A introdução de novas tecnologias no futebol continua na ordem do dia. Pedro Jorge da Cunha critica o actual cenário e defende a mudança, enquanto Vítor Hugo Alvarenga desconfia das alterações propostas. O leitor decide:
1. Verdade desportiva
Defesa (PJC): É o argumento óbvio: não desvirtuar a verdade desportiva. Quantos mais erros terão de ser cometidos para se perceber, de uma vez por todas, que todos esses lapsos podem ser evitados e corrigidos? Há quantos anos se problematiza o lance da bola que passa a linha de golo que nenhum dos árbitros vê? Esta é apenas uma das jogadas problemáticas que poderia ser resolvida. Bastaria que os legisladores aceitassem a implantação dos novos métodos de diagnóstico.

Acusação (VHA): Não sou avesso a mudanças nem à evolução, mas acredito sinceramente que estaremos a caminhar para a desvirtuação progressiva do jogo, a cada voto a favor da introdução de novas tecnologias. A bola de futebol, cada vez mais sujeita a efeitos perversos, é apenas um exemplo. A verdade desportiva não está nos mecanismos nem nas regras, mas sim nas pessoas. Essas continuarão a ser necessárias e consequentemente falíveis.
2. Atenuar a suspeição
Defesa (PJC): Por muito que a direcção da Liga e da Comissão de Arbitragem façam, a suspeição vai continuar a morar no futebol. O público não perdoa o erro humano e não raras vezes atribui-o a uma qualquer limitação consciente ou inconsciente. Para que essa suspeição desapareça, ou pelo menos seja atenuada, é imperioso a aposta nas novas tecnologias. Para que o bom ambiente a que assistimos nos jogos de ténis e de rugby, por exemplo, possa ser transposto para o futebol.
Acusação (VHA): Importa, nesta altura, separar as águas. Na prática, a única tecnologia incontestável seria o chip na bola. Já descontando os totalitários da praxe. Colocar um árbitro na linha lateral ou num canto do estádio a acompanhar o jogo por um circuito de vídeo levanta outras questões, no que toca à suspeição. Esse árbitro será melhor que os outros? As imagens, as tais repetições, apresentarão os ângulos desejados, ou estarão sujeitas à vontade de terceiros? Serão apenas mais variantes para um problema que irá sempre acompanhar o futebol.
3. Vontade popular
Defesa (PJC): Naturalmente, o enquadramento prático da aplicação das novas tecnologias terá de ser muito bem estudado. Perceber como e quando se deve interromper o jogo, por exemplo. De qualquer forma, mesmo com estes detalhes por alinhavar, a vontade popular é clara: o desporto-rei necessita do auxílio da tecnologia. As sondagens, publicadas recentemente num programa de debate da RTP, não deixam margem para dúvidas e atiram para os 90% o número de inquiridos a sublinhar esta necessidade. O futebol vive de povo e para o povo.
Acusação (VHA): O povo sabe que algo está mal e precisa de ser alterado, mas nem sempre deve ser o povo a mais ordenar. Teríamos chicotadas psicológicas de mês a mês e substituições de dez em dez minutos. Não é por aí. Introduzir novas tecnologias sem reflexão profunda e prévia será abrir uma porta que dificilmente se fechará. O rugby tem bom ambiente? Sem dúvida, mas o jogo pára em demasia. Fala-se no recurso ao vídeo e imagino a sequência: ah, só mesmo para lances capitais. Não, para os foras-de-jogo também era preciso. E para aqueles livres frontais. Já agora, para os outros também. E aquele lançamento, era mesmo para que lado? O jogo acabaria a que horas?
«Jogo de opostos» é um espaço de debate semanal sobre temas da actualidade desportiva, entre dois jornalistas do Maisfutebol, Pedro Jorge da Cunha e Vítor Hugo Alvarenga.