A história de Jesus no Benfica começou em 2009. De épocas anteriores vinha um forte investimento, continuado na sua era, acrescentando qualidade. O título chegou logo no primeiro ano e por aí ficou. Juntam-se três Taças da Liga. A chegada aos quartos-de-final da Liga dos Campeões, a presença numa meia-final e na final da Liga Europa devolveram ao Benfica relevo na Europa. Alguns jogadores foram valorizados, houve vendas de sucesso.

O principal objectivo foi conseguido apenas uma vez em quatro anos. Do meu ponto de vista é curto face ao investimento e à qualidade existente. Mas na decisão, Luís Filipe Vieira valorizou também outros aspectos.



Nos últimos 15 dias desta época o Benfica jogou e perdeu tudo o que havia para ganhar. A renovação de JJ foi sendo tabu, alimentado com diversas declarações. LFV anunciou um princípio de acordo, com as derrotas a obrigarem JJ, segundo ele, a pensar. O último jogo da época, no Jamor, foi traumatizante para todos os benfiquistas e revelou uma vez mais a fragilidade de Jesus. Não por causa do comportamento demonstrado por Cardozo (inadmissível, com caminho para a saída, com ou sem Jesus), mas devido à forma como vinha reagindo aos desaires, quer na imagem quer no discurso. As derrotas fizeram grande mossa.



Jesus acabou por ser um dos derrotados e sobre ele recaiu a atenção. Os dias seguintes colocaram os adeptos em geral, e os benfiquistas em particular, a discutir se Jesus devia ficar ou sair. Para LFV, Jesus foi sempre o seu treinador e a firmeza demonstrada foi esclarecedora. Alguns dias depois, a decisão da sua renovação chegou por comunicado mas sem palavras dos dois.



Jesus refugiou-se, remeteu-se ao silêncio e até ao momento não falou.



Mas porquê tanta indecisão?



O que levou Jesus a protelar a decisão se o princípio de acordo existia entre os dois? Foi a esperança em sair como grande vencedor no final e colocar novas condições? Foram as derrotas que criaram dúvida em si próprio? Era esperar para ver e decidir no final? Havia outro(s) clube(s)?



E Vieira? Ficou numa encruzilhada e não teria outra hipótese se não ficar com Jesus? Ou simplesmente acredita que é o homem certo para os destinos do clube? Provavelmente não saberemos e nesta altura pouco importa. A renovação está acertada e os próximos meses serão determinantes para ver até que ponto esta relação pode durar.



Um ciclo de quatro anos fechou-se e um novo vai começar. Importa perceber o que esteve errado e quais as fraquezas reveladas e ter a humildade para reconhecer e sair mais forte. Aqui, Jesus terá de fazer uma autocrítica e perceber que apesar do seu conhecimento e capacidade, nestes quatro anos como líder cometeu erros que o levaram a perder. Reconhecer isto fará com que esteja mais perto do que pretende.



Não há tempo a perder. A próxima época está a chegar e com ela novos desafios. Para o Benfica, naturalmente, mas sobretudo para Jesus. O treinador terá pela frente o maior desafio das cinco épocas que inicia no clube. O risco, a pressão, a exigência e a responsabilidade serão ainda maiores e a tolerância, a meu ver, será pequena.



Penso que todos têm consciência disso e essa é provavelmente a melhor forma de começar: encarando as dificuldades e os novos desafios. O Benfica e LFV fazem o seu papel. O investimento continua e a aposta no reforço da qualidade no plantel é evidente. Não há melhor indicador do que este. O Benfica quer voltar a ganhar. LFV disse após as derrotas que o Benfica quer fazer a mesma coisa mas com um fim diferente. A mensagem está passada e não me parece possível que Jesus, apesar dos dois anos, continue para além desta época sem ganhar.



Tem a palavra Jorge Jesus.



P.S. Pelo que li ontem, Jesus pediu a Vieira para não mexer em Matic e Enzo Perez. A ser verdade faz bem. Ele sabe da importância que tiveram e voltar a reconstruir nesta altura é mais uma dificuldade. Será o dinheiro mais uma vez a decidir.