Se os jogadores são alguns dos elementos que mais criticam as arbitragens, também podem ser eles aqueles que mais os podem ajudar na sua tarefa em campo. Talvez por isso, Ricardo e Sá Pinto, do Sporting, assim como alguns jogadores do Belenenses, fizeram questão de marcar presença no lançamento do livro do antigo juiz Jorge Coroado, «Último cartão».
Uma homenagem que levou a uma troca de cumprimentos e à abertura do livro de memórias ou mesmo de uma parte do livro do antigo árbitro. Coroado explicou que quis que os dois jogadores do Sporting estivessem presentes por fazerem parte de momentos da sua carreira. Ricardo «porque foi expulso indevidamente em Campo Maior» e Sá Pinto por «numa fase complicada, com o caso Caniggia, em 1995, foi o único a assumir que testemunhava pelo árbitro».
Ricardo: «Senhor Jorge, equivocou-se»
O guarda-redes leonino disse estar «curioso para ler este livro porque poderá ser um marco histórico» e recordou histórias antigas: «Expulsou-me duas vezes, uma injustamente. Foi um lance ríspido sobre um jogador que ia isolado. Antecipei-me, e se não tivesse caneleiras de carbono tinha uma perna partida, de certeza absoluta... Qual não foi o meu espanto quando me levantei e tinha o cartão vermelho. A única coisa que disse foi: «Senhor Jorge equivocou-se. Não era eu que devia ser expulso, era o outro. Mas já está...» Foi só isso. Não guardo qualquer rancor. Na altura fiquei triste. Isso acontece quando não temos a culpa e nos prejudicam, mas sei que não foi propositado.»
Confessando-se um admirador de Jorge Coroado, dentro e fora dos campos, Ricardo lá foi dizendo que gostaria de ver mais juízes com a personalidade do antigo árbitro: «Marca a arbitragem pela positiva. Com os erros inerentes a qualquer profissão, foi um homem que sempre batalhou para que a arbitragem fosse a melhor possível. Em pequeno tive o privilégio de estar num jogo apitado por um árbitro também muito conhecido pela sua atitude em campo, que era o Veiga Trigo. A seguir a esse árbitro, um dos que mais me marcou foi, sem dúvida, o Jorge.»
O único vermelho de Marco Aurélio: «Cumpri dois jogos por causa dele»
Já Marco Aurélio, guarda-redes do Belenenses, recorda que a única cartolina vermelha que viu no seu percurso como jogador saiu do bolso de Jorge Coroado: «Foi o único árbitro que me mostrou um cartão vermelho em toda a minha carreira, no Paços de Ferreira-Belenenses. Por isso, de certa maneira, marcou a minha carreira. Na minha opinião não foi justo, mas ele teve uma interpretação diferente. Tive de aceitar e não interferiu em nada na nossa amizade. Foi um lance em que a bola foi cruzada para a área e eu sai com o pé à frente, para me proteger, e ele achou que levantei demasiado o pé. Mostrou-me o vermelho, já no final do jogo. Tive de cumprir dois jogos por causa dele.»
Coroado: «Não é um livro simpático...»
Jorge Coroado, que lá lançou que é «antipático», não deixou de sorrir perante a presença de muitos amigos e conhecidos ¿ Dias Ferreira, Humberto Coelho, Álvaro Magalhães, João Alves, José Capristano, Amândio Carvalho (FPF), Ricardo, Sá Pinto, Tuck, Sousa, Marco Aurélio e Rui Ferreira, entre outros. «Não é um livro simpático, é um livro real», é a forma como caracteriza tudo o que preenche as páginas de «Último cartão». O resultado não de uma «vontade própria», mas da «imposição» de dois amigos, Luís Miguel Pereira e Jorge Baptista.
Embora fale de aspectos pouco positivos da arbitragem em algumas passagens do livro, Coroado acredita que o futuro possa ser «mais limpo» e até acha que houve melhorias: «A arbitragem mudou. As coisas estão sempre a evoluir e há coisas que estão bem melhores. A arbitragem na prática directa, se calhar, não está melhor. Mas não é só em Portugal. Nota-se até a nível internacional uma carência de valores.»