Explicando o título.

Mantenho esta coluna há treze anos, desde o nascimento do Maisfutebol. Por norma não escrevo sobre árbitros e casos de arbitragem, mas todos os anos crio uma ou duas exceções à minha própria regra. Daí eu contar, por alto, 25 artigos como este.

Sim, porque genericamente escrevo o mesmo há mais de uma década, o que faz de mim um tipo coerente ou muito burro (o leitor pode escolher).

E o que escrevo eu? Isto.

1. Os árbitros erram.
2. Os erros dos árbitros são como as bolas na trave: acontecem.
3. Acredito que os erros dos árbitros, como as bolas na trave, são distribuídos de forma absolutamente casual (é aqui que muitos leitores gritam «és mesmo burro», mas pronto).
4. A análise dos erros dos árbitros feita pelos clubes é doentia.
5. As palavras dos elementos dos clubes sobre erros dos árbitros são quase sempre desequilibradas, visam apenas defender a sua camisola e denotam total ausência de empenho em contribuir para melhorar a arbitragem, logo o futebol.
6. Os dirigentes são piores do que os árbitros e erram muito mais. Por isso escondem-se atrás dos árbitros, sempre que podem.

Esta época um dos meus dois artigos sobre arbitragem surge mais cedo por causa da grande penalidade de Pedro Proença, no Dragão. 

O penálti fora da área, no Estoril, foi grosseiro. Mas achei normal, aquele árbitro é fraco, o que o deixa sempre mais próximo dos lapsos.

O penálti por assinalar no Sporting-Rio Ave também foi evidente. Mas faz parte, quase tudo se vê de forma mais evidente na televisão do que no relvado. Acontece e aquele árbitro também nunca me convenceu.

Depois aconteceu o erro de Pedro Proença e do auxiliar. Ou do auxiliar e de Pedro Proença.

Ambos são muito bons, dos melhores que existem em Portugal e no Mundo. O lance era muito simples, acontece dezenas de vezes. O avançado pega na bola e já na área faz de conta que foi alvejado do cimo de um telhado, como nas séries americanas. Árbitro e auxiliar estavam ali perto, achei que um cartão amarelo resolveria o caso. 

Nada disso sucedeu, como se sabe.

Como Jorge Jesus, eu gosto de trabalhar sobre pressão. Mas há atividades em que fazer pressão pode resultar muito mal. Um cirurgião, um controlador de tráfego aéreo, um árbitro. Imagino-os sempre com direito a oito horas de sono, refeições cuidadas, ausência de stress na vida lá fora, para que depois possam decidir bem, serenos.

O que está a suceder com as equipas de arbitragem é que os clubes estão a colocá-los sobre enorme pressão. E, conclusão minha, isso está a potenciar os erros. Se um árbitro como Pedro Proença faz aquilo, que esperar dos outros?

Todos sabemos que os erros dos árbitros vão continuar. Essa é a única certeza. O que está por criar, há anos, é um espaço de serenidade que permita aos árbitros errar. Errar de forma magnífica, grandiosa. Errar e depois analisar, tentar melhorar. Mas errar sem pressão, errar sem suspeitas, errar com o mínimo ruído possível. 

Não formamos dirigentes que entendam como funciona um árbitro, por isso só resta ao futebol desfazer-se dos péssimos dirigentes que tem, alguns dos quais andam por cá há décadas. Como isto não sucederá, acabo por concordar com Carlos Carvalhal.

NOTA: este Verão dei formação, em comunicação, a treinadores e árbitros, a convite da Federação Portuguesa de Futebol. Isto permitiu-me confirmar uma ideia que já tinha: trabalha-se muito bem nestas duas áreas, há pessoas experientes e competentes. Não é por acaso que temos treinadores espalhados pelo mundo e diversos árbitros internacionais. Evidentemente que nem tudo está bem, porque nunca estará tudo bem. Apesar de lamentar que alguns treinadores não resistam à tentação de imitar que lhes paga o ordenado, não tenham dúvidas de que o maior problema são os dirigentes. Hoje como há 30 anos. E nos próximos 30, provavelmente.