Tottenham-Chelsea, 5-3 (1 de janeiro)


E 2015 começou a todo o vapor, pelo menos na Premier League. No dérbi de Londres marcado para o primeiro dia do ano, o Chelsea, que era líder isolado, começou por dominar a primeira meia hora, adiantando-se no marcador por Diego Costa. Mas três golos de rajada, em cima do intervalo, fizeram mudar o ascendente, com Harry Kane a transformar-se em protagonista com um biws e mais uma assistência. Os blues reagiram, mas já só conseguiram evitar a goleada.

A derrota não desviou a equipa de Mourinho da caminhada para o título, pelo contrário: só voltaria a perder para a Liga em maio, já com o campeonato no bolso. Mas sabendo o que o final de ano tinha reservado para a equipa e o seu treinador, é legítimo questionar se os cinco golos sofridos em White Hart Lane, mais os quatro sofridos em casa, diante do Bradford, três semanas mais tarde, não foram os primeiros sintomas de um descalabro cuja dimensão, por esta altura, ninguém estaria sequer perto de imaginar.

Barcelona-Bayern Munique, 3-0 (6 de maio)


O regresso de Guardiola ao Camp Nou, como adversário, foi a noite em que a criatura deu razão ao seu criador. Fiel aos seus princípios, o técnico catalão pôs o Bayern a defender com bola, retirando ao Barcelona muita da capacidade para desequilibrar através da circulação. Muita, mas não toda. Porque a consistência de ideias coletivas é só uma parte do plano, quando do outro lado há talentos da dimensão de Messi.

O argentino esteve manietado até aos 77 minutos, altura em que descobriu uma nesga de espaço para bater Neuer, com um remate de fora da área. A partir daí, o debate tático transformou-se em recital de génio, com o drible mais emblemático do ano a ter Boateng como vítima.



Nos descontos, a assistência de Messi para o 3-0, de Neymar, fechou a discussão da eliminatória e resumiu o futebol à sua expressão mais simples, anunciada por Guardiola na véspera: «Quando Messi está inspirado, não há forma de o parar». Quod Erat Demonstrandum.

Chile-México, 3-3 (16 de junho)


A primeira vitória do Chile numa centenária Copa América – que os adeptos portugueses puderam acompanhar em sinal aberto na TVI e online, na TVI Player - foi, é verdade, muito apoiada nas vantagens de jogar em casa. Mas seria injusto retirar mérito a uma fantástica geração de jogadores, liderada por Vidal e Alexis Sanchez e enquadrada por um treinador – Jorge Sampaoli - de competência à prova de bala.

Diante da oposição de um Brasil em eclipse, de um Uruguai consistente mas envelhecido, e de um Argentina forte, mas inferior a soma dos seus talentos, a consagração chilena foi-se construindo em crescendo, tendo este momento de grande espectacularidade na fase de grupos. Num jogo de alta votagem, Valdivia empunhou a batuta e Vidal alimentou o motor da roja. Os chilenos recuperaram de duas situações de desvantagem numa primeira parte com quatro golos, deram a volta no segundo tempo e acabaram por consentir o justo empate a uma tricolor que tinha no seu onze dois futuros reforços da Liga portuguesa, Jiménez (Benfica) e Corona (FC Porto).

Recorde os momentos mais marcantes de um jogo apaixonante.

Portugal-Alemanha sub-21, 5-0 (27 de junho)


Num ano em que a seleção principal cumpriu a parte final da caminhada para o Euro 2016 com passos seguros e sem grandes entusiasmos, um dos principais temas de conversa foi a gradual renovação do grupo comandado por Fernando Santos. E a validade de algumas alternativas foi confirmada ao longo de um Europeu de sub-21 que pôs os portugueses a olhar, com orgulho e otimismo, para aquele grupo de miúdos, bem comandado por Rui Jorge.

Nem a deceção da final perdida nos penáltis, com a Suécia, apaga a certeza de que o futebol português está bem servido de talentos, e que vários deles – William, Raphael Guerreiro, João Mário, Bernardo Silva, Rúben Neves, para falarmos apenas nos que estiveram na Rep. Checa – estão prontos para o mais alto nível.

Se dúvidas houvesse, bastaria recordar o vendaval de Olomuc, onde a seleção alemã foi destroçada pela magia de Bernardo e companhia, com três golos na primeira parte e mais dois na segunda. Todos eles bonitos, coletivos, e com autores diferentes, em mais um sublinhado da qualidade do grupo. Recorde-os aqui.

Barcelona-Sevilha, 5-4 (11 de agosto)


Apesar de ter ganho campeonato e Liga dos Campeões na época de estreia, Luis Enrique ainda não tinha acabado de convencer os exigentes adeptos do Barcelona. E o primeiro jogo oficial da época 2015/16 não ajudou a que isso acontecesse: em Tbilisi, na decisão da Supertaça, os catalães viram-se a perder com o Sevilha, devido a um golo logo aos 3 minutos. Pior ainda: depois de irem a despacho, com Messi a brilhar, deixaram fugir uma vantagem de três golos (de 4-1 para 4-4) dando sinais de uma instabilidade defensiva que seria confirmada três dias mais tarde, na goleada (4-0) sofrida em Bilbau.

Para a história, entretanto, ficou mais um troféu para os culés, num ano dourado que viria a ser fechado com o Mundial de clubes. E isto graças a um golo no prolongamento de Pedro, o papa-finais, de saída para o Chelsea. O nono golo numa decisão louca, com o português Beto como testemunha impotente na baliza dos andaluzes.

