Um dos episódios, mais um, que eternizou o carisma de Jorge Costa aconteceu em Belém, em Fevereiro de 2003, na caminhada para o primeiro título depois de Octávio Machado, num jogo que o F.C. Porto venceu depois de ter saído em desvantagem para o balneário. Verona marcara aos dezasseis minutos para o Belenenses, mas o capitão, numa segunda parte portista estonteante, deu a volta ao resultado em três minutos, aos 49 e aos 52. Alenitchev, a um minuto do fim, estabeleceu o resultado final.
Durante muito tempo este foi apenas mais um jogo, até que José Mourinho o mitificou no primeiro «José Mourinho, um ciclo de vitórias». Conta o antigo treinador que, depois de uma primeira parte decepcionante, o capitão chegou ao balneário e impôs toda a sua autoridade sobre os colegas. Que a atitude inicial tinha sido uma vergonha e que se não ganhassem aquele jogo ele abandonava a carreira. O certo é que a atitude portista na segunda parte foi completamente diferente. Jorge Costa bisou e o F.C. Porto venceu.
Mourinho acrescentou ainda depois que ninguém mais que o central merecia aqueles dois golos. Marco Ferreira fez parte desse episódio, naquela que foi a estreia de azul e branco, e diz que ficou impressionado com a forma como o capitão se impôs. «Ele é fantástico», conta. «Como capitão consegue ter um impacto muito grande junto de toda a gente. Em conversa como os meus colegas até digo que o que ele diz vale como uma escritura». Naquele jogo, recorda, «disse não estar a sentir os jogadores com vontade de ganhar». «Ele dizia várias vezes que para ser jogar no F.C. Porto tem de se ter espírito de campeão. As coisas podem não correr bem, mas é obrigatório correr até ao fim e fazer tudo que fosse humanamente possível para ganhar os jogos».
O que mais impressionava Marco Ferreira era que o exemplo de Jorge Costa acabava por chegar mais das atitudes do que das palavras. A forma como o capitão se comportava deixou marcas no extremo. «Esse homem foi o companheiro que mais me marcou», disse imediatamente depois de atender o telefone. «Morávamos um ao lado do outro e íamos sempre juntos para o treino. Eu ia no carro e notava que ele andava com uma alegria terrível por o F.C. Porto estar ganhar. Lembro-me que ainda antes do jogo com o Manchester me disse que estava convicto que íamos ganhar a Liga dos Campeões. Quando apenas o mais sonhador podia imaginar que o F.C. Porto ia ser campeão europeu, ele dizia que tenha plena confiança que ia sê-lo. Dizia que sentia o clube, a equipa técnica, o grupo de trabalho muito fortes. E andava feliz da vida».