23 de março de 1980, a vida de Paolo Rossi a andar para trás. O prometedor ponta-de-lança italiano, a jogar no Perugia, vê-se envolvido no processo Totonero e sai diretamente do estádio para a esquadra.

A mega operação nasce de uma queixa de Alvaro Trinca e Massimo Cruciano, dois apostadores e anónimos comerciantes de Roma. Tudo estaria, na versão da acusação, combinado entre a Máfia, dirigentes e jogadores, de forma a que os envolvidos ganhassem muito dinheiro no arranjo de resultados.

Entre eles, supostamente, Paolo Rossi. As detenções são transmitidas em direto pelo canal público italiano, RAI, no programa 90º minuto. Três mil Carabinieri, espalhados por todo o país, transformam o caso em verdadeiro escândalo mundial.

PARTE 1: «Hat-trick ao Brasil abriu-me a porta do céu»


PARTE 3: «Messi ou Ronaldo? Aposto no Neymar»


Paolo Rossi clama sempre inocência, desde o início. Volta a fazê-lo nesta entrevista exclusiva ao Maisfutebol. É suspenso por 23 meses pela justiça desportiva, mas absolvido mais cedo do que o previsto.

Só essa benesse judicial e a teimosia cega do selecionador Enzo Bearzot permitem a convocação de Paolo Rossi para o Campeonato do Mundo de 1982, de resto.

A 30 de abril desse mesmo ano, a pena de Paolo Rossi chega ao fim. O ponta-de-lança faz três jogos pela Juventus [os únicos em mais de dois anos] e convence o treinador. A crítica e os adeptos não poupam a opção, aparentemente incompreensível.


Roberto Bruzzo, melhor marcador da Serie A nessa época, fica de fora. Os dirigentes da AS Roma juntam-se ao coro de impropérios.

Confrontado pelo nosso jornal com este período negro da carreira, Paolo Rossi reage serenamente, sem entrar em detalhes.

«Os dois anos de pena, absolutamente injustos, roubaram-me o desejo de jogar, é verdade. Mas quando voltei tinha tanta raiva acumulada que rapidamente me esqueci dos momentos maus», responde Paolo Rossi.

Paolo Rossi: o top-10 dos golos na Juventus:



Depois, é o que se sabe. Não marca nos primeiros quatro jogos da Itália, mas faz um hat-trick ao Brasil, mais dois à Polónia e outro mais na final à Alemanha. Uma vendetta?

«Não foi uma vingança, mas uma manifestação pública da minha indignação, só um mês depois de ter voltado a jogar», explica Paolo Rossi, sempre afável e calmo.

Pablito, então com 26 anos, recupera a credibilidade e um lugar no cuore degli italiani.

«Pretendi provar, a todo o mundo, que continuava a ser o melhor ponta-de-lança do mundo. O rapaz que conquistara toda a gente quatro anos antes, no Argentina-78, continuava a existir e estava melhor do que nunca».

Paolo Rossi faz mais três anos na Juventus [joga a final da Taça das Taças contra o FC Porto, em 1984], transfere-se para o AC Milan e fecha a vida de futebolista no Hellas Verona, em 1986/87.

Curiosamente, Rossi ainda é chamado por Enzo Bearzot ao Mundial-86, no México, mas nunca sai do banco de suplentes. Os avançados titulares são Alessandro Altobelli e Giuseppe Galderisi. Sim, o ex-treinador do Olhanense. Gianluca Vialli e Aldo Serena também andam por lá.

Golo de Rossi na final do Mundial-82: