Um alto dirigente do futebol italiano chamou lésbicas às jogadoras de futebol do país. Em protesto, as equipas que, no próximo sábado, iam disputar a final da Taça de Itália decidiram não jogar. Pedem-se mudanças no calcio, que já não passam só pela demissão do alegado homófobo.

Felice Belloli é o acusado. A frase homofóbica aconteceu em pleno conselho do departamento do futebol feminino da Liga Nacional do futebol amador italiano (LND) – organismo dependente da federação italiana (FIGC). Belloli, o presidente da LND, é acusado de ter dito: «Basta! Não se pode estar sempre a falar em dar dinheiro a estas quatro lésbicas.»

A frase dita na reunião do passado dia 5 de março foi agora revelada pondo em polvorosa o futebol italiano. Belloli negou ter sido o autor do comentário. A frase foi passada para a ata da reunião pelo seu vice-presidente, Antonio Cosentino, responsável pelo futebol feminino que enviou posteriormente os documentos para a Procuradoria italiana.

O caso tomou dimensão nacional, já se pediu, inclusive, a intervenção do primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, além das exigências de demissão do dirigente italiano desde que o semanário transalpino «Soccer Life» denunciou as palavras atribuídas a Belloli com a publicação da ata. O fim de semana já foi marcado por protestos nos jogos de futebol feminino e para esta quinta-feira já se anunciam decisões institucionais.

Mas a pressão não parou. E a Taça de Itália feminina entre o Brescia e o Tavagnacco ficou suspensa com os clubes a recusarem jogar enquanto Belloli se mantiver em funções.
 


E a demissão de Belloli passou apenas a ser um dos pontos das mudanças que, aproveitando a embalagem desta atenção, o futebol feminino italiano pretende. «O futebol feminino pede a demissão imediata» de Bolleli na sequência da sai frase «sexista» e, «sobretudo, a saída da LND e a sua total autonomia», lê-se no site do Tavagnacco como conclusão de uma reunião onde estiveram jogadores e treinadores da Serie A e da Serie B apoiados pelas respetivas associações de classe.

O caso já vai para além da demissão de Belloli, cuja situação deverá ter desenvolvimentos já nesta quinta-feira. O dirigente está com o cerco mais apertado e já se diz em Itália que ele vai sair. Durante o dia, o «Corriere dello Sport» reforçava que há duas testemunhas a confirmarem que foi ele quem disse a frase naquela reunião; ao mesmo tempo que o próprio «Socce Life» informava que Belloli negava a autoria das palavras e que não se demitia.

Enquanto o semanário italiano relacionava Belloli com um processo de «assédio sexual» por queixa de duas trabalhadoras, nas redes sociais já se tinha recordado durante a semana «recaídas» do homem em questão.
 



O jornal «La Gazzetta dello Sport» ainda garantia nesta quarta-feira que «ele não se demite» e que a «desconfiança» sobre belloli passava para este dia seguinte, quando se reunirá o conselho da LND. E foi também o «Soccer Life» a dizer, já ao final da noite, que Felice Belloli «já tinha pedido caixas para arrumar as suas coisas e demitir-se». À agência «ANSA», o presidente da FIGC, Carlo Tavecchio, garantiu: «Esperamos decisões ou intervimos.»

[fotografia do artigo: site UCP Tavagnaco]