«Podemos dizer que, pelo número de medalhas, ele é o mais bem-sucedido. O meu ponto de vista é o de que não tenho a certeza de que Phelps seja o maior»

A frase de Sebastian Coe, presidente do Comité organizador dos Jogos de 2012, e ele próprio bicampeão olímpico, promete alimentar polémica nos próximos dias, mas relança um tema que a conquista da 19ª medalha pelo nadador norte-americano torna mais atual do que nunca. «Isto é a conversa de café global do momento - quem é o maior atleta olímpico de todos os tempos? É evidente que ele ganhou 19 medalhas, mas se é o maior, não sei. Está lá em cima, mas, na minha opinião, provavelmente, não é», frisou o antigo campeão de 1500 metros.

É indiscutível que o novo recorde absoluto de medalhas conquistadas (e 15 delas valeram títulos olímpicos) deixa Phelps numa posição de destaque ainda maior, entre as lendas dos Jogos Olímpicos. Mas também é um facto que a história olímpica não se limita a um exercício de contabilidade. O contexto histórico e o dramatismo das histórias pessoais podem fazer com que campeões com menor número de conquistas estejam mais perto da imortalidade do que autênticos colecionadores de medalhas.

Eis oito nomes que podem ajudar aos que partilham a teoria de Sebastian Coe, segundo a qual o número de medalhas não é o único critério para avaliar a grandeza de um campeão olímpico:

Jesse Owens (EUA, 1936)- quatro medalhas de ouro no atletismo (100, 200, comprimento e estafeta), nos jogos de Berlim, marcados pelo clima de glorificação ao nazismo. O facto de ser negro foi a mais eloquente das bofestadas ao regime de Hitler. Ninguém sabe quantas medalhas mais teria conquistado se tivesse havido Jogos em 1940 e 44.

Larissa Latynina (URSS, 1956, 60 e 64)- Como praticante, conseguiu 18 medalhas nos concursos de ginástica em três Olimpíadas, nove das quais de ouro. Depois de abandonar a competição, tornou-se treinadora e levou as suas ginastas ao ouro nas três edições seguintes dos Jogos.

Carl Lewis (EUA, 1984, 88, 92 e 96)- Saltou e correu para a glória em 1984, igualando a quádrupla proeza de Owens, num contexto mais fácil, e sem a concorrência do bloco Leste. Mas calou as críticas em mais três edições dos Jogos, com um total de dez medalhas, nove delas de ouro, e quatro títulos consecutivos no salto em comprimento.

Fanny Blankers-Koen (Holanda, 1948)- Já com 30 anos, e mãe de dois filhos, a atleta holandesa conquistou quatro títulos olímpicos (100, 200 metros, barreiras e estafetas) nos primeiros Jogos depois da II Guerra. E só não ganhou mais dois porque o comité olímpico não autorizou a sua participação no salto em altura e no comprimento, provas em que era recordista mundial.

Paavo Nurmi (Finlândia, 1920, 24 e 28)- considerado o maior fundista da história, o finlandês deteve 22 recordes mundiais, entre as distâncias de 1500 metros e 20 quilómetros , e conquistou 12 medalhas em três edições dos Jogos, nove delas de ouro.

Brigit Fischer (RDA e Alemanha, 1980 a 2004)- nome mítico da canoagem, conquistou oito medalhas em seis edições de Jogos Olímpicos, em representação de dois países num período de24 anos. Poderia ter mais, não fosse a ausência por razões políticas nos jogos de Los Angeles, em 1984.

Nadia Comaneci (Roménia, 1976 e 1980)- um dos grande ícones do olimpismo, não tanto pelas nove medalhas (cinco de ouro) conquistadas em duas edições dos Jogos, mas pelo facto de ter sido, com apenas 14 anos, a primeira ginasta da história dos Jogos a obter a mítica nota perfeita, 10.

Mark Spitz (EUA, 1972)- 36 anos antes de Michael Phelps conseguir oito títulos olímpicos, o nadador de bigode tornou-se uma estrela mundial com sete títulos na piscina de Munique. E com um registo que dificilmente virá a ser batido: fixou recordes mundiais em todas as provas!