Ler a primeira parte da biografia

No ano seguinte, foi uma das figuras de destaque da selecção holandesa no Mundial de 1974, realizado na Alemanha. Figura de referência de uma equipa eternizada com a alcunha de «laranja mecânica», Cruijff totalizou 48 internacionalizações e 33 golos com o número 14 nas costas. Um número que poderia ter sido substancialmente mais impressionante, não se desse o caso de o seu temperamento difícil e reivindicativo o ter feito entrar, por diversas vezes, em rota de colisão com a Federação holandesa.

Quatro anos mais tarde, estrela consagrada em Barcelona e massacrada pelo agressivo futebol espanhol da época, Johan Cruijff recusou-se a vestir a camisola da Holanda no Mundial de 1978, realizado na Argentina, alegando razões políticas. Nesse mesmo ano, o ingresso no exílio dourado do futebol norte-americano parecia marcar a renúncia à alta-roda. A carteira falou mais alto, disseram então os seus detratores.

Com uma carreira de grande sucesso, rapidamente Cruijff se deixou seduzir pelo poder do dinheiro. Chocou muitos dos seus fãs quando começou a cobrar dinheiro por entrevistas ou um simples autógrafo. Mas as exibições dentro de campo faziam esquecer quase tudo... Durante os 90 minutos, Johan Cruijff demonstrava grande inteligência e rapidez nos lances que chegavam aos seus pés, sendo elogiado pela sua excelente visão de jogo.

Mas depois de desaparecido nos States durante três anos Cruijff ensaiou um tímido regresso, primeiro nos espanhóis do Levante (II Divisão). Já bem encaminhado nos 30 anos voltou depois ao Ajax, primeiro como diretor-desportivo, depois ensaiando um inesperado e retumbante regresso aos relvados. Uma última zanga com os responsáveis do clube fê-lo terminar a carreira com um último golpe de temperamento, defendendo as cores do arqui-rival Feyenoord, aos 37 anos, na última época da sua carreira.

Mas o percurso de Cruijff no mundo do futebol não ficou por aqui. A 4 de Maio de 1988 assinou contrato com o Barcelona, iniciando a construção do Dream Team. A equipa imaginada pelo holandês concretizou-se no início da década de 90, resultando na conquista da primeira Taça dos Campeões do clube catalão e no domínio permamente da Liga espanhola. O lado estético do sucesso criou uma revolução de ideias no futebol espanhol e europeu: o estilo idealizado por Cruijff tornou-se, mais do que um simples desporto... um verdadeiro espetáculo.

Com esta equipa conquistou quatro campeonatos de Espanha, três supertaças, uma Taça do Rei, uma taça e uma supertaça europeias, graças a figuras como Ronald Koeman, Michael Laudrup, Stoichkov, Hagi, Zubizarreta e Romário, que interpretaram da melhor forma os conceitos dinâmicos e ousados do treinador.

Mas a personalidade forte não lhe permitia assentar. Após sucessivos choques com o presidente Nuñez, a época 1995/96 - em que o português Luís Figo entrou no clube catalão - marcou a saída de Cruijff do comando técnico do Barça, abandonando o clube na penúltima jornada do Campeonato e deixando a equipa em quarto lugar, sem vencer qualquer título.

Desde então, não voltou a sentar-se no banco (excluindo a passagem pela Seleção da Catalunha), limitando-se a exercer os seus talentos de opinion-maker em intervenções públicas e artigos nos media que deixam sempre pistas e interrogações sobre os caminhos do futebol. Considerado o segundo melhor jogador do mundo de todos os tempos pela IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol) - logo a seguir a Pelé -, Johan Cruijff acumulou prémios das mais diversas proveniência, entre os quais se destaca o de melhor jogador europeu do século, atribuído em 1999. Para a história fica a magia, rapidez, habilidade e inteligência... de um grande jogador e teórico do futebol do séc. XX.