Parte da conferência do treinador do F.C. Porto, esta sexta-feira, tornou-se numa autêntica aula de pressupostos futebolísticos quando se tocou na vocação de Jesualdo Ferreira para fazer «crescer os miúdos».
«Eu acho que um mister é obrigado a fazer crescer jogadores, tenham eles que idade tiverem. Ninguém entende o meu jogo se não souber fazer o que o jogo exige. E é obrigação do treinador ensinar o jogador. Quando um atleta falha um passe ou uma recepção, a culpa também é do treinador», declarou Jesualdo.
O treinador campeão lamentou que se ignore tantas vezes questões importantes do futebol, como a qualidade táctica de uma equipa, em detrimento dos momentos individuais dos jogadores: «O jogo é fundamentalmente táctico, algo que tem de pensar-se. Muitas vezes se despreza a capacidade táctica de uma equipa, vê-se a finta, o movimento de um jogador, mas não se olha para a estrutura e comportamento colectivo de uma equipa».
«Figo, Ibrahimovic e Messi podem ser melhores»
O treinador dos dragões explicou aos jornalistas que há sempre forma de melhorar a capacidade de cada atleta, bastando, para isso, que eles próprios o queiram e que o mister saiba ensiná-los.
«Os jogadores só crescem se quiserem crescer, esforçando-se para isso. O nosso futebol actual tem setenta ou oitenta por cento de jogadores medianos e dez ou vinte por cento de génios. O meu conceito de trabalho é que um jogador de 34 ou 35 anos, seja ele o Figo, o Ibrahimovic ou o Messi, podem sempre aprender. Podem sempre crescer em qualquer coisa, em qualquer altura», garantiu Jesualdo, antes de pormenorizar os processos de crescimento que considera existir.
«O jogador novo tem sempre períodos de aprendizagem mais difíceis, porque sabe menos e tem que conseguir aguentar um determinado ritmo e exigência. O jogador maduro tem dificuldade em aprender porque tem que desmontar o que sabia, tem que mudar o chip e tem pouco tempo para o fazer. Quando um jogador chega tem que ser visto, analisado, sentido. Há que lhe procurar talentos e defeitos e trabalhá-lo. O mais interessante é o jogador ter algo dele, uma finta, um movimento¿ o treinador deve pôr-lhe outros pressupostos, apresentar-lhe novas soluções para o seu jogo. Havendo disponibilidade, o jogador cresce», defendeu o professor dos dragões.
Cissokho sem chapéu, mas com qualidade
Aly Cissokho foi um dos dragões em maior destaque no jogo com o Manchester. O lateral francês não se cansou de gabar o treinador à imprensa do seu país nos últimos dias, «tirando-lhe o chapéu». Jesualdo reagiu com boa disposição aos elogios do pupilo e retribuiu na mesma moeda.
«O Cissokho não tem chapéu, coitadinho. (risos) O Aly é o típico jogador de que acabei de falar. É o modelo: novo, pouco experiente, com conhecimento rudimentar do jogo - que joga na Playstation ¿ um potencial fabuloso e uma apetência tremenda para aprender, tal como o nosso menino do meio (Fernando). Qualquer informação que lhe seja passada, ele absorve e põe em prática. Depois tem outra qualidade que é: não sabe, pergunta. Viu-se metido num filme destes [jogo em Old Trafford], uma clara novidade para ele e ficou espantado com o que o F.C.Porto foi capaz de fazer em Inglaterra», rematou Jesualdo.