Mergulhado na bruma do desespero, num presente anacrónico, o Boavista agoniza. Os axadrezados só poderão sobreviver se a ajuda chegar depressa ao Bessa. Em entrevista ao Maisfutebol, o capitão Jorge Silva lava a alma e desabafa as dores que lhe apertam o coração.
Oito meses depois, está arrependido por ter regressado ao Boavista ou esta era mesmo uma causa que tinha de defender?
Arrependido nunca. Não estava à espera deste cenário, com tantas dificuldades, mas não estou arrependido. Estou aqui de corpo e alma. Sabia que era um projecto difícil, um projecto complicado, mas nas cinco jornadas que faltam tudo iremos fazer para deixarmos o Boavista na Liga de Honra. Depois, espero que alguém ajude esta instituição a sobreviver.
Quando saiu para o Beira Mar, em Janeiro de 2005, já sentia que algo deste género poderia vir a acontecer?
Sentíamos aqui e ali algumas dificuldades, mas sabíamos que eram inerentes à construção do estádio. A direcção alertava-nos para um ou outro atraso de 15 ou 20 dias no pagamento de salários, mas o clube sempre primou pelo cumprimento das suas obrigações. Nunca nos piores dos cenários me passou pela cabeça ver o Boavista assim nesta situação.
Porque decidiu voltar ao Boavista num ano tão ingrato como este?
Era uma ânsia. Sair daqui foi a pior decisão da minha carreira. Na altura não estava a ser opção e pedi ao técnico Jaime Pacheco e à direcção para sair. Apesar de ter gostado de representar o Beira Mar e o Feirense, senti que não tinha tomado a melhor opção, até porque fui algumas vezes ao banco nesses clubes. Não tive paciência para esperar e quando surgiu esta oportunidade, mesmo com todos os problemas inerentes à descida administrativa, o presidente Braga Júnior ligou-me e eu nem hesitei. Conhecia o momento do clube, mas não havia forma de recusar o Boavista.
Mesmo à distância foi mantendo contacto com as pessoas do clube?
Sim, a ligação foi sempre forte. Acompanhei com apreensão e tristeza o início e o avolumar dos problemas do Boavista, que culminaram no defeso passado com a descida.

Ao longo da temporada como tem sido o ambiente vivido pelos adeptos nas bancadas?
Muito bom. Tem sido uma surpresa a união entre todos os sócios. O primeiro jogo do ano, contra o Vizela, foi inesquecível, até por ser o meu primeiro com esta camisola depois do regresso. Mesmo fora de casa as pessoas acompanham-nos. Em Leiria estiveram muitos boavisteiros, por exemplo. Não tem sido por aí que o Boavista está em último.
Do antigo Boavista é essa alma que ainda resiste?
Essa alma, essa mística. O Boavista é um clube humilde, de gente trabalhadora, e é esse espírito que temos de encarnar nas cinco jornadas que faltam.
Costuma falar com antigos colegas seus, como o Petit ou Litos por exemplo, e falar sobre aquilo que se está a passar no clube?
Eles visitam-nos pois têm uma ligação forte a este emblema. Ainda recentemente veio cá o Timofte. Quando defrontámos o Benfica falei com o Nuno Gomes e não raras vezes falei com o Pedro Emanuel. Já pensámos em juntar os campeões de 2001, mas é um pouco complicado.