10h37. Ligeiramente atrasado, o Maisfutebol chegou ao estádio Rei Ramiro, casa do Candal da AF Porto para conhecer o local onde os passes de James Rodríguez encontram os remates de Bruno Fernandes.

Confuso, caro leitor? É simples. Durante o curto período de férias, o internacional português e o colombiano estiveram na cidade do Porto e recorrerem à IFT - um programa de treino individual - para se manterem em forma e trabalharem alguns aspetos individuais.

Como é que os dois craques descobriram este projeto? Sentado num dos camarotes do recinto, Francisco Matos, um dos responsáveis pela ideia, explica-nos.

«Quem vem cá, passa a palavra. Tivemos aqui o Rui Pires e bastou ele colocar um vídeo que vieram logo jogadores conhecidos deles. O caso do Afonso Figueiredo [aponta para o lado] veio cá e depois o Soares [ex-Gil] perguntou-lhe. O caso do James foi idêntico. Viu na internet, uma pessoa conhecida de ambos abordou-nos e ele veio. O Bruno Fernandes já está connosco há algum tempo. Sempre que está pelo Porto, aproveita e vem treinar», começou por contar ao nosso jornal.  

Francisco acrescenta que os planos para o treino não são impostos, mas sim, são traçados após um diálogo com os jogadores. 

«Houve uma pequena conversa com o James antes dos treinos de forma a que a planificação fosse de encontro ao que ele precisava. O treino não foi nada diferente do que fazemos com o Afonso, mas teve mais mediatismo. Ele veio uma vez ao final da tarde e os miúdos estiveram todos a ver. Não ficámos surpreendidos pela forma como encarou o treino. Se ele vem cá, é porque quer e gosta de trabalhar. O Afonso sai daqui a pingar e o mesmo aconteceu com o James. O feedback do James foi muito bom, porque não estava habituado a este tipo de trabalho e de detalhe», referiu.


O treino de James:
 

 


Se leu até aqui, caro leitor, entendeu que Afonso Figueiredo (ex-Desp. Aves) é um dos jogadores que recorreu a este tipo de treino mais específico. Sentado ao lado de Francisco Matos, o lateral-esquerdo, que descobriu o projeto através de um amigo, sublinhou que este género de treino específico é o futuro do futebol.   

«Durante a época fazia um trabalho complementar aos treinos no clube mais focado no ginásio. Entretanto vim cá e percebi que era completamente diferente do treino de ginásio. Tenho muito mais prazer em vir aqui do que ir ao ginásio. Se continuar em Portugal, continuarei a vir. Acho que é o futuro. Nos clubes não há tempo para trabalharmos aspetos individuais. O único problema é os clubes não concordarem que os jogadores façam isto, o que não faz sentido nenhum. Era preferível que o jogador estivesse a beber uma sangria à beira mar?», questionou.

Sem clube desde que deixou o clube avense, Afonso Figueiredo confessou sentir melhorias, sobretudo no pé menos forte.

«O meu pé direito é só para correr e andar e desde que estou aqui já faço uns golos. Isto é o futuro do futebol», disse, entre risos.

 No fundo, o IFT, abreviatura de Individual Football Training na língua de Shakespeare, está para o futebol como um explicador.

«Isto é um complemente individual que em nada substitui o treino coletivo. É como se fosse uma explicadora da escola. Frequentas as aulas e no final do dia vais aprender pequenos aspetos que te podem ajudar no desempenho escolar», sublinha Francisco antes de falar sobre Bruno Fernandes, outro futebolista com quem trabalhou este verão.

«O caso do Bruno… Depois do treino, ele ficava a bater livres, penáltis e ainda dava corridas. O Afonso e Soares ficam da mesma forma. Eles elevam o seu grau de exigência. Só o simples facto de o Bruno ter vindo a primeira vez e de ter repetido, é um reconhecimento para nós.»

Em suma, a ideia é que os jogadores aprimorem questões técnicas e pequenos momentos e que o transportem para o contexto de jogo.

«Os jogadores procuram aprimorar todos os pequenos detalhes como o primeiro toque, o jogo aéreo, situações de cruzamento, de drible ou de velocidade na tomada de decisão neste período de interregno. São pequenos detalhes que os ajudam a ganhar confiança na dinâmica de jogos deles. São um completamente para eles se sentirem preparados para iniciarem a época desportiva.  Se um jogador individualmente está mais forte, a equipa vai ganhar com isso», resumiu Francisco.

Sentado à nossa direita, outras das mentes por trás do projeto, Álvaro Madureira, alerta-nos para os diferentes perfis dos jogadores.

«Percebemos a humildade de quem treina pelo saber receber. Eles podiam dizer: ‘Quem são vocês?’. E nós teríamos de aceitar. O Afonso, por exemplo, chegou cá e mostrou-se recetivo a aprender. O perfil dele depois vai dizer se algumas coisas que aplicam ou não. Queremos, acima de tudo, que tenham à vontade. O Afonso pode fazer dez pontapés de bicicleta seguidos com o pé direito, não quer dizer que vá fazer no jogo. Mas já se sente mais confortável com o pé direito. Tem de existir um equilíbrio entre o que ele precisa e o seu perfil», lembrou.

A conversa fluiu com naturalidade. Francisco volta atrás no assunto para referir que a forma de treinar pode variar consoante o que se pretende corrigir.  

«Fazemos ou trabalho individual ou em pequenos grupos com quatro jogadores no máximo. A situação ideal é ter um treinador e dois jogadores para que seja possível trabalhar o detalhe que queremos. Imagina que no planeamento do Afonso queremos que ele se sinta confortável com o pé direito. Construímos o treino para que ele ganhe outra dinâmica nessas ações e depois enquadramos em situações de jogo, tendo em conta a sua posição», disse.

«Contextualizámos alguns movimentos com o Afonso, movimentos que ele sabe que lhe vão ser pedidos em jogo. Se os automatizar aqui, no jogo talvez não arrisque, mas está mais predisposto a arriscar. Com a repetição, sentes-te mais cómodo e acabas por fazer sem teres de pensar nesses movimentos», acrescentou Álvaro Madureira.

Enquanto Soares (ex-Gil Vicente) trabalha no relvado, a conversa está no final. A última palavra é sempre dos jogadores, não é verdade?  

«A comparação da explicadora da escola faz sentido. Uma vez tive explicações de história e passei do 12 para o 18. Só estou à espera de encontrar clube para ver os resultados», concluiu Afonso Figueiredo, entre risos.  

Veja na galeria os craques que já passaram pela IFT.

Fotos: Manuel Oliveira | IFT