em 1979 e 1980 e jogou, também, o Mundial de Espanha pela sua Irlanda do Norte. Como treinador não tem propriamente um currículo de tirar o fôlego: três vezes campeão escocês com o Celtic e vencedor de duas Taças da Liga inglesa pelo Leicester.

O apuramento da República da Irlanda para o segundo Europeu consecutivo, repetindo o feito das seleções de 1988 e 1992, entra para a sua lista de feitos alcançados. A missão, agora, passa por fazer melhor do que a equipa de Giovanni Trapattoni em 2012. Na altura, a Irlanda foi claramente a seleção mais fraca em prova: perdeu os três jogos, sofreu nove golos e só marcou um.



Esta seleção irlandesa ainda tem históricos como Robbie Keane ( que não jogou mas deu nas vistas...) ou John Oshea, além do herói do playoff, autor dos dois golos da vitória no Estádio Aviva: John Walters. Ele que nasceu em…Liverpool.

Para além de um treinador que veio da vizinha Irlanda do Norte, os irlandeses festejam, esta segunda, graças a alguém que nasceu em Inglaterra. Walters é filho de mãe irlandesa e desde cedo optou por representar o país da mãe, entrando logo nos sub-21. Fez, contudo, toda a carreira em clubes ingleses (excetuando uma passagem pelos galeses do Wrexham em 2005/06).

Apesar de se ter estreado pelos sub-21 com dois golos numa vitória sobre a Suíça, só em 2010, com 27 anos, foi chamado à seleção A, por Trapattoni, tendo marcado também no playoff de acesso ao Europeu, frente à Estónia.
 

Campeonatos na Irlanda não contam

Com o apuramento da República da Irlanda para o Europeu, sobem para duas as seleções que chegaram à fase final sem utilizar qualquer jogador de um clube local.

Martin O’Neill socorreu-se essencialmente de jogadores que militam em clubes ingleses. As exceções são Robbie Keane ou Kevin Doyle, que jogam na Major League Soccer.

Além da Irlanda, só outra seleção não utilizou qualquer jogador dos seus clubes entre as que estão apuradas: a Irlanda do Norte.

Pela primeira vez, Irlanda e Irlanda do Norte vão estar na mesma fase final. Mas os campeonatos da ilha não contribuiram em nada para o feito.