Chegados ao fim da maratona de 34 jornadas iniciada a 10 de Agosto de 2018 o Sport Lisboa e Benfica arrecada o 37º título do seu historial. O grande objectivo delineado por Luís Filipe Vieira e a “estrutura” foi cumprido, com 2 pontos de vantagem sobre o último campeão, o Futebol Clube do Porto.

E isto numa época em tudo invulgar, com uma mudança de treinador (Rui Vitória passou a pasta a Bruno Lage no início de 2019, depois de uma ameaça de mudança semanas antes, travada pelo próprio Vieira) e uma segunda volta a todos os níveis de excelência.

A derrota em Portimão ditou a mudança no comando técnico e foi a última que o Benfica sofreu esta temporada… a partir daí foram 19 jogos em que os 100% de eficácia só não foram conseguidos porque os encarnados empataram com o Belenenses SAD logo após o decisivo triunfo no Dragão. De resto, foram 19 os jogos sem perder e com a melhor série de vitórias da época, nove em duas ocasiões, só interrompidas por esse empate com os azuis, ainda para mais em pleno Estádio da Luz e depois da equipa estar a vencer por 2-0.

Com Bruno Lage como líder do grupo o Benfica conseguiu um histórico registo de eficácia de quase 95%, com 49 pontos conquistados, ultrapassando o registo de Jimmy Hagan.

Bruno Lage igualou igualmente o feito de Sven-Goran Eriksson, pois o treinador sueco fora, em 1990/91, o único até agora a vencer fora os rivais FC Porto, Sporting e SC Braga na mesma época.

2018/2019 fica igualmente marcada pelo número de golos que o novo campeão conseguiu, 103 em 34 jornadas, o que passou a ser o melhor registo da equipa no Campeonato Nacional com uma média superior a 3 golos por jogo.

Impressionante? Sem dúvida.

O Benfica sagra-se campeão com o melhor ataque da prova, a segunda defesa menos batida e o melhor marcador da Liga, o suíço Seferovic.

O FC Porto não mostrou igual consistência e acima de tudo, parece-me, a confiança suficiente para ter argumentos de forma a revalidar o título.

Luís Filipe Vieira tem, obviamente, uma importante quota-parte neste feito, já que, depois da aposta em jogadores formados na Academia do Benfica, decidiu apostar tudo num treinador da casa, “made in Seixal”.

E com sucesso. Bruno Lage introduziu no jogo dos encarnados uma nova tática, rentabilizou recursos que não estavam a atingir os patamares pretendidos com Rui Vitória (basta olhar para Samaris, Seferovic e acima de tudo João Félix, estes dois a demonstrarem um entendimento fora do normal) e acima de tudo trouxe uma linguagem mais ao alcance dos comuns mortais. Sem dúvida que isto aproximou os adeptos da equipa, as estrelas dos que enchem os estádios e na maratona os planos de Lage, jogo a jogo materializaram-se num título que os benfiquistas apelidaram de “Reconquista”. No final, não foi preciso o sprint com a meta à vista, bastou a uma equipa que chegou a estar a 7 pontos do FC Porto manter um nível exibicional e de concretização como há muito não se via.

O título é do Benfica, dos benfiquistas, dos jogadores e todo o staff e pelo que se viu, o clube está a criar as condições para que volte mais vezes a encher o Marquês de Pombal com uma maré vermelha de fazer inveja. Não é assim de admirar que os adeptos se identifiquem cada vez mais com a equipa e a sigam, vá por onde vá. Ficou o sabor amargo das competições europeias onde o Benfica queria acima de tudo mostrar que os resultados da época passada foram um autêntico “erro de casting”, mas de resto, a nível nacional o principal foi alcançado: um título é um título, e isso sim, arrasta multidões.

P.S.: e sim, concordo com Bruno Lage e com o que o treinador do Benfica disse quando usou da palavra no palco dos festejos do 37.

O futebol é o futebol e há coisas mais importantes na nossa sociedade.

Se os portugueses se unissem e demonstrassem a força e a exigência que demonstram no futebol noutros aspectos como a economia, a saúde ou a educação, quem sabe se não seríamos um país bem melhor.

Bem melhor e onde o respeito pelos adversários devia ser sempre um factor essencial no jogo.

«Jogo alto» é um espaço de opinião de Pedro Ramalho, jornalista da TVI, que escreve neste espaço às quartas-feiras de três em três semanas. O autor, por opção própria, não adopta o novo acordo ortográfico nos seus artigos