Assistir a chicotadas da Liga deixou de ser uma grande novidade. De qualquer forma, o cenário desta jornada é particularmente curioso: a competição despede-se de dois treinadores com enorme currículo. Aliás, Jesualdo Ferreira e Henrique Calisto eram e são exemplos de longevidade no escalão principal do futebol português.

A experiência, aparentemente, já não é um posto. Jesualdo (67 anos) e Calisto (60) eram os dois treinadores mais velhos na prova, mas bem mais que isso. O treinador que saiu do Paços de Ferreira fez a sua estreia na Liga há mais de três décadas!

Henrique Calisto surgiu no escalão principal durante a temporada 1980/81, no comando técnico do Boavista, com apenas 26 anos. Jesualdo Ferreira surgiria na época 1984/85, orientando a Académica de Coimbra.

No panorama atual, Jorge Jesus (59 anos) e Manuel Machado (58) são os que mais se aproximam de Jesualdo e Calisto no que toca à longevidade. Porém, são ligeiramente mais novos e chegaram à Liga mais tarde. O treinador do Benfica fez a sua estreia em 1995/96, pelo Felgueiras, e o responsável técnico do Nacional surgiu em 2002/03, com o Moreirense.

O fenómeno José Mourinho abriu caminho para uma aposta tremenda em técnicos mais novos, reduzindo o espaço para os nomes mais experientes. Porém, os exemplos citados foram resistindo a esta vaga. Não resistiram, porém, à incontornável urgência de resultados.

Jesualdo Ferreira iniciou a temporada no Sp. Braga, após passagens por Espanha e Grécia, antes de período pouco feliz no Sporting. Os leões terminaram a época com o pior registo de sempre na Liga.

António Salvador fez uma aposta no treinador que lançou as bases para os Guerreiros do Minho. Porém, o regresso a Braga não correu da melhor forma para Jesualdo.

Nem sempre faz sentido regressar a uma casa onde se foi feliz. As circunstâncias mudam.

Henrique Calisto é outro exemplo de um regresso que termina da pior forma. Em Braga, Jesualdo pegou na equipa desde a pré-época e os resultados provam que não haveria condições para a relação continuam. Em Paços de Ferreira, Calisto entrou no comboio em movimento e foi apanhado de surpresa pela decisão dos órgãos diretivos do clube.

Após uma goleada na visita ao Vitória de Setúbal (4-0), o P. Ferreira avançou para a rescisão com o experiente treinador. Algo que o próprio não entende, como fez questão de explicar ao Maisfutebol, nesta segunda-feira.


O sétimo lugar e as meias-finais da Taça de Portugal

Jesualdo Ferreira deixa o Sp. Braga no sétimo lugar da Liga, a nove pontos do quarto classificado (Estoril) e a quinze do pódio. O afastamento prematuro da Liga Europa, frente ao Pandurii, foi o enorme rombo inicial para uma nau que oscilou ao longo dos últimos meses.

Para além da Liga, a formação arsenalista tem ainda a Taça de Portugal. Detentor em título da Taça da Liga, o Sp. Braga saiu da prova nas meias-finais, frente ao Rio Ave. A formação vila-condense surgirá no seu caminho uma vez mais, nas meias-finais da Taça de Portugal.

O técnico não conseguiu disfarçar as carências de um grupo com 17 caras novas. Os resistentes Custódio e Alan, coadjuvados pelos entusiasmantes Rafa Silva e Pardo, foram insuficientes para manter a equipa do Minho no nível a que estava habituada. Desfecho natural. 

Leia a análise ao trabalho de Jesualdo em Braga.

Calisto surpreendido e a lembrar os nove pontos

O Paços de Ferreira, após o sensacional apuramento para as pré-eliminatórias da Liga dos Campeões, procurou reinventar-se em torno do estreante Costinha mas não foi feliz. Após a inevitável chicotada, virou-se para um nome conhecido, solução já utilizada em situações anteriores: Henrique Calisto.

O experiente técnico levou a equipa para outro patamar competitivo mas os castores terminaram a 20ª jornada com a «lanterna vermelha», agora sem a companhia do Olhanense. Uma goleada no reduto do V. Setúbal (4-0) motivou o divórcio.

«Não fui eu que abandonei, foi uma decisão do clube e fiquei muito surpreendido. Não compreendo. A decisão da direção fundamenta-se nos resultados desportivos, mas neste período nós fizemos 9 pontos, o Gil Vicente fez cinco, o Belenenses fez oito, e o Olhanense oito, que são os clubes que estão à nossa frente. É uma verdadeira injustiça», disse Calisto ao Maisfutebol.

Uma saída injustificada, de acordo com o treinador: «Tivemos de transformar a equipa, reformular o plantel, em janeiro, e isso demora tempo. Tirando o jogo de Setúbal, em que fizemos uma péssima exibição, a crítica tem sido unanime em dizer que a equipa estava a jogar bem.»

Todas as declarações de Henrique Calisto ao Maisfutebol.

A experiência já não é um posto. Jesualdo Ferreira e Henrique Calisto despedem-se, pelo menos por agora, da Liga portuguesa. A quinta e sexta chicotadas da época, após seis jornadas sem mexidas nesse capítulo.

O V. Setúbal trocou José Mota por José Couceiro à 7ª jornada. O Olhanense já mudou por duas vezes (Abel Xavier e depois Paulo Alves), tal como o Paços de Ferreira (Costinha e Henrique Calisto). Agora chega a vez do Sp. Braga, com a saída de Jesualdo.