O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

IVO PINTO, DÍNAMO ZAGREB (CROÁCIA)

«Olá leitores do Maisfutebol,

Nesta altura que escrevo mais uma crónica para vocês, o meu clube, o Dínamo de Zagreb, ainda vive uma situação complicada. Tivemos uma série de resultados menos bons e o nosso treinador foi despedido.

Esta é a segunda chicotada psicológica esta época e, infelizmente, esta mudança constante de treinadores tem sido habitual nas minhas últimas temporadas. Algo semelhante aconteceu quando representei o Cluj, da Roménia, e a União de Leiria.

Claro que, quando os maus resultados aparecem, a culpa não é só do treinador, porque houve jogos em que a equipa esteve mal. Mas um clube não pode mudar 25 jogadores de uma só vez e é normal que seja o treinador a sair, o que não quer dizer que seja mau no seu trabalho. 

Simplesmente não obteve os resultados desejados. Só espero que a mudança no comando técnico ajude a inverter a situação e que consigamos os resultados desejados. Neste sábado, por exemplo, vencemos o Lokomotiv de Zagreb por 3-0 e voltei a jogar os 90 minutos.

Por sermos o clube mais popular da Croácia, somos praticamente obrigados a ganhar todos os jogos a nível interno. Para os adeptos, um empate é como se fosse uma derrota. Os adeptos deste clube são muito exigentes, como acontecem em todos os grandes clubes, mas leais. 

Apoiam-nos sempre no estádio, mesmo quando estamos em desvantagem. É natural que fiquem chateados quando o Dínamo não ganha. Eu também fico e nessas situações até evito sair a rua, não com medo dos adeptos, mas porque sou ambicioso e não gosto de perder. 

Quando saio à rua em Zagreb, as pessoas sabem quem eu sou, algo que em Portugal só acontece na minha terra, em Lourosa, e algumas tomam a iniciativa de me abordar. Normalmente, pedem autógrafos, querem tirar fotografias, falam sobre o último jogo e desejam boa sorte para o próximo. Como não é um mediatismo em excesso, este reconhecimento é muito bom.

Na Croácia, há dois grandes clubes: O Dínamo de Zagreb e o Hadjuk Spilt. A parte norte do país é mais afeta ao Hadjuk, enquanto na zona capital é onde o Dínamo tem os seus adeptos. Mas, ao contrário do que acontece em Portugal, em que os grandes jogam praticamente em casa em todos os jogos, as pessoas torcem muito pelo clube da sua cidade e quando jogamos fora, jogamos mesmo fora. Isto é, temos sempre os adeptos do adversário em maioria no estádio.

Neste país, há muito a tradição das claques, que costumam até utilizar tochas no estádio. A Federação croata já recebeu alguns avisos da UEFA sobre essa situação e, senão conseguir controlar, há o risco de ficar excluído nas competições europeias.

Na Roménia, os adeptos também eram fantásticos e, como não havia autoestradas no país, os adeptos costumavam viajar seis/sete horas para acompanhar a sua equipa. Enquanto estive no Cluj, as abordagens na rua eram ainda mais frequentes, mas também estive lá um ano e na Croácia só estou há alguns meses.

Devido à excelente campanha que o Cluj fez na Liga dos Campeões, todo o país me conhecia. Ainda esta semana recebi uma mensagem de um fã romeno a lamentar o facto de eu não ter continuado, mas a desejar-me tudo de bom para a minha carreira e a dizer que eu era um grande jogador. Manifestações como estas aumentam sempre a motivação de um atleta.

Até breve,

Ivo Pinto»