Paulo Bento termina contrato com o Sporting no final da presente temporada. Com Soares Franco de saída, que caminho deverá escolher o treinador? E o clube? Vítor Hugo Alvarenga defende uma situação de ruptura entre as partes, Pedro Jorge da Cunha opta pela continuidade:

1. Tempo
Acusação (VHA): Ponto prévio. Paulo Bento é, considero, um bom treinador. Tem margem para ser ainda melhor. Mas não no Sporting. O jovem treinador pegou na equipa em 2005, venceu Taças de Portugal e Supertaças, mas não conseguiu colocar os leões no patamar mais alto da Liga portuguesa. Três anos e meio depois, torna-se evidente que as partes terão sempre a beneficiar com o final de ciclo.

Defesa (PJC): A 25 de Outubro de 2005 o Sporting iniciou o ciclo-Paulo Bento. Três anos e quatro meses depois, o saldo só pode ser positivo: seis taças conquistadas, estabilidade na forma de pensar e idealizar o futebol, critério na hora de fazer escolhas e exigência na relação com o grupo de trabalho. Falta um campeonato mas dos três grandes o Sporting é o que tem o orçamento mais baixo. A equipa, porém, está pela primeira vez nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Em resumo, com Bento o Sporting continuará a ter ideias claras e assumidas. No futebol moderno, tal não é despiciendo.
2. Margem de manobra
Acusação (VHA): Paulo Bento tem, nesta altura, uma margem de manobra reduzida no Sporting. Prepara-se para perder o apoio presidencial de Soares Franco, não sabendo quem virá a seguir. Optou, e bem, por evitar as conversações para a renovação de contrato face a essa incerteza quanto ao futuro próximo. Fê-lo, antes de mais, para salvaguardar a liberdade de escolha do futuro presidente. Por outro lado, o treinador sempre gostou de trabalhar com poderes totais em relação à gestão do grupo. Assumiu esse papel e desgastou a sua imagem junto dos adeptos do Sporting, enfrentando crescente contestação. Tem pouca margem para continuar a liderar sem interferências.

Defesa (PJC): Antes de mais, Paulo Bento tem gerido na perfeição a sua situação depois de saber que Soares Franco não continuará. Anunciou aguardar quem será o próximo presidente e apenas depois se pronunciará sobre o futuro. Só lhe fica bem. Seja quem for o novo líder, parece-me que só pode optar por estreitar laços com o treinador. A tal margem de manobra está dependente daquilo que a futura direcção pretender. E se a sua pretensão for manter Bento, não será pela contestação da massa adepta que o técnico sairá. A esmagadora maioria dos aficionados leoninos está claramente com e por Paulo Bento.

3. Progressão
Acusação (VHA): Paulo Bento precisa de progredir. O Sporting também. Nesta altura, começo a acreditar que será difícil verificar-se uma evolução das partes lado a lado, no mesmo barco. A fórmula do jovem treinador parece desgastada para a realidade do clube leonino. Em surdina, multiplicam-se os focos de contestação a cada atitude mais radical de Paulo Bento. Pois bem, como em qualquer relação, a separação é a melhor alternativa. Bento poderá demonstrar o seu valor e crescer noutro ambiente e o Sporting poderá evoluir dentro de uma nova perspectiva, um novo rumo.
Defesa (PJC): Paulo Bento está bem dentro do seu prazo de validade em Alvalade. Olhemos para Alex Ferguson no ManUtd, ele que é apontado invariavelmente como o melhor exemplo de longevidade e fidelidade na relação com um clube. Ferguson chegou a Old Trafford no Verão de 1986 e só sete anos depois conquistou o primeiro campeonato (1992/93). Haja paciência, haja crença nas convicções de Paulo Bento. O Sporting só tem a ganhar. E talvez nem seja preciso esperar sete anos para voltar a acabar a Liga no primeiro posto.

«Jogo de opostos» é um espaço de debate semanal entre dois jornalistas do Maisfutebol, Pedro Jorge da Cunha e Vítor Hugo Alvarenga.