Bayern Munique-Wolfsburgo, 5-1 (22 de setembro)


Podíamos ter escolhido os 5-1 ao Borussia Dortmund, apenas 12 dias depois. Ou os 5-1 ao Arsenal, cinco semanas mais tarde. Mas embora esses resultados também sirvam para sublinhar a consistência goleadora de um Bayern - que passou boa parte de 2015 a atropelar a concorrência interna e externa - nenhum deles tem o rótulo de missão impossível colado pela proeza de Robert Lewandowski.

Com o Wolfsburgo em vantagem, após uma primeira parte (relativamente) equilibrada, Guardiola decidiu mexer ao intervalo, trocando Bernat e Thiago Alcântara por Javi Martinez e Lewandowski. Com o polaco como referência na frente, as movimentações de Götze, Müller e Douglas Costa ganharam outra objetividade: bastaram seis minutos para o primeiro golo, sete para o segundo, dez para o terceiro e 12 para o quarto.

Não, não acabou aí: aos 60 minutos, apenas um quarto de hora depois de ter entrado em campo, Lewandowski marcou o quinto golo da sua equipa, e o seu quinto golo da tarde. Passaram apenas oito minutos e 59 segundos do primeiro ao quinto: um recorde para durar, em nome próprio – que não apaga a imponência coletiva de uma máquina de futebol de ataque, vencedora de 40 dos seus 53 jogos oficiais em 2015 (75%).

Inter-Fiorentina, 1-4 (27 de setembro)


Tudo menos pacífica, a chegada de Paulo Sousa ao comando da Fiorentina foi sublinhada, em junho, por alguns
graffiti ofensivos
deixados pelos ultras do clube nas paredes do estádio. Mas o sensacional início de temporada dos viola
e a qualidade do jogo praticamente rapidamente calaram as críticas.

Na sequência de um inesperado colapso da Juventus, no arranque da Série A, abriram-se vagas para candidaturas ao título e a nova Fiorentina, com quatro vitórias nas primeiras cinco jornadas, foi a jogo. Faltava-lhe, porém, um teste de fogo: a visita ao terreno do líder, o Inter, que só com vitórias assinava o melhor arranque em muitos anos. Um recital de contra-ataque de Ilicic, Borja Valero e companhia, coroado com três golos nos primeiros 25 minutos e um hat-trick de Kalinic, ditou uma vitória estrondosa e confirmou Paulo Sousa como nome de primeiro plano no calcio
, estatuto que mantém intacto à entrada para 2016.

Holanda-Rep. Checa, 2-3 (13 de outubro)



A ausência da Holanda da fase final do Europeu, pela primeira vez alargada para 24 seleções, foi um dos maiores escândalos nos 56 anos de história da competição. Num formato que apurava diretamente os dois primeiros e em que o terceiro ainda ia ao play-off, os holandeses, terceiros no último Mundial, conseguiram terminar numa embaraçosa quarta posição, perdendo metade dos jogos efetuados.

A agonia foi lenta e penosa, e teve desenlace num dos jogos mais bizarros de 2015: obrigada a ganhar, a laranja entregou dois golos de avanço na primeira parte. Depois, já com a Rep. Checa reduzida a dez, o veterano Van Persie saiu do banco para assinar o 0-3, com um dos autogolos do ano, acentuando um descalabro que só foi aligeirado nos 20 minutos finais, com dois golos que não mudaram esta história.




Real Madrid-Barcelona, 0-4 (21 de novembro)



Num jogo ainda marcado pelo impacto emocional dos atentados de Paris, a dúvida de partida passava por saber se Benzema e Messi estariam de volta aos onzes iniciais das respetivas equipas. A resposta foi afirmativa para o francês, negativa para o argentino, que começou no banco, ao fim de uma ausência de quase dois meses. Mas não foi preciso o efeito Messi para o Barcelona, com Neymar, Suarez e Iniesta em estado de graça, dar início a uma Real demolição, que chegou a ter contornos de enxovalho.

Fragilizando – de forma irremediável – o estatuto de Rafa Benitez junto dos seus adeptos, os catalães marcaram cedo (Suarez), ampliaram antes do intervalo (Neymar) e prosseguiram o festival com mais dois golos na segunda parte (Iniesta e Suarez), o último dos quais já com participação brilhante do regressado Messi. Quem viu não esquece, tanto mais que o Barcelona ficou a dever a si próprio mais um ou dois golos nos minutos finais, perante uma armada blanca
completamente à deriva.

Sp. Braga-Sporting, 4-3 (16 de dezembro)



Se considerarmos a abundância de golos e a emoção como critérios para definir um jogo marcante, é justo reconhecer que no topo da lista das provas domésticas estão dois embates entre Sp. Braga e Sporting. Mas a final da Taça, a 31 de maio, foi uma partida entre duas equipas cansadas, e em que a qualidade não andou a par da emoção: valeu pela incerteza, pela reviravolta nos minutos finais e pelo drama dos penaltis.

Já o embate de final de ano, que ditou a primeira derrota caseira dos leões em nove meses, foi um clássico imediato – intenso, equilibrado, bem jogado, com fases alternadas de domínio, sete marcadores, três reviravoltas (!), erros de arbitragem e um improvável Tom Cruise a sair do banco para resolver. Poucas vezes o lugar-comum «ninguém merecia perder» fez tanto sentido como neste jogo